ÚLTIMO FÔLEGO DO INVERNO NA LAREIRA DA POESIA

A rua passa aos pés
de uma janela aberta às costas da quimera.

Leva o passeio como alforge desdito.
A boca parte como cântaro de silêncios.
Os olhos vão sem rito pelo ar cego das curvas das horas.

A lua em derrocada
sobre a sua própria barriga inchada de marés
que se alimentam de esquinas nas tetas das rochas.

Línguas como tochas jorram lume
numa caverna de insónias em desnorte.
A morte como noiva de um casulo de lágrimas. 

A alma alquebrada
por detrás de uma fria cortina.
Amotinada num remoinho de mãos
que esbofeteiam os lábios de um papel em branco.

Palavras como teia
tecida de ramos anedotizados,
Amputados por trovões de solidão
de uma árvore derrotada por uma pena sem tinta.

Gotas de amor aos pares separados
como morcegos que bailam descalços
nos candeeiros debruçados ao diz-que-diz-que.

A fricção do beijo como mortalha de atrito
que embrulha a saliva dos amantes ao som do Outono.

De voz vendada onde as folhas caem
sem nervo pelo amarelo findo do tempo,
vai o serão insosso como espantalho sem osso.
Empalhado de agulhas numa ceara de aparências.

O céu esconde as estrelas
como se fossem rugas na sua cara.
Desmembrada pela sementeira da tempestade.

A noite acena com nuvens ébrias de chuva.
O inverno entra em cena no parapeito do corpo.
Como último fôlego do Inverno na lareira da poesia.

 

 

Submited by

Martes, Octubre 25, 2011 - 00:52

Poesia :

Su voto: Nada (4 votos)

Henrique

Imagen de Henrique
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 9 años 9 semanas
Integró: 03/07/2008
Posts:
Points: 34815

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Henrique

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/Pensamientos DA POESIA 1 8.111 05/26/2020 - 23:50 Portuguese
Videos/Otros Já viram o Pedro abrunhosa sem óculos? Pois ora aqui o têm. 1 43.310 06/11/2019 - 09:39 Portuguese
Poesia/Tristeza TEUS OLHOS SÃO NADA 1 4.027 03/06/2018 - 21:51 Portuguese
Poesia/Pensamientos ONDE O INFINITO SEJA O PRINCÍPIO 4 4.574 02/28/2018 - 17:42 Portuguese
Poesia/Pensamientos APALPOS INTERMITENTES 0 4.381 02/10/2015 - 22:50 Portuguese
Poesia/Aforismo AQUILO QUE O JUÍZO É 0 4.968 02/03/2015 - 20:08 Portuguese
Poesia/Pensamientos ISENTO DE AMAR 0 6.431 02/02/2015 - 21:08 Portuguese
Poesia/Amor LUME MAIS DO QUE ACESO 0 5.661 02/01/2015 - 22:51 Portuguese
Poesia/Pensamientos PELO TEMPO 0 4.345 01/31/2015 - 21:34 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO AMOR 0 4.118 01/30/2015 - 21:48 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO SENTIMENTO 0 4.607 01/29/2015 - 22:55 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO PENSAMENTO 0 4.345 01/29/2015 - 19:53 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO SONHO 0 3.848 01/29/2015 - 01:04 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO SILÊNCIO 0 5.248 01/29/2015 - 00:36 Portuguese
Poesia/Pensamientos DA CALMA 0 5.021 01/28/2015 - 21:27 Portuguese
Poesia/Pensamientos REPASTO DE ESQUECIMENTO 0 4.016 01/27/2015 - 22:48 Portuguese
Poesia/Pensamientos MORRER QUE POR DENTRO DA PELE VIVE 0 4.484 01/27/2015 - 16:59 Portuguese
Poesia/Aforismo NENHUMA MULTIDÃO O SERÁ 0 3.759 01/26/2015 - 20:44 Portuguese
Poesia/Pensamientos SILENCIOSA SOMBRA DE SOLIDÃO 0 4.741 01/25/2015 - 22:36 Portuguese
Poesia/Pensamientos MIGALHAS DE SAUDADE 0 3.602 01/22/2015 - 22:32 Portuguese
Poesia/Pensamientos ONDE O AMOR SEMEIA E COLHE A SOLIDÃO 0 3.481 01/21/2015 - 18:00 Portuguese
Poesia/Pensamientos PALAVRAS À LUPA 0 4.714 01/20/2015 - 19:38 Portuguese
Poesia/Pensamientos MADRESSILVA 0 3.528 01/19/2015 - 21:07 Portuguese
Poesia/Pensamientos NA SOLIDÃO 0 4.133 01/17/2015 - 23:32 Portuguese
Poesia/Pensamientos LÁPIS DE SER 0 4.250 01/16/2015 - 20:47 Portuguese