Desventurado Adamastor

I

Seguras um encosto de esquina em nebulosos ocultos,

Esse contemplar tão teu de esmola em sentido...

Já escarlate, o dia num prato vazio,

Consome-se no vento da tua noite mais triste...

Uma coberta beata em sol de caridade,

Sofre o juízo de uma pena de ti

Um cigarro acabado num delírio de tinto,

Borra a míngua da vergonha em excrementos de frio.

Ela, a cidade, tapa-se em vinganças

Como sedas de faca no osso mais bruto

Que chora em insónias desconhecidas infâncias

Desnutridas num sonho desventurado e em luto.

Há que transcender a noite ao leito de mármore

Lápide defunta no desencanto do corpo

Sem inscrição ou memória dos abandonados

Vala da canalha onde estás morto.

E agora escarlate uma manhã de raiva

O retumbar do empório em displicência

Um império de pobres todos em sentido

Num cortejo lúgubre em concorrência.

II

Adamastor...

Engole as tormentas nas águas do rio

Lava os andrajos da miséria no cais

Invade a cidade num musgoso bafio

Que rendilhadas janelas sangram mentira

Doenças venéreas em garrafas de azeite

Crucifixos partidos em degraus de bordeis

Atropelam montanhas fecundas de ódio

Crenças tão falsas como penam os dias

Em caridades hipócritas num meu deus de alivio

Põe Abril num prato porque tarda a bonança

Do alimento liberto da pura ganância

Abraça os justos e mata os traidores

E pinta os dias de todas as cores.

III

O teu ser invisível...

São blocos de pedra...

Sólida...prometida

Onde os homens despidos

Vão construir o sonho.

num grito de cravos...fecundo.

Assim será Adamastor...

Assim será.

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Viernes, Enero 15, 2010 - 00:20

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Lapis-Lazuli

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Re: Desventurado Adamastor

LINDO POEMA, GOSTEI!
Meus parabéns,
Marne

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