VOLUNTARISMO e VONTADE - Filosofia sem Mistério - Dicionário Sintético
VOLUNTARISMO e VONTADE – do Latim “VOLUNTARIUS”. O Voluntarismo é a Doutrina Filosófica que considera a “Vontade (ou o Querer)” o motivo ou a Causa da existência de tudo. Seja dos Seres vivos, dos objetos inanimados, dos fatos, dos acontecimentos, dos sentimentos, dos pensamentos e de tudo mais que existe. Segundo SCHOPENHAUER (1788/1860, Alemanha) em sua obra “O Mundo como Vontade e Reflexão”, de 1818, a “Vontade” ou mais precisamente “A Vontade de Viver (o instinto de sobrevivência) é a Essência de todas as coisas, inclusive dos Homens. Para ele, a “Vontade” é uma “Energia ou uma Força” universal que habita todos os Seres e é o que os leva a lutar consciente ou inconscientemente para se auto preservar e, paralelamente, conservar a Espécie a que pertence. Em suas palavras: “ela se manifesta na força cega da Natureza e encontra-se na conduta racional do Homem”. Outro Filósofo, DUNS SCOTUS (c.1265/1308, Escócia) afirmou que Deus é totalmente livre para fizer o que quiser; isto é, nada O limita. E como Ele é o principio, a base de todas as Coisas, o que pode ser classificado como “Bom”, “Verdadeiro” depende, ao cabo, da “Vontade de Deus”; ou seja, só Ele pode criar algo positivo e como Ele é pura generosidade, tudo que a sua Vontade, o seu Querer produzir é “Bom”, “Verdadeiro”. Para muitos Pensadores, o Voluntarismo, de fato, só pode ser entendido como Essência, pois ao nível dos fenômenos é apenas uma capacidade parcial, haja vista que a Vontade é sempre contida e limitada pelas circunstâncias da vida. Tanto, aliás, quanto o “Livre Arbítrio” humano. Na seqüência abordaremos o elemento formador do Voluntarismo, a “Vontade”. É um termo de real importância no estudo da Filosofia e na seqüência abordaremos algumas de suas principiais aplicações: 1. Em sentido geral, Vontade é a disposição para agir. O exercício consciente e desejado de se fazer alguma coisa; de praticar certa ação. Tem-se como exemplo a “a vontade de gritar”, dentre outros. 2. Vontade é a idéia ou o argumento central e mais importante na Metafísica de Schopenhauer, que a enxerga como a Verdadeira Essência de tudo. Inclusive, claro, do Homem. Adiante, retornaremos a esse filósofo e enquanto isso tomo a liberdade de recomendar aos (às) interessados (as) em se aprofundar no Pensamento de Schopenhauer que consultem o livro de minha autoria “Filosofia Alemã”, editado pela AlphaPrint – Clube de Autores. Nele, essa visão do filósofo de que a Vontade é a Essência de Tudo, ou “A coisa em Si”, conforme Kant, é explanada com minúcias que aqui não caberiam. 3. Vontade Geral – é um termo composto que se aplica ao Campo Filosófico que trata da Política. Sobretudo com ROSSEAU (1712/1778, Suíça), que afirma ser a “Vontade”, una (única), geral e inseparável do “Corpo Social”, ou da Sociedade; devendo, por isso, ser considerada como um “Todo”. É, pois, essa “Vontade Geral” que dá legitimidade a toda ação que expresse o desejo de cada indivíduo formador daquela Sociedade. É a “Vontade da Maioria” que vigora nas Democracias, legalizando os atos executados pelos Governos. 4. VONTADE DE POTÊNCIA – tese central do Pensamento de Nietzsche (1844/1900, Prússia, atual Alemanha). É, pode-se dizer, uma afirmação da Vida (considerada apenas em seu aspecto físico, concreto). Segundo o filósofo: “só existe a Vontade na vida, mas essa Vontade Não é o simples “querer viver”; na realidade é a “Vontade de dominar... a vida... “Tende à Sensação de uma máxima potência, ela é essencialmente o esforço em direção a mais potência. Sua realidade mais intima, mais profunda, é o querer”. Em outros termos: Nietzsche afirma (como Schopenhauer já fizera, mas em outro sentido) que a Vontade é a Essência de tudo, mas que tal Vontade não é apenas uma simples “vontade de viver”. É mais que isso. É a Vontade (o desejo, o querer) de superar os limites impostos pela Vida aos humanos. A Vontade de adquirir o máximo de Poder possível e a partir daí exercer uma espécie de Hedonismo*; ou seja, apenas desfrutar o que a vida tem de melhor, sem lucubrações mentais nem impedimentos morais. E é justamente nesse ponto que se apóiam aqueles que o criticam. Acusam seu Sistema Filosófico de propor apenas a primazia das Sensações físicas, tidas como vulgares, em detrimento da elevação intelectual e espiritual. Outro ponto de seu ideário que levanta oposição é a afirmação da “validade” do estado da Natureza entre os Homens, como veremos a seguir: Em sua obra “A Vontade de Poder”, de 1895, Nietzsche expõe a maior parte de sua Filosofia. Primeiramente analisa a História e a Filosofia e conclui que é indispensável uma alteração geral e radical na Escala de Valores Éticos e Morais, pois, segundo ele, até então, tais valores foram baseados no Cristianismo e ao pregarem o Amor, a Humildade, a Pobreza, a Fraternidade e outros sentimentos afins, na verdade pregavam uma Moralidade que fora ardilosamente articulada pelos mais fracos e/ou inaptos, que desse modo evitavam o extermínio que lhes daria os mais fortes, conforme acontece na Natureza, onde sobrevive o mais apto, o mais forte. Ameaçando, então, os mais fortes com castigos metafísicos (inferno, punição divina, maldições etc.) conseguiam sobreviver mesmo com suas debilidades. Mas para Nietzsche, tais “Virtudes” eram apenas o oposto do verdadeiro “Bem”; do verdadeiramente “Bom”, ou seja: o Poder e o desfrute das delicias que o Mundo propicia. O desfrute de “eternos Banquetes regados ao vinho de Dionísio”, em lugar da burocrática ordenação de Apolo. Pregava o filósofo que essa “Moral de Escravos” fosse extirpada e substituída pela Tábua de Valores Verdadeiros: a festiva inconseqüência Dionisíaca. A Moral dos “fortes e vitoriosos”. Citamos, au passant, que Nietzsche concordava com Schopenhauer de que a “Vontade” é a “Essência do Mundo”; mas ao contrário do “querer viver” pessimista de Schopenhauer, a “Vontade de Poder” designava o desejo de dominar a própria vida e não ser reles joguete das circunstâncias da mesma. Dominar, principalmente, a “Energia Conquistadora” dos Homens mais aptos, mais bem dotados e por isso, capazes de Criar novos valores, ao invés de se submeterem aos parâmetros já estipulados, os quais, aliás, seriam sumariamente extintos pelos “Super Homens”. Para Kant (1724/1804, Alemanha) a “Vontade”, ou mais precisamente, a “Boa Vontade” é à base da Moral. A “Vontade ou o Querer” é aquilo que se escolhe racionalmente, mesmo que contrarie um desejo inconsciente, como ocorre nessa situação exemplar: o querer inconsciente deseja ardentemente uma linda jóia, mas não se furta ou se rouba a mesma porque a Razão freia esse instinto. A Vontade, pois, deve ser atada à noção de “Cumprimento do Dever” e ser contida, limitada, objetivamente (ou externamente) pela Lei e subjetivamente (interiormente) pela Vontade de se respeitar a Lei. Por outro lado, quando o inconsciente vence a Racionalidade tem-se, claro, a “Má Vontade”, cuja prevenção e combate são a pedra de toque de qualquer agrupamento social.
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