Bateu Meia-Noite
C:\Documents and Settings\Lygia Boudoux\Desktop\figuras gelo"/>Lyz nascera para ser princesa, mas o Reino quando surgiu, era final de verão, primavera tardia, mistura de estações. O príncipe por tão pouco se encantou. No Reino um castelo de vidro, portas imensas, dobradiças gigantes, um fosso, águas claras, espelho d’água, perfume de flor. O horizonte se confundia com os campos floridos, nem se sabia ao certo se as flores nasciam do céu ou da terra. Amapolas e lavandas, mistura de cores: vermelho, verde e lilás. Uma tela impressionista. A fantasia brincava de cabra-cega com a realidade. O amor chegou num cavalo alado. Menino de cabelos cacheados, flechas por todos os lados. Coração um alvo certeiro. Repetindo a história: um príncipe e uma princesa, dois corações, uma flecha atravessada.
O castelo, mundo de sonhos, tobogã de estrelas, céu com purpurina, constelação Órion, três Marias, apenas. Somatório de dias, um contador acumula, o tempo parece que parou. O tempo estava dormindo. Os relógios enlouqueceram. Fantasia e realidade, duas paralelas sem infinito. A cada manhã, um encontro marcado, coração saltitava, imaginação com asas. Poesia no ar, sementes de flores escolhidas, fincadas no jardim de inverno… O jardim florescia, um arco-íris numa estufa transparente. O menino tomava vulto, e o estrago estava feito coração dilacerado no peito, infecção perigosa, septicemia do amor.
Com a chegada da primavera, madrugada orvalhada, juntos cavalgavam protegidos por um nevoeiro, por entre uma alameda. A chuva começava a cair, sem comando. Verlaine, deus em pingos. No meio do bosque, a cabana, a lareira, perfume de nardo, cheiro de maçã. As sombras dos corpos na parede, dançam num compasso, duas sombras, depois uma única e maior, pára de dançar. A chuva brilhante particular caía bem devagar.
A febre do amor no coração de uma flor semi tocada, pulsando como um cervo nas savanas da África. Estava vivendo no tempo Cronos, e o príncipe, no tempo Kairós.
Lyz convivia com um lobo e um cordeiro numa só cena. O amor é lepra? Ou quem sabe apenas uma bala de litmus.
A realidade descobriu que estava sendo enganada. Lyz com os olhos cheios d’água não acreditava que o tempo passou e contemplava um cenário daliesco. Um relógio bateu meia-noite. O Reino perdeu o perfume, fecharam as portas do castelo, o vidro embaçado, o fosso secou, o vestido perdeu o brilho junto com os olhos. Noite de luar e a imagem do príncipe refletida à luz da lua. Cavalo branco, capa vermelha, cavalgava noite adentro. Cada vez ficava mais distante do castelo. Nesse momento ela pensou nas bolhas de sabão e nas borboletas. Com o vestido agora repleto de trapos, permaneceu no castelo, não havia vida melhor que aquela. A verdade da fantasia no combate ao engano da realidade. Os olhos de repente voltaram a brilhar. Olhou para o céu e havia estrelas. Olhou para baixo e viu um pequeno sapo que coaxava quase escondido pelo lodo do fosso, era o amado que cantava uma serenata para ela. Um hino ao amor. Sentiu o perfume das flores, descobriu que compreendia as nuvens, mas que os campos nesse momento, já não eram tão verdes.
Bateu Meia-Noite
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 895 reads
other contents of lygiaboudoux
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Fotos/Others | Unforgetable em Montmartre | 2 | 586 | 07/17/2009 - 13:07 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | flores de estrelas | 4 | 397 | 07/13/2009 - 23:50 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Olhar Crítico | 0 | 386 | 07/12/2009 - 18:40 | Portuguese | |
Poesia/Passion | Aviso de Recebimento | 2 | 385 | 07/11/2009 - 18:00 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | A Sósia | 2 | 399 | 07/11/2009 - 17:52 | Portuguese | |
Poesia/Love | Magia do Amor | 1 | 336 | 07/09/2009 - 15:11 | Portuguese | |
Poesia/Passion | manhã poética | 4 | 458 | 06/29/2009 - 00:19 | Portuguese |
- « first
- ‹ previous
- 1
- 2
- 3
- 4
Add comment