BEIJO (poesia com o João... um deus desconhecido...)

BEIJO 
I

Meus lábios caminham sobre os teus sem lhes tocar
de tua entrega o mais doce aroma lendo
e tocam-nos, muito ao de leve, ehhhhh

Que encontro tão familiar de dois estranhos
Que gosto comum tão surpreendente de nos darmos
Esperava-te como quem dormia, ohhhh
Como me levas nesse toque aveludado que magia…

Nossas doces carnes se encontrando tão macias
Correntes invisíveis de procura levitando
Quatro lábios ternos, irmanados na procura

Tocam-se as línguas, cresce a sede
Sorvo de tua boca toda a fome
E aceito de teus lábios o idioma mudo da volúpia
que nos vai tomando

Bocas sábias ousadas línguas
Acendem num só beijo longo e variado
Os sentidos todos, o desejo máximo
Que te faz tremer, subir, montar o meu desejo

II

O perfume que exalas inebria-me
Ver tua nudez é um feitiço
Abordo num sereno bafo a tua vulva
Beijo sem pudor teus lábios, teu vazio

Guloso abordo o mais íntimo de ti
O mais sexual
Lambo e sorvo e trago o teu prazer

Tua cor rósea e húmida oferecida
à minha língua langorosa e funda
ao meu beijo mais genuíno e sensual

Se mais gemes mais fundo me entrego
Faço-te crescer, vais vir-te e vais querer
que inteiro entre e dentro de ti te dê o verdadeiro beijo.
...
João


III
Sinto-me ninfa dessa tua boca qual clareira
Bailando tua língua em meu rosado bosque humedecido
A boca que me domina dócil feiticeira
Como se uma chuva de cristais aí tivesse caído
Elevando à tua boca aroma da roseira
Afável néctar em teus lábios imprimido
Nesse derradeiro beijo tão sentido
De que me tomas por tua companheira
No visceral enlace compartido
De tão gulosa brincadeira

IV
Venho-me de rosto contorcido
O corpo arqueado em tuas mãos
Tremendo de espasmos desfalecido
Tombando dos teus lábios quase em grãos
Orgasmos líquidos leitosos
Fundidos em beijos desejosos
Quais pérolas como gotas de orvalho doce
Escorrendo ribeira ensandecida
Curso de rio que na tua boca fosse
Margens enchente por tua vontade consentida
E dando-me rio de mim sou-te nascente
A começar nesse beijo longo e louco
Que dentro da caverna sabe a pouco
Que dentro do corpo a alma sente
Que dentro da boca outra boca mente

musa


V

Afogas-me nessa torrente de palavras
e se cada uma destila um sentimento
afogas-me nesse mar de sentimentos
como se tal fosse possível.

Mas eu quero menos, quero mais:
entrar dentro de ti sem cerimónia
beijar-te esses lábios sem pudor
passear pela tua pele toda minhas mãos

Levar-te da surpresa à entrega nuns instantes
explorar cada milímetro de ti, da tua carne
e com pulmões de touro possuir-te

E nesse desígnio inconsciente
Resgatar-te mais mulher, menos palavras.

VI

Sou agora senhor dos teus domínios
Tu que me cativaste és agora minha serva…

João

VII
Serva condenada
à masmorra tua boca
ao teu corpo enfeitiçada
ao teu beijo como louca
ao teu olhar resgatada

mulher amada
dos teus domínios loucura
em desejos tão eloquentes
corres galgas buscas procura
dos olhos hirtos dementes
sorves humedecida secura
com as mãos ávidas e quentes

meu cativo
amo senhor
abrigo
de insanos desejos
perturbantes beijos
quase castigo
quase dor

VIII
Tão louca me tendes de amor
Puro devasso visceral
Inebriante quase flor
Aos vossos olhos fatal
Despem-me sem pudor
Das vestes de donzela amada
Que em desejos crucificada
É de vós… meu senhor

musa


IX
Serva corça vulnerável, animal
Sob meu corpo entregue em doce altar
Vulcão ardente que ateamos
E que tenho agora que acalmar

