APÓGRAFO DA ROSA-DOS-VENTOS

O tempo é uma mão teimosa que empurra.

Mão de gelo que se derrete nos olhos
como Antárctida gasta pela civilização.

Mão que indaga o corpo.
Mão de ar sôfrego que dispõe vincos na pele
qual vento desenhe a imperfeição pela face do deserto.

O tempo são olhos que olham sequiosos do escuro.

Gato preto no meio de um monte carvão
como gota de chuva amontoada no mar à tempestade.

Olhos famintos de olhar.
Dois pontos escuros no escuro onde vagueia a alma
qual agulha abstrusa num palheiro espera ser encontrada.

O tempo é voz de luas
repetindo todas as noites o mesmo timbre.
Todas as noites o mesmo sono bocejando mil insónias.

O tempo é instante repleto de instantes.
Voz de pensar que ensina o passo qual tabuada
totalize os momentos da vida num flash de trovão.

Palavra que arde em fogo.
Túnel de calores sem leme cujo vapor coze
a argila do destino que mutila o infinito segundo a segundo.

Dizer que diz as limalhas do tempo
como se a sabedoria fosse uma ampulheta cuja areia subisse.

O tempo é Primavera que semeia o silêncio nas veias do ser.

Apógrafo da rosa-dos-ventos… Aguilhão que escreve o acontecer.

Silhueta na ardósia qual rio que ri
de si próprio abstracto por entre as margens
como sinas caídas em efeito dominó. Corrente sem foro, sem foz.

O tempo é uma mão que aconselha.
Canção que depois de acabar o pensamento cantarola.

 

 

Submited by

Viernes, Enero 13, 2012 - 23:44

Poesia :

Su voto: Nada (3 votos)

Henrique

Imagen de Henrique
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 10 años 9 semanas
Integró: 03/07/2008
Posts:
Points: 34815

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Henrique

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/Pensamientos DA POESIA 1 9.999 05/26/2020 - 23:50 Portuguese
Videos/Otros Já viram o Pedro abrunhosa sem óculos? Pois ora aqui o têm. 1 53.735 06/11/2019 - 09:39 Portuguese
Poesia/Tristeza TEUS OLHOS SÃO NADA 1 9.819 03/06/2018 - 21:51 Portuguese
Poesia/Pensamientos ONDE O INFINITO SEJA O PRINCÍPIO 4 11.956 02/28/2018 - 17:42 Portuguese
Poesia/Pensamientos APALPOS INTERMITENTES 0 10.466 02/10/2015 - 22:50 Portuguese
Poesia/Aforismo AQUILO QUE O JUÍZO É 0 12.256 02/03/2015 - 20:08 Portuguese
Poesia/Pensamientos ISENTO DE AMAR 0 9.741 02/02/2015 - 21:08 Portuguese
Poesia/Amor LUME MAIS DO QUE ACESO 0 10.795 02/01/2015 - 22:51 Portuguese
Poesia/Pensamientos PELO TEMPO 0 8.816 01/31/2015 - 21:34 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO AMOR 0 8.438 01/30/2015 - 21:48 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO SENTIMENTO 0 8.512 01/29/2015 - 22:55 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO PENSAMENTO 0 10.991 01/29/2015 - 19:53 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO SONHO 0 7.806 01/29/2015 - 01:04 Portuguese
Poesia/Pensamientos DO SILÊNCIO 0 8.743 01/29/2015 - 00:36 Portuguese
Poesia/Pensamientos DA CALMA 0 9.322 01/28/2015 - 21:27 Portuguese
Poesia/Pensamientos REPASTO DE ESQUECIMENTO 0 6.975 01/27/2015 - 22:48 Portuguese
Poesia/Pensamientos MORRER QUE POR DENTRO DA PELE VIVE 0 10.818 01/27/2015 - 16:59 Portuguese
Poesia/Aforismo NENHUMA MULTIDÃO O SERÁ 0 8.394 01/26/2015 - 20:44 Portuguese
Poesia/Pensamientos SILENCIOSA SOMBRA DE SOLIDÃO 0 9.442 01/25/2015 - 22:36 Portuguese
Poesia/Pensamientos MIGALHAS DE SAUDADE 0 9.441 01/22/2015 - 22:32 Portuguese
Poesia/Pensamientos ONDE O AMOR SEMEIA E COLHE A SOLIDÃO 0 7.797 01/21/2015 - 18:00 Portuguese
Poesia/Pensamientos PALAVRAS À LUPA 0 7.590 01/20/2015 - 19:38 Portuguese
Poesia/Pensamientos MADRESSILVA 0 6.906 01/19/2015 - 21:07 Portuguese
Poesia/Pensamientos NA SOLIDÃO 0 10.261 01/17/2015 - 23:32 Portuguese
Poesia/Pensamientos LÁPIS DE SER 0 10.171 01/16/2015 - 20:47 Portuguese