Nunca...

De cor cintilante, voas entre os meus sonhos, pintas o meu céu, o meu sol...
nunca a vontade e a razão se debateram tanto dentro das almas, nunca procuramos a realidade...
nunca o teu olhar entrara em mim com a força da luz, com a força da vontade, da loucura...
nunca um aperto...que faria os pêlos eriçarem-se, que faria algo parecer cair num abismo dentro de si mesmo, que faria bater mais forte o mais fortes dos corações, faria mostrar a paixão e desejo dentro de alguém...
algo começa a borbulhar...e a lágrima parece querer saltar...e nunca, com esse olhar meigo e delicioso, como se sempre soubesses o que sentia...como se sempre reconhecesses a sensação...que nunca me penetraria a pele morena, que nunca me arrepiaria os cabelos negros, e que nunca faria brotar água dos pequenos grandes olhos meus...nunca me apaziguaria a dor, o zumbido, o tremer...o que a alma nunca...
nunca uma nuvem densa, um nevoeiro surgido da terra, que penetraria os ossos, nos faria tremer...
nunca tremi...nunca ajoelhei...nunca chorei...
nunca jurei maldições, nunca enfureci multidões, nunca matei as recordações
juntos nunca nos levantamos das trevas...
nunca vimos o sol preencher a nossa alma de cor...como outrora...
como um dia em que nós nunca acontecemos...
e nunca sonhamos um com o outro, em partir para o reencontro que sabemos que nunca acontecerá, nunca sonhamos com o cruzar do nosso olhar em que nos amamos...num mundo que nunca existiu, num parapeito em que nos debruçamos e nunca beijamos aquela bela ilusão de uma noite de verão de Setembro, quente e doce, suave e fresca, iluminada pela luz de uma cidade ardente de desejo e pecado...onde nunca nos encontramos...

O teu beijo doce, o teu abraço, a tua carícia que nunca aconteceu, que nunca senti...e que nunca senti saudades...nunca.