TENHO-TE CONFESSO

Tenho-te ainda no pulsar dos dedos
Cada grama do peso dos teus olhos
Sobre a imensidão do azul olhar
Na pele engelhada desse sentir
Trémula pulsante a palpitar
Na teimosia desse proibir
Dentro de mim fazeres-te ao mar
Sem eu deixar ou te pedir
Te suplicar ou invocar

Tenho-te na negação de todos os sentidos
Pautas de pele náufraga em excitação
Sobre curvas esquinas contornos perdidos
Risos de emoção por trilhos sonoros
A cada beijo dos teus lábios ousados desmedidos
Um altar de lembranças feito de paixão
Caminhante por todos os poros
Brisas de suspiros loucos de tesão
O teu arfar no meu
Ao rubro da sedução
Que o verso ensandeceu
Nos dedos da mão

Tenho-te dessa loucura
Feita desassossego inquietação
Bramindo doce ternura
O tempo de encontro dessa procura
Sem medo da solidão
Que os dois possamos transgredir
E no vendaval desse sentir
Entregues em provocação
Um de nós possa admitir
O furacão desta paixão
Que do sentir nos faz fugir
Para o descobrir do vulcão
No corpo prenhe de tesão
Na mente entregue
Em desvairada confissão
Que sentido negue
Ao toque da mão

Tenho-te ainda em tímidos sorrisos
As dúvidas as incertezas
Os feitos as proezas
Partilhas do nosso passado
Em pequenos passos imprecisos
Caminhando lado a lado
Do tempo imperfeito de nós
Da prece do choro do grito da voz
O perdão invocado
O coração apunhalado
Pelo tanto desse sentir
Por esse partir

Tenho-te onde nunca te pude pedir
Numa brecha entre o corpo e a alma
Num rasgo de inquietação
Num soluçar sem razão
Que assim me acalma
Admitir esta situação
Que deixei acontecer
E acabei por te perder
Onde te amei de prazer
E fiquei nua de ti
Dividida entre o ser
De tudo o que de ti
Jamais senti
Pude perder

musa
 

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Saturday, May 21, 2011 - 00:07

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