POEMA DOCE

POEMA DOCE

Paira no ar um perfume
a música doce
tão somente
só
vagueando na neblina
verde esforçado na esperança
de amordaçar para sempre
os cinzentos da vida.
Sinto a pele
de todo o meu corpo
dobrar a esquina
do futuro adiado
e a minha mente
grita em tons de azul
as memórias do passado.
Uma lágrima vermelha
solta-se tranquila
da mão calejada
que tantas mulheres acariciou.
Tu ...
escondida nas ruas
metida na cama
entre quatro paredes
enquanto os cães uivam
ao sol e à lua
vem ao mundo
encontrar-me e desejar-me
que o meu desejo é vida
que a vida é encontrar-te.
Mulher ...
corpo amor
fecundidade inteligente
deixa-me louco
viajar nos teus olhos
encontrar paraísos verdade
e que os teus cabelos
se confundam com os meus
e as tuas mãos
acariciem os meus medos
e a tua boca sensual
de manhã cedo à noite
solte as palavras de cristal
que os meus ouvidos graníticos
beberão avidamente.
Paira no ar um perfume
a mulher autêntica
perdida nos labirintos do universo
e os meus olhos
tão somente
te querem abraçar
e a minha masculinidade
quer colorir o vazio
das palavras que não dizes
dos sonhos que não sonhas
da vida que não vives.
Mulher ...
doce engenho
gerado para o meu tormento
quero desaguar em ti
o meu rio de desenganos
quero fazer do mundo
uma planície verde-esperança
e que as crianças brinquem
dentro dos corpos dos adultos
que esqueceram o sonho.
Que as crianças iluminem
os senhores da guerra
todos poderosos e maciços
d’aquém e d’além-mar
e que tu ... mulher
não sintas o medo
de ser mãe companheira
do universo ... de mim .

18. 03. 2003
in MEDO DO AMOR
Jorge d'Além-Mar