Strange VI - A cumplicidade e o medo do escuro
Sempre tiveras muito medo do escuro,
das noites de luar com brumas sem precedentes.
Naquela noite decidi assustar-te
cobrindo-me com um manto negro e lanternas nos olhos,
mas quem me assustou fui eu muito depressa
quando sorriste e viste um manto jasmim
e eu vi na realidade um vulto atrás de mim.
Dus crianças traquinas
haviam-se escondido num buraco feito à mão
debaixo do banco de jardim da avenida...
e eu já só tremia pelo susto desmedido.
Noutra noite quis-me vingar
(a atmosfera pesada ardia-me nos lábios enregelados)
vinhas tu de salto alto na calçada
despreocupada com a escuridão.
Tapei a cara com uma meia de vidro resistente
e coloquei-me à tua frente com uma chave inglesa na mão.
Passava um senhor a correr que parou de repente,
andava à procura de um canalizador urgentemente.
sem saber o que dizer-te fingi que o era
e lá fui parar a um bairro às escuras
onde a luz só chegava quando o sol nascia.
O zumbido de um comboio na linha férrea atormentava-me.
Que me aconteceta para estar ali amarrado?
Fechei os olhos pensando estar acabado.
tinha tanto medo deste escuro
que nem queria saber como seria o que viria a seguir.
Senti uma mão tocar-me os dedos
e puxar-me segundos antes do comboio passar.
Para me salvares do medo tinhas-me seguido.
Tudo havia sido organizado para me testar...
Era tempo de reconhecer que o medo pode surgir
quando menos esperamos...
Agora todas as noites passeamos e vemos juntos as estrelas,
e para não termos medo do escuro
sabemos que basta envolvermo-nos
com a sua cumplicidade misteriosa...
rainbowsky
2002
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