Pontes de papel...

Num vaso de estrelas, encontrei uma quimera,
Nasceu um astro, do sonho me fiz semente,
Colhi auras, guardei lágrimas, aguarelas...
Caminhei no nevoeiro, numa ponte de papel.

Ondas desenhadas, acima de qualquer crista,
Navego num horizonte, doidamente perdido,
Veludos cetim de pele, murmúrio inacabado,
Canto-te em dueto, espada, cristal de gelo...

Olho-te papel, a ponte irónica, sorrindo,
Alheia ao deserto, corpo de todas as páginas,
Finjo não sentir, os gumes, lâminas frias,
Um beijo suspenso num retrato de papel;

Não quero taças, nem algemas de lamentos,
Fontes de águas secas, os trilhos da partida,
Silêncios alados, rumando para lá longe,
Orquestra de ventos, sopro de som papel,

Talvez eu seja a terra, tu o mar, aqui tão perto,
Invisível, mas sensível á ravina desta margem,
Farol da noite; um imenso trago amargo...
Cúmplice das palavras, numa ponte de papel.