Desabafos
Olá desconhecidos,
Vocês não me conhecem nem eu vos conheço a vocês. No entanto, oiçam estas palavras que estavam à muito escondidas no meu pequeno e fraco coração de jovem que sou. Apenas peço para lerem esta pequena carta. Não precisam de responder, nem sequer me referir que efectuaram a leitura da mesma. Apenas leiam.
Quando o mundo está dividido, por pequenas linhas imaginárias, onde os desastres naturais destroem o que outrora era belo, ainda existe algo que faz com que gostemos de viver. Caros desconhecidos, julgo estar apaixonada. Julgo sentir aqui dentro deste meu órgão vital à minha sobrevivência aquela chama incansável que arde com bastante calor. No entanto, apesar de sentir um formigueiro na barriga, de sentir um aperto no coração quando me afasto, apesar de ansiar e desejar mais e mais, o meu amor não pode ser descoberto. É um amor de amigos, é um amor que emana calor ao estar com ele. Mas isso ele não percebe, e a sua amizade é bem mais importante para mim que qualquer relacionamento que haja entre nós. Aquela faísca, aquela sensação que nos faz achar que nos apaixonámos por pessoa tão perfeita, está sempre presente em mim. É uma sensação inexplicável, mas no entanto, é muito dolorosa. Este sentimento que perdeu a voz por receio de voltar a sair magoado, esta magia que recuperou a minha vida da miséria que era não se mostra por medo de ficar sem ninguém.
Devia de contar-lhe, dizem vocês. Devia de expressar o quanto sinto por ele. Mas porquê? Porquê estragar uma relação estável e inabalável de amizade por algo que ele pode não retruibuir. A ti, meu amor sem saberes, expresso um desejo enorme de que te apaixones por mim. Porque tu sabes o quão importante és para mim. Sabes o quão especial és para mim, mas no entanto, julgas que isto é fruto de uma bela e boa amizade. Mas não pensem que isto é apenas confusão do meu sensível coração. Eu não sou tão criança assim para confundir amor com amizade genuína. Mas porque é que eu não sou capaz de te revelar este meu segredo, visto que te revelei todos os meus outros segredos obscuros? Porque é que ao pé de ti perco as palavras e comporto-me como “uma criança”, como tu dizes. Este meu medo irracional de voltar a sofrer, de voltar a entregar o meu coração como se fosse a pedra mais preciosa do mundo e de o atirarem ao chão como se fosse um pedaço de papel amassado. Porque é que tive de me apaixonar? Justo agora que tinha decidido que não me iria envolver com mais ninguém para finalmente seguir os meus sonhos. Porque é que eu sou uma pessoa que não consegue viver sem estar apaixonada? Porquê?
Eu não consigo contar. Não posso contar. É como se tivesse feito o voto inquebrável de uma promessa e que então não pudesse sequer revelar o que se passa comigo. Imagino que te conto e tu dizes que também sentes o mesmo. Mas tudo isso é imaginação minha. É obvio que não gostas de mim, porque continuas a pensar na ex-namorada. É óbvio que não gostas de mim, porque eu não presto. Mas essa paixão que vai crescendo a cada dia que passa. Decidi. Mesmo que eu chore e sofra, e me vá abaixo mais uma vez, eu terei de te contar. Vou contar-te quando te encontrar outra vez. Quando for a tua casa novamente. Não poderei envolver-me contigo, quando eu gosto de ti e tu não gostas de mim, pelo menos não da maneira como eu gostaria.
Porque gosto tanto de ti? Porque sempre que vou para junto de ti fico tão feliz que nada que me possam fazer irá estragar a minha felicidade?
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