Sinas da Cigana
um dia conheci,
(lá outrora, na bruma
das memória que diz
infância)
duas ciganas.
uma velha, seca e murcha,
com ar de bruxa
das estórias;
outra linda de morrer,
por ela milhares de
noites de prazer.
a primeira,
perscrutava o meu ser,
como mãe amiga
agoirava-me o futuro,
com cuidados e
ominosos presságios
de sofrimento,
até ao uterino
momento de morrer.
via, sentia, dizia
futuros sombrios:
escritos na palma da mão,
nas gemas do ovo,
nas vísceras de bichos mortos...
a outra falava-me
de vida,
contava-me estórias
de encantar
e dançava loucamente
em feitiços de espuma e de fermento
feitos de pecados de sonho.
a ciganinha
de olhos de mar,
abriu o seu corpo,
tal qual um verso
tão belo que jamais foi escrito,
nos seus lábios o silêncio
era esmeralda
a sua voz pura,
mais imaculada do que ébano,
fazia revolver em convulsões
o sangue das minhas veias!
na sua dança muda
e contente
ela amava toda a gente,
e a mim a sós,
como se o meu corpo fosse
o dela e juntos fossemos nós.
a outra cigana velha
lá me dizia:
– olha, isso são loucuras tuas...
é tão certo e sabido como o Tempo
que os amores
apressam a morte.
à noite, no breu
ela era minha, eu era seu
(já nem me lembrava
se a ciganinha não era eu...)
nas suas coxas,
nos seus pelos,
nos nossos gritos brutais
mais do que poemas,
para além do nome inefável
de Deus,
éramos só
vontade de dar sem receber...
nas linhas tortas
das escritas dos deuses,
o fado aziago fora
destinado.
a ciganinha morreu.
a velha porém ainda
vejo de tempos a tempos
nas encruzilhados dos caminhos
e dou-lhe um cruzado
para me velar
pelos destinos.
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Poesia/Meditation | Sussurros ao Vinho | 4 | 693 | 02/16/2010 - 02:40 | Portuguese |
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