INFINITA VIAGEM
Venho da Terra de todas as coisas.
É de lá que eu venho trazendo na bagagem
a imagem duradoura de um pensamento
construído na margem de um tempo
feito das almas que habitam a Terra
do privilégio desmesurado.
Venho da Terra de todas as coisas
que é para onde vou porque não sendo de lá
é de lá que eu sou.
Da Terra do longe onde sou selvagem
e também monge.
Da Terra do fim do horizonte abruptamente
cortado por um Mar gigante único e inesgotável
mas doce e eternamente tranquilo.
Venho da Terra dos que habitam as almas
dos que habitam a esperança
onde não há raiva nem sede de vingança.
Onde abunda a tolerância.
Da Terra que fica longe dos dias da ânsia
despropositada dos que julgando
tudo saber nada sabem afinal.
Da Terra onde o Bem assassinou o Mal.
Da Terra do fim do Mundo
onde se mergulha no fundo
das coisas todas e onde todas as coisas
são o nada e onde o nada é afinal
absolutamente tudo.
Da Terra de todas as coisas de ninguém
onde o Homem vive além de si próprio.
Venho da Terra do pensamento
feito de um tempo de abraço
tornado vida em cada momento.
Da Terra que nos percorre a alma
tecendo-nos por dentro a carne
e o corpo apurando-nos o tacto
e o olfacto a paixão e o coração
que são letras de uma canção.
Da Terra que nos tece as entranhas
que são o Mar e as montanhas.
Da Terra profunda de um Mundo
de onde se avista a grande a enorme
a incomensurável e única Terra.
O grandioso lugar de todas as coisas.
Oferecido. A todos.
E a enorme mole humana deste dia
de todos os dias de todos os tempos
e séculos e milénios perfila-se serenamente
tranquila e geometricamente
aguardando o direito a um lugar
entre a gente da Terra de todas as coisas.
Do outro lado da Terra de todas as coisas
soam ainda os gritos. Chora-se ainda a dor.
Mata-se mais o amor. Cantam-se todas as mortes.
Proferem-se os grandes discursos.
Do outro lado de tudo e de todos. E de ninguém.
E um só que reina. Homem de seu nome.
De sua génese único.
Imperador de todo o Mal.
Sacerdote de todo o Bem.
Os bons e os maus. E o caos também.
No pedestal erguem-se os heróis e os cobardes
glorificados nas tranquilas tardes
após um longo dia de guerras
no sórdido Mundo que troca os tons
dos sons dos hinos pacificadores
dos gloriosos Anjos Arcanjos.
Os vivos e os mortos. Todos juntos
povoando agora a Terra de todas as coisas.
Todos a uma só voz. A um só grito.
Pais filhos avós. Todos a uma só alma
Enquanto o Mundo dorme na noite calma.
E no horizonte perfeito mas abruptamente
cortado por um Mar gigante único e inesgotável
mas eternamente tranquilo flutua a pacífica
e encantadora mas também selvagem e devoradora
porção de Terra plena e serena feita e perfeita
de uma paz assustadora que espera para sempre
por todos aqueles que consigam perdoar-se a si mesmo
antes de perdoarem os outros.
Aos que consigam chegar a salvo e sãos ao lugar único.
O lugar da Terra de todas as coisas.
Ao lugar imenso do absoluto e do nada.
Onde coisa nenhuma existe porque o nada
é realmente tudo. Onde nada existindo tudo lá está.
Onde há lugar para todas as coisas
e onde os homens contam mais do que todas as coisas.
De onde não se parte para mais nenhum lugar.
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