Cruz D'espinhos

Espinheiro


Cruz d’Espinheiro.


Melros estridentes cruzam os bicos sobre pinheiros frondosos e cheiros fortes, instam os borrachos tardios ao voo; estes, dos nichos pendurados nos arbustos, dir-se-ia que protestam as censuras dos progenitores enquanto tudo mais cala em tarde de lua longa.

Findo o rumor perturbante do dia, reaparecem, mais sinceros os silêncios do lobo, encontrava-se preso num espinheiro que lhe perfurava a pele e perturbava o espírito, paralisava-o até aos mínimos movimentos que se esgotara de planear, os seus esforços ainda tinham enterrado mais profundamente os espinhos.

Deitou-se exausto na mais cómoda posição que conseguiu, o ocaso fitava-o na silhueta projectada pela cruz de espinhos. Saídos das sombras os esquivos morcegos fazem as primeiras aparições perseguindo vorazmente as presas, no desalinho do pelo do jovem lobo e nas feridas vivas, formigas e insectos insistiam em dilatar a dor e as feridas ensanguentadas.

Deixara a alcateia pela primeira vez, procurando caçar sozinho, as lições aprendidas com a mãe não incluíam a forma de se livrar de uma prisão feita com materiais naturais mas colocada ali intencionalmente por alguém que invejava os espíritos livres dos animais selvagens, os homens de Murmansk na longínqua Sibéria Ocidental supunham que a sua força e virilidade dependia directamente do número de lobos mortos e usavam-lhes as peles e caudas como troféus de adorno.

Enquanto os espinhos se afincavam em não dar tréguas, com uma teimosia exasperante, Os pirilampos servem de consolação ao triste lobo , que os vê ,lentamente, rodopiarem em seu redor e elevarem-se ,até se confundirem com a aparição das primeira constelações ,nos céus cada vez mais escuros mas em testemunhos silenciosos de milhões e milhões de estrelas.

Com os pirilampos partem também os últimos e lampejantes sinais dos espíritos selvagens e parte porém mais uma esperança dos homens em conviverem com o Planeta, que o Homem não pense que pode viver órfão da mãe natureza e do Pai Universo.

 

Jorge Santos

Submited by

Thursday, January 13, 2011 - 11:02

Prosas :

Average: 5 (1 vote)

Joel

Joel's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 6 days 17 hours ago
Joined: 12/20/2009
Posts:
Points: 42103

Add comment

Login to post comments

other contents of Joel

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Ministério da Poesia/General Tudo acaba aonde começou 1 827 02/23/2018 - 18:34 Portuguese
Ministério da Poesia/General Chove ,mais nada… 1 3.042 02/23/2018 - 18:19 Portuguese
Ministério da Poesia/General Ler é sonhar sonhos doutros … 1 2.417 02/23/2018 - 15:46 Portuguese
Ministério da Poesia/General A casa das coisas. 0 2.877 02/23/2018 - 13:02 Portuguese
Ministério da Poesia/General No teu,meu povoado. 0 2.321 02/23/2018 - 12:59 Portuguese
Ministério da Poesia/General Ivan 0 1.619 02/23/2018 - 12:56 Portuguese
Ministério da Poesia/General Pressa 0 2.603 02/23/2018 - 12:56 Portuguese
Ministério da Poesia/General 11 Minutos 0 1.657 02/23/2018 - 12:55 Portuguese
Ministério da Poesia/General Saudades… 0 4.313 02/23/2018 - 12:52 Portuguese
Ministério da Poesia/General Sem glúten. 0 2.258 02/23/2018 - 12:49 Portuguese
Ministério da Poesia/General Quando olho não me conheço… 0 1.227 02/23/2018 - 12:47 Portuguese
Ministério da Poesia/General Homem Anão. 0 3.107 02/23/2018 - 12:44 Portuguese
Ministério da Poesia/General A minha validade 0 3.205 02/23/2018 - 12:39 Portuguese
Ministério da Poesia/General Fui… 0 1.928 02/23/2018 - 12:31 Portuguese
Ministério da Poesia/General Pouco original… 0 2.409 02/23/2018 - 12:27 Portuguese
Ministério da Poesia/General Como é possível. 0 2.895 02/23/2018 - 12:25 Portuguese
Ministério da Poesia/General D’autres pas. 0 1.755 02/23/2018 - 12:20 Portuguese
Ministério da Poesia/General Amor prisão 0 1.627 02/23/2018 - 12:18 Portuguese
Ministério da Poesia/General Hoje não encontrei a dor 0 1.226 02/23/2018 - 12:16 Portuguese
Ministério da Poesia/General A tasca dos abissais… 0 3.623 02/23/2018 - 12:11 Portuguese
Ministério da Poesia/General Quanto do malho é aço… 0 3.419 02/23/2018 - 12:08 Portuguese
Ministério da Poesia/General Ave cantora… 0 2.378 02/23/2018 - 12:06 Portuguese
Ministério da Poesia/General A razão do tempo… 0 1.246 02/23/2018 - 12:00 Portuguese
Ministério da Poesia/General O desejo que morrerá comigo… 0 3.506 02/23/2018 - 11:57 Portuguese
Ministério da Poesia/General De-louco… 0 2.026 02/23/2018 - 11:54 Portuguese