Os teus olhos fechados ou submissos, ou vendados
Submissa toda tu, ávido engano
Porque se meu corpo o teu imobiliza
E utiliza a bel-prazer sem contemplar
Com igual voragem teu tufão me sorve
No precipício sem fim do teu prazer

Quieta, não te mexas
Hoje o teu corpo é um reino onde eu posso entrar e entrar
Bebo sem cerimónia dos teus lábios, como-os
E como tua face, teu pescoço e onde quiser
Com meu peito esmago o teu e respiramos
Nossos cheiros, nossos fluidos, nosso único alimento

Ventre contra ventre, suspiramos,
Em doce rendição gemes, baixinho,
Porque nem teus gemidos te pertencem
Toda toda minha, abandonada

(Terna é a tua entrega, minha posse sem pecado)

Minha carne dura entra a tua firme, humedecida
Cavaleiro à rédea solta na mais passiva sela
Ficamos longamente, só nós dois
Não existe mundo nem além nem de nome nada
Só eu te possuindo, tu me tendo, sem pensar

Vou apenas finalmente libertar-te
Quando o teu fragor, igual ao meu
For impossível de deter
E cavalgarmos
Dois orgasmos longos, furiosos, animais
Mais que sonhados, bem reais.

João

x
Tenho as mãos frias
Os passos indecisos pelo passeio
Bate-me o coração de um calor indefinido
Sinto no ar ainda a ressonância inebriante da tua voz

Abres-me a porta e enche-se o ar de ti, esqueço o frio
Se só sinto o calor da tua face, abraço-te
Devolves-me o calor como ao gelo que derrete
Tenho de tocar-te e sobre a roupa

vou moldando uma carícia ainda ansiosa

as tuas mãos esculpindo a minha détente

e as minhas esculpindo-te a pele inteira

Agora a minha boca é já uma paixão que te arrepia
Sorvem-se nossos lábios na sofreguidão mútua que é o nosso segredo – meu amor
Cresce em mim tua pulsão, em ti a minha
E suportamos limites quase dolorosos
Porque sabemos

Que vamos entregar-nos
Tu recebes-me na mais húmida carícia do teu ventre
Eu penetro a mais íntima fronteira com doçura e força

Desejo, fogo, sofreguidão, trémulo arrepio
O meu corpo contra o teu
Eu dentro de ti crescendo
e tu sorvendo-me
(quero o teu orgasmo)
e eu fruindo

e depois não há retorno
respirações, gemidos, gritos
pára o tempo, prolongam-se os instantes, sabemos lá
só existe aquele ponto em que nos entramos quase sem sair
só existem nossos corpos arqueando-se
e já só ouvimos nossos corpos retesando-se
no prazer sem nome nem limites que nos deixa amantes.

Húmido amanhecer

Bate a chuva na janela
Uma carícia
Filtra o dia uma tranquila luz…

Ainda colado a ti acordo
E recordo a tua pele
aveludada
o meu corpo contra o teu
o teu brilhando sobre o meu

Já esta noite o tempo parou
eu dentro de ti jovem e duro
em extasia
tu recebendo-me
na tua casa quente e túrgida
de desejo e fantasia

Ensinas-me a música da luxúria
Apeteces-me mais

Por isso

Beberei por mais um dia todo o teu calor
Sorverei de novo com calma o fragor da tua carne
Penetrarei até ao âmago de ti de peito aberto

De novo com faminto ardor
nossos lábios se procuram e se entregam
Num beijo só percorro a tua boca
o teu pescoço, o teu peito acolhedor
Minhas mãos teus flancos arqueando
O cheiro inebriante do teu ventre
me avassala
e lambo

O teu clítoris generoso e doce
Quero-o…
Quero de novo
fazê-lo
beijá-lo
chupá-lo
sorvê-lo
e tu queres e queres e gemes quero mais

E depois
Vou encontrar-te finalmente, minha amante
O teu calor devora-me os sentidos
E sinto cada instante de ti, cada tremor...

Cai lá fora a chuva acolhedora, nasce o dia
e longamente misturámos nossos fluidos, nossos olhos
meu amor.

...

João & musa
 

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Sunday, May 15, 2011 - 16:48

Poesia :

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