TEM DIA QUE A GENTE...

Tem dia que a gente não sabe se está bem ou está mal. Não sabe se quer comer, nem sabe que está com fome. Só sabe que quer ficar quieta e recostada em algum sofá. Também não precisa ser um sofá cabuloso, pode ser um pequeno de um só lugar. O que importa mesmo, é ficar ali, até não sabe quando.
Tem dia que a gente quer pegar uma condução e ir até não sei onde. Pode ser um avião, ônibus, trem. Qualquer um serve. Desde que o leve a qualquer lugar, a qualquer hora, a qualquer dia. O que importa mesmo é ir.
Tem dia que a gente quer tomar todas. Mesmo sabendo que não sabe beber. Mas quer beber. Qualquer lugar, qualquer bar, boate, em casa. O que não quer é amanhecer de cara limpa. Não naquele dia. Tem mesmo é que tomar para esquecer, porque precisa esquecer aquele dia.
Tem dia que a gente pensa no amor. Pra quê eu não sei. Só sei que a gente pensa. Deve ser pra lembrar que já gostou de alguém um dia. Só que esse alguém já faz parte do passado. Mas quer lembrar assim mesmo. Pra sofrer? Pode ser. Todo mundo gosta de sofrer. Nem que seja uma vez. E por amor. O que interessa é dizer que já amou ou que ama. Só não sabe se foi ou é correspondido.
Às vezes a gente pensa na vida como um todo. E se surpreende que a cada dia tem mais decepções. Claro que em certas ocasiões tem surpresas. E boas. Mas é raro. É raro também ter alegria, boas lembranças. De qualquer forma, a gente quer viver. Seja pra rir ou pra chorar. Pra dar bom dia, boa tarde, feliz natal. Comemorar o aniversário da vó, da mãe, do filho e até do neto. Chegar em casa com os pés quebrados, porque teve de calçar aquele sapato novo, comprado numa liquidação. Mas é a vida. Se quer continuar a viver, tem que passar por isso e muito mais. Tem que encarar o que vier e ainda dizer: Que bom! Era tudo que eu queria!

Iraide Guirlanda