A Dura Vida dos Cobradores e Motoristas de ônibus do Estado de São Paulo
A Dura Vida dos Cobradores e Motoristas de ônibus do Estado de São Paulo
Autor: Larry Redon
A vida dos Cobradores e Motoristas de Ônibus em São Paulo não é nada fácil. Conhecidos como “Chapéu de Bico”, estes profissionais não contam com o respeito dos seus patrões, que os exploram constantemente, obrigando-os a fazer longas horas de trabalho, no chamado “carro-direto.” Geralmente no carro-direto, os funcionários costumam trabalhar mais de 18 horas por dia, pois fazem dois períodos de trabalho. Como estas horas excedentes não são lançadas na sua ficha de trabalho e os funcionários recebem por fora, no chamado caixa dois, conhecido entre eles como “fominha”, fica cada vez mais difícil provar na justiça o trabalho escravo ao qual são submetidos. É claro que muitos funcionários precisam e por isso se submetem, mas esta atitude vem causando grandes problemas na cidade de São Paulo, prova disso são os diversos acidentes com ônibus acontecidos nos últimos tempos.
Além deste trabalho ilegal, cobradores e motoristas vivem numa situação precária de higiene e exposição a diversas situações que põem suas vidas em riscos: os pontos finais de ônibus não possuem banheiros e eles são obrigados a usarem sanitários sujos nos bares, quando existem. Cobradores e cobradoras usam os mesmos banheiros e muitas vezes nas viagens longas, que geralmente em tempos de congestionamentos chegam a durar mais de três horas, são pressionados por alguns fiscais da empresa a não abandonar o veículo para irem ao banheiro.
Os pontos finais de ônibus muitas vezes não possuem locais adequados para os funcionários se alimentarem e os poucos lugares que têm, muitas vezes não recebem o vale refeição dado pela empresa, razão pela qual, dentre outras, faz com que os motoristas vendam o seu vale refeição para a própria empresa, que compra descontando 15% do valor real do vale.
O assalto é outra questão assustadora, que não mudou com a chegada do bilhete único, pois os assaltantes não acreditam que o cobrador não tenha dinheiro e os agridem. Os cobradores ficam constantemente na mira de revólveres, facas, navalhas e outras espécies de torturas psicológicas e ainda são obrigados pela empresa a trazer duas testemunhas para comprovar o assalto, o que poucas vezes acontece, pois os passageiros ficam com receio de se envolver com a polícia. Embora tenham seguros, as empresas muitas vezes cobram dos funcionários o valor roubado. Muitas vezes também, de acordo com o valor roubado, estas empresas não permitem que o funcionário abra um boletim de ocorrência para não perderem a partida e os cobradores acabam cedendo com medo de represálias por parte de seus superiores. Com problemas psicológicos advindo das humilhações sofridas na empresa, estes funcionários têm dificuldade de ir ao psicólogo, pois o convênio médico demora até dois meses para atendê-los e quando conseguem passar na especialidade médica, recusa-se a pedir afastamento, pois sabe que vai passar meses sem receber do INSS e não conseguirão manter suas famílias nem comprar os próprios remédios.
Os cobradores e motoristas que tentam ir contra a vontade dos patrões, ou entram na justiça, são perseguidos, transferidos para outras empresas mais longe de suas residências, são jogados nos últimos horários da empresa, dormindo na rua sem condução para chegar a casa.
Além de todas estas atrocidades, a empresa muda de razão social constantemente, obriga os funcionários a fazerem acordo, não deposita FGTS, mandam o cobrador fazer trabalho de fiscais e não os remuneram de acordo com o cargo exercido. Muitas vezes obriga os cobradores a vestirem coletes laranja e ficarem nos pontos nas ruas de São Paulo, fiscalizando, fazendo uma função que não é dele e não sendo remunerado por isso. E por falar em colete, os cobradores também são obrigados a usarem os uniformes com logotipos de outras empresas na manga da camisa. É mais uma forma da empresa economizar com propagandas. E não pára por aí. Os carros saem sujos da garagem, os cobradores são obrigados a varrê-los quando chegam ao ponto final, que muitas vezes não tem vassoura, pás, lixeiras, produtos de higiene, obrigando o funcionário a catar o lixo com a própria mão e expondo-os a ter contato com todo tipo de micróbios.
Com tudo isso, o trabalho do cobrador não é considerado insalubre. Pesquisas recentes informaram que a poluição está causando grandes doenças como infertilidade nos homens e os cobradores engolem fumaça em 18 horas de trabalho, sem falar nos micróbios constantes no dinheiro que passam de mão em mão! Mesmo assim, os cobradores e motoristas são profissionais que passam despercebidos aos olhos dos órgãos de defesa do trabalhador, mas todos os transtornos psicológicos são vistos pelos passageiros, que esperam horas nos pontos e encontram motoristas e cobradores sempre estressados, dormindo na catraca, pelas longas horas, que são forçados a fazerem e as torturas psicológicas sofridas dentro e fora das empresas.
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