VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - ATÉ QUANDO?

Preocupada com o aumento desmedido de casos de violência doméstica – e não só! - volto a publicar, agora em formato prosa poética, um poema que escrevi em 1982, numa derradeira tentativa de chamar a atenção do Estado Português para a necessidade de criar planos para formar crianças a partir de uma base intrinsecamente extensiva à família, com consciência e organização cuidadosas. Dedico esta publicação a todas as pessoas vítimas de violência doméstica, as quais, por razões que só a elas dizem respeito, vivem amarradas à impossibilidade de se libertarem do sofrimento que as mantém caladas. Eu ainda não acredito no factor AMOR como justificação, um dos elementos que a vítima aponta, quando questionada. Haverá outros fortes motivos, para além do masoquismo, para que ela se deixe violentar por um ignóbil ser humano que faz do seu parceiro, ou parceira, um verdadeiro saco de pancadas que ele utiliza para libertar-se de traumas retidos na sua insana mente.

ATÉ QUANDO?

Faço parte desse teu imaginário. Para ti, não sou um ser... Eu sou um vulto bem escondido atrás dum cenário onde, covardemente, o manténs oculto. Tu nunca consideraste o meu direito à liberdade. Ignoras o respeito que me deves. Sou Mulher e sou pessoa. Tu não planeaste tudo isto à toa...
Não tolero a tua covardia, tanto insuportável, quanto infame! Tu geres sempre o meu dia-a-dia tentando protegeres-te do vexame de poderes vir a ser reconhecido. Tu és um ser que vive comprometido entre fazer bem e fazer muito mal. Tu és.... subtilmente... um anormal. Divides-te entre o bem que aparentas, e o insuportável mal que praticas. Satisfazes velhas ânsias sedentas de vingança e guerra, que exercitas provocando no meu ser um medo atroz. Impedida de erguer a minha voz, fizeste de mim a escrava desejada que amordaças, para manteres calada. E eu... - Deus meu! -  não posso fazer-te frente. És demasiado musculoso... forte! A minha grande fraqueza não consente arrojos, porque vive temendo a morte.

Até quando segue a lei, compactuante com este horror que continua actuante? Até ser tarde demais e deixar que eu sinta a liberdade morrer em mim... faminta?

©Maria Letra
1982-10-02

Submited by

Thursday, November 30, 2023 - 01:01

Prosas :

No votes yet

Maria Letra

Maria Letra's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 3 weeks 5 days ago
Joined: 11/20/2012
Posts:
Points: 2664

Add comment

Login to post comments

other contents of Maria Letra

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Poetrix 15. POETRIX - Volume I 0 3.347 02/11/2015 - 00:30 Portuguese
Poesia/Poetrix 14. POETRIX - Volume I 0 2.450 02/11/2015 - 00:27 Portuguese
Poesia/Poetrix 13. POETRIX - Volume I 0 2.848 02/11/2015 - 00:25 Portuguese
Poesia/Sonnet 12. POETRIX - Volume I 0 2.915 02/09/2015 - 23:50 Portuguese
Poesia/Poetrix 11. POETRIX - Volume I 0 3.384 02/09/2015 - 23:42 Portuguese
Poesia/Poetrix 10. POETRIX - Volume I 0 1.692 02/09/2015 - 23:37 Portuguese
Poesia/Poetrix 09. POETRIX - Volume I 0 2.562 02/08/2015 - 12:33 Portuguese
Poesia/Poetrix 08. POETRIX - Volume I 0 2.102 02/08/2015 - 12:30 Portuguese
Poesia/Poetrix 07. POETRIX - Volume I 0 1.905 02/08/2015 - 12:26 Portuguese
Poesia/Poetrix 06. POETRIX-A TUA SOMBRA 0 2.135 02/06/2015 - 00:41 Portuguese
Poesia/Poetrix 05. POETRIX - Volume I 0 1.932 02/06/2015 - 00:35 Portuguese
Poesia/Poetrix 04. POETRIX - Volume I 0 3.558 02/06/2015 - 00:30 Portuguese
Poesia/Poetrix 03. POETRIX - Volume I 0 3.003 02/04/2015 - 22:00 Portuguese
Poesia/Poetrix 02. POETRIX - Volume I 0 2.622 02/04/2015 - 21:58 Portuguese
Poesia/Poetrix 01. POETRIX - Volume I 0 3.942 02/04/2015 - 21:53 Portuguese
Poesia/General PALAVRAS CHEIRANDO A MORTE 0 2.799 01/28/2015 - 03:07 Portuguese
Poesia/General PRESSÁGIO DE NAUFRÁGIO 0 2.290 01/27/2015 - 19:36 Portuguese
Poesia/General A M A R 0 2.423 01/25/2015 - 11:57 Portuguese
Poesia/General PERSEVERANTE E DESTEMIDA 0 2.298 01/20/2015 - 16:18 Portuguese
Poesia/Poetrix MEU PECADO 0 3.803 01/17/2015 - 16:59 Portuguese
Poesia/Poetrix SEM COMPROMISSO 0 2.353 01/17/2015 - 16:44 Portuguese
Poesia/General O AMOR 0 1.725 01/17/2015 - 15:44 Portuguese
Poesia/General ESTE DESEJO ARDENTE 0 3.867 01/12/2015 - 20:13 Portuguese
Poesia/Poetrix LEALDADE OU TRAIÇÃO? 0 2.756 01/03/2015 - 20:20 Portuguese
Poesia/Dedicated BEM HAJA! 0 9.093 01/03/2015 - 15:20 Portuguese