Rex Tirano Candidato

Tome temência,
preste-me continência
e arranje-se com sua inconfidência.
Por hora sou o Tirano
e o serei até que outro amo
assuma o encargo
de lhe tratar como bobo e gago.

Por hora, adiante-me o do trago,
reze por um minímo estrago
e que tu preserve a liberdade
de continuar sendo um covarde.

Se não, já sabe:
usarei o chicote que tanto arde;
e tudo será tarde,
assim como o sumiço da divindade.
Lépida e sem alarde.

Esqueças essa bobagem
que chamam de votagem.
É um insulto, um ultrage
que logo, logo ficará nas calendas
como os heróis doutras lendas.

Tome temência,
preste-me continência.
O que chamam de consciência
morreu deflorada sem clemência.

Autopsiá-la é uma demência,
tipica de quem sofre de carência
e da brazuca malemolência.

Agora é jogo duro,
prisão, sumiço e tortura.
E, de quebra, fuzilamento no muro.

Farei outra Guernica,
esconderei o pote de arnica
e achicalharei essa gente nanica,
que se dá como ninfomaníaca.

E tudo e tal em cada esquina,
em cada costela de Adão ou suína
e, pior, por mísera proprina.

Não vote!
É um trote!
Brincadeira de mau gosto,
pois corrupto não tem "x" no rosto,
mas como Pandora liberta todo desgosto
até que rico, volte a morar em seu esgoto.

Não vote! Eleição é desperdicio!
Prenúncio de suplício
ao irmão derrotado,
a quem o povo justiçará (e pobre coitado)
terá quebrado seu sigilo e enigma
de portar doença maligna.

Ó horror! Ó horror! O pobre terá que trabalhar
como se fosse eleitor vulgar
e os creedores que deixei de pagar.

Ó horror! Ó horror! Serei preso pelas falcatruas
e pelas mulheres que se foram nuas.
Será o clamor das ruas!

Horror horrendo,
já me vejo fazendo
o impensável fazer:
terei que suar
pelo pão de cada dia
e, suprema ironia,
sendo achacado
por quem estava doutro lado;

Assim: peço seu voto
eleitor amigo,
o resto deixe comigo...

Eu sou seu amo,
seu amado tirano.
Não vote!
É uma bobagem!
Não existe vantagem
em mudar o Sujeito da chantagem.

Situações e sujeitos ficcionais. Qualquer semelhança com a realidade será mera coincidência.

Submited by

Saturday, September 18, 2010 - 23:40

Poesia :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 8 years 3 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Videos/Poetry As Cidades e as Guerras - A Canção de Saigon 0 13.332 11/20/2014 - 15:05 Portuguese
Videos/Poetry As Cidades e as Guerras - A Canção de Bagdá 0 15.221 11/20/2014 - 15:02 Portuguese
Videos/Poetry As Cidades e as Guerras - A Canção de Sarajevo 0 14.196 11/20/2014 - 14:58 Portuguese
Poesia/Dedicated Negra Graça Poesia 0 1.299 11/20/2014 - 14:54 Portuguese
Prosas/Others Rousseau e o Romantismo - Final - O Contrato Social 0 3.600 11/19/2014 - 21:02 Portuguese
Poesia/Dedicated A Pedra de Luz 0 2.234 11/18/2014 - 15:17 Portuguese
Poesia/Love Chegada 0 1.882 11/16/2014 - 15:33 Portuguese
Prosas/Others Rousseau e o Romantismo - Parte XIX - A Liberdade Civil 0 2.560 11/15/2014 - 22:04 Portuguese
Prosas/Others Rousseau e o Romantismo - Parte XVIII - A teoria da Vontade Geral 0 2.754 11/15/2014 - 22:01 Portuguese
Poesia/Dedicated Partidas 0 2.227 11/14/2014 - 16:13 Portuguese
Prosas/Others Rousseau e o Romantismo - Parte XVII - A transição para a Liberdade Civil 0 4.015 11/14/2014 - 15:06 Portuguese
Poesia/Love Diferenças 0 1.130 11/13/2014 - 21:25 Portuguese
Prosas/Others Rousseau e o Romantismo - Parte XVI - A Liberdade Natural 0 2.094 11/12/2014 - 14:46 Portuguese
Poesia/Love Tramas 0 1.737 11/11/2014 - 01:47 Portuguese
Poesia/General A mulher que anda nua 0 2.414 11/09/2014 - 16:08 Portuguese
Prosas/Others Rousseau e o Romantismo - Parte XV - Emílio e a pedagogia rousseauniana 0 4.456 11/09/2014 - 15:21 Portuguese
Prosas/Others Rousseau e o Romantismo - Parte XIV - A transição para o Estado de Civilização 0 2.441 11/08/2014 - 15:57 Portuguese
Prosas/Others Rousseau e o Romantismo - Parte XIII - O homem no "Estado de Natureza" 0 2.532 11/06/2014 - 22:00 Portuguese
Prosas/Others Rousseau e o Romantismo - Parte XII - As Artes e as Ciências 0 1.772 11/05/2014 - 19:47 Portuguese
Prosas/Others Rousseau e o Romantismo - Parte XII - A Religião 0 2.247 11/03/2014 - 14:58 Portuguese
Poesia/General Os Finados 0 1.096 11/02/2014 - 15:39 Portuguese
Prosas/Others Rousseau e o Romantismo - Parte XI - O amor e o ódio 0 1.923 11/01/2014 - 15:35 Portuguese
Poesia/General A Canção de Bagdá 0 1.517 10/31/2014 - 15:04 Portuguese
Prosas/Others Rousseau e o Romantismo - Parte X - As grandes linhas do Pensamento rousseauniano 0 2.493 10/30/2014 - 21:13 Portuguese
Prosas/Others Rousseau e o Romantismo - Parte IX - A estada na Inglaterra e a desavença com Hume 0 2.135 10/29/2014 - 14:28 Portuguese