TECNOLOGIA EM FANTASMAS DO AMOR
A espera era uma eternidade. Os minutos arrastavam-se e seus seios rijos, agora livres do sufoco civilizado de suas roupas, apontavam para o teto, parecendo pequenos vulcões prontos para uma erupção. Suas mãos deslizavam pelo seu corpo e se alojavam entre suas pernas, deixando sua volúpia atingir níveis nunca antes experimentados. Arfava e gemia. Queria saber o porquê de tanta angústia. Desejava o contato. Seria uma escrava submissa. Entregar-se-ia em uma corrente de orgasmos infindos. A próxima fração de segundos. Odiava esta tecnologia mecânica do tempo. Estes barulhos cruéis que a lembravam que ele não pode ser comandado.
Crescia a expectativa e podia sentir seu útero em infames convulsões. Seus cabelos emaranhavam-se na ponta de seus dedos enquanto virava-se loucamente. Agora queria sentir a água de colônia ordinária, o calor de um corpo. Qualquer evidência, uma única vez. De repente, seus gemidos ficaram mais fortes. Quase gritava. Seus ruídos ultrapassaram as paredes do quarto, visitaram a sala de estar e a antiga galeria. Mais uma vez e mais uma vez e mais uma dúzia de vezes. Aquilo era a hipótese de um paraíso táctil. Não queria mais nada. Apenas a lucidez do prazer carnal. Sem sentimentos ou vergonha. Sem tabus ou regras. Apenas fantasmas que vinham lhe beijar os olhos enquanto que as dúvidas se dissipavam. Havia ruídos: músicas, sons, calafrios, uma cãibra que insistia em tentar tirá-la daquele cálice de delícias.
"Tu és minha virgem que passa em veloz carro prateado, eu sou um monstro vestido de preto, a escutar o que me diz.
Tu és minha virgem que passa em veloz carro prateado,
Eu sou um monstro vestido de preto, num ensaio de ser feliz!"
Agora as chamas cresciam dentro de si. visões, sentimentos, algumas considerações impróprias que teimavam em tentá-la a perder a concentração. Achou o seu mundo. Seus dedos roçavam sua pele em um ritmo que ia aumentando e que derrubava os portões de toda a decência. Era um frenesi de carne, um ranger de dentes, um ímpeto de busca solitária e, ao mesmo tempo, um encontro com algo místico. Estava nos céus de sua própria existência. Seu corpo se retorcia, os espasmos não lhe abandonavam e - vez por outra - algo tocava-lhe a alma.
Havia uma luz rósea que estava se transformando em vermelha. Um sentido intenso. Segurava os travesseiros, agarrava-se ao lençol como que buscando uma ligação com o mundo real. Seu universo derretia e toda a sua estrutura humana estava se desintegrando. Quase que numa fração de segundo, sentiu todo o universo tentando entrar em seu corpo. Um estado de onipresença que se aproximava acompanhado da maior sensação que já havia vivido.
Não era mais mulher. Era uma estrela, uma supernova irradiando energia ativa e incomensurável. Até que tudo explodiu e sua carne e ossos foram pulverizados. Estava em absoluta harmonia cósmica, o tempo-espaço não mais existiam. Sentiu-se flutuando entre átomos de algodão, entre estruturas moleculares doces e róseas, num éter infindo e dinâmico. A estática colidindo com a lógica e o abstrato tornando-se horizonte. Nas infinitas possibilidades, ainda conseguiu vislumbrar uma porta aberta e uma pequena sombra que se avolumava. Não havia anjos ou estranhos, mas alguns fantasmas que recolhiam suas partículas e as rearranjavam. Infindo e tênue, como que disposto a um misterioso plano etéreo, seus ínfimos fragmentos estavam se reagrupando em uma ordem desajeitada e prática.
O calor ainda existia. Já sentia seus ossos e músculos. Sua pele ardia em delírios febris. Pensou que passado e futuro estavam fundidos numa conjuntura que alguém, um dia, resolveu chamar de "presente". Tudo era de uma luminosidade ímpar. Algo delicioso que suas pupilas absorviam.
Quando o brilho intenso passou, pode retornar de seu desapego e abrir os olhos com extrema dificuldade. Estava abandonada, imprópria, destituída de todas as proporções e limites femininos. Suas defesas se desfizeram e, aos poucos, começa a entender novamente o sentido da existência.
Quando realmente despertou do transe, seu corpo doía. O lençol estava revirado e os travesseiros espalhados pelo quarto. Sentiu-se única e singela. Algo como um floco de neve procurando o solo como destino. Espreguiçou-se e sorriu atrevida. Nisto, um ruído arrebatou-a! Era o sinal da campainha da porta. Seu homem havia chegado. O conforto brotou-lhe dos poros e sua boca desenhou um longo arco. Afinal, a noite era dos amantes.
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