O que é o Amor?
Num café, no centro da praça
um homem entra desalentado
os presentes ignoram o coitado
Olhos tristes em rosto barbeado
De cigarro Marlboro apagado,
nos lábios húmidos mordido
aproximou-se do balcão
e deu voz ao coração:
"
Sabeis vós o que é o Amor?
Tereis vós por mim Rancôr?
Quantos de vós sentiram dor?
Quantos amaram com fervor?"
De avental preto na cintura
Joana, a linda criatura
sorriu com o monólogo dele
e servindo-o, respondeu com finura:
"
Não sabeis, a Boa nova de agora?
O amor é o auge da estranha dor
De sofrer e não ser correspondida
de ser em teus devaneios perdida.
Nunca fui na divina palavra, amada
Nunca fui seduzida ou tocada
carrego cento e vinte quilos de gente
Não atiço paixão, ou um pretendente."
Dois goles de J6B pela garganta viril
O olhar incauto e desprevenido, dele
Na imensidão dela, perto do velho senil
que o criticava em silêncio, a ele:
"
Asseguro-vos que o Amor que defendo
não vê formas fisicas, ou outro diferendo
A capacidade de apaixonar reside aqui
no coração, na essêncoa do credo!
Amei e fui amado e por ela fui deixado
foi culpa do jardineiro, esse coitado
Mas cuidai, que foi Mea Culpa
por nunca haver trabalhado.
Cuidava eu, linda e sábia dama
que me bastava ser bom de cama
um marido para passar o serão
Cama, casa e roupa lavada, pois então!"
O velho que brincava com a placa
na boca já bastante gasta
ele, que se tinha de fina casta
não perdeu demora a sentenciar:
"
Jovens destes loucos tempos modernos
Julgam que tudo sabem, tudo conhecem
Deixaram a mulher trabalhar
fora da cozinha mandar!
No meu tempo piava fininho
se abusavam,levavam no focinho
eramos fortes e mandões
não havia grandes serões
Mulher deve ao marido mimar
e a ele deve só agradar
porque essa modernidade de amar
só traz imoraliddae e falsidade"
Joana incrédula com o que ouvira
zangada com o que o velho proferira
logo zarpou em defesa das Damas
Argumentando com toda a malicia:
"
No seu tempo, ó coitado velhinho
A escuridão da mente era a razão
tratavam as mulheres como gado
feios, porcos e maus e sem tesão
bater na mulher era o serão
de quem não tinha perdão
ao virem da dura labuta
tratavam a coitada como pu...
O velho agitou o braço enfurecido.
acalmado pelo jovem decidido
que de voz suave e melancólica
retomou á sua dor, insólita:
"
A minha mulher era a princeza
No meu Ser toda ela beleza
vivia só para a ver sorrir
castigo-me por a ver partir.
Se Amar é desejar o melhor
Se Amar é viver em dor
Então ela que parta
e o jardineiro...ao raio que o parta!"
Joana acenou negativamente a cabeça
pano ao ombro e rosto sereno
respondeu em tom ameno
olhando o jovem com clareza:
"
Se é como dizeis, não a deixeis fugir
lutai por ela, agora tendes de decidir
Encontrarás outra princeza assim?
ou irás errar, pobre delfim?
O jovem olhou prazenteiro
largou no balcão o dinheiro
e sorriu para ela ,antes de partir
para a sua amada, garantir!
O que é o Amor?
Como apagar esta Dor?
como lutar contra rancor?
como aliviar o torpor?
O velho sai de fininho
Envergonhado pelo tinto
que lhe baralhou a ideia
não fosse ela, ir-lhe ao focinho!
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 6130 reads
Add comment
other contents of Mefistus
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Desilusión | Cinzento como o tempo | 9 | 1.297 | 02/05/2010 - 12:00 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | Olha.... | 10 | 1.015 | 02/04/2010 - 22:14 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | O puto que não queria nadar- Dedicado a MariaCarla | 7 | 891 | 02/02/2010 - 01:06 | Portuguese | |
Poesia/General | Conta-me como Foi | 5 | 1.906 | 02/02/2010 - 00:57 | Portuguese | |
Poesia/Intervención | A Morte de Jota | 15 | 1.291 | 01/31/2010 - 16:35 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | Terra à Vista! | 16 | 1.564 | 01/29/2010 - 22:14 | Portuguese | |
Poesia/General | Na tua boca jaz o instinto | 7 | 1.105 | 01/29/2010 - 19:01 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | Janeiro | 8 | 1.149 | 01/29/2010 - 10:28 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Casanova | 6 | 1.743 | 01/28/2010 - 23:06 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Os anos já passados | 5 | 888 | 01/25/2010 - 13:09 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | Madalena arrependida | 11 | 1.280 | 01/24/2010 - 19:37 | Portuguese | |
Poesia/Gótico | Caveiras e Cristais | 8 | 965 | 01/21/2010 - 21:27 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Casablanca | 5 | 1.968 | 01/21/2010 - 16:40 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | A vida é uma eterna poesia | 9 | 855 | 01/19/2010 - 20:18 | Portuguese | |
Poesia/Erótico | Suavemente | 15 | 1.794 | 01/19/2010 - 16:43 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Obrigado! | 5 | 966 | 01/19/2010 - 00:12 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | História simples | 7 | 917 | 01/18/2010 - 15:39 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Inacabado | 7 | 870 | 01/15/2010 - 22:59 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Domingo... | 5 | 1.435 | 01/15/2010 - 21:03 | Portuguese | |
Poesia/Comedia | Me visite!! | 8 | 1.551 | 01/15/2010 - 14:46 | Portuguese | |
Poesia/Intervención | Momentos (2) | 9 | 1.223 | 01/15/2010 - 14:43 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Momentos | 11 | 1.317 | 01/15/2010 - 14:37 | Portuguese | |
Prosas/Contos | Crónicas de Mauro - Fritz investiga | 3 | 1.907 | 01/14/2010 - 22:30 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | Mundo de Açucar | 9 | 1.440 | 01/06/2010 - 14:27 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | Amiga... | 7 | 1.217 | 01/05/2010 - 20:10 | Portuguese |
Comentarios
Re: O que é o Amor?
Essa é uma pergunta que me martela os sentidos todos e quando faço essa mesma pergunta "Mas afinal o que é isso do amor" Olham-me como a uma ave rara e nada dizem
Mas eu digo a mim mesma muito do que gostava de ver no AMOR
gosto de te ler
beijo
Dolores Marques
Re: O que é o Amor?
Adorei e acredita já sentia saudades de te ler nestes teus registos engraçados e verdadeiros ao que saliento o teu embaraço:
"bater na mulher era o serão
de quem não tinha perdão
ao virem da dura labuta
tratavam a coitada como pu..."
Como puta!
Beijinhos
Carla
Re: O que é o Amor?
Um prazer de leitura, nestes singelos versos, uma leveza que encanta! Abraços
Re: O que é o Amor?
Asseguro-vos que o Amor que defendo
não vê formas fisicas, ou outro diferendo
A capacidade de apaixonar reside aqui
no coração, na essêncoa do credo!
Mefistus,
está absolutamente fantástico, quase que é possível assistir ás cenas de camarote. A tua poesia faz-se presente por ela própria, pela força das imagens e dos sentimentos que transmite.
Abraço
Nuno
Re: O que é o Amor?
"Asseguro-vos que o Amor que defendo
não vê formas fisicas, ou outro diferendo
A capacidade de apaixonar reside aqui
no coração, na essência do credo!"
Ja tinha saudades deste registo teu, não dispenso um teatro teu, trazido assim com tanto brilho entre veludos e cenarios para deleite dos meus olhos e sentidos!
Gostei imenso e ainda dei umas gargalhadas com o descaro e machismo rezingão do velho, claro q a empregada vai ser minha amiga para sempre! LOL
Beijinho grande em ti!
Inês
Re: O que é o Amor?
A forma como conta histórias em versos rimados, é qualquer coisa de fantástico! Bem elaborado, inspirado e engraçado. Concordo com a Joana, quer em relação ao velho, quer aconselhando o jovem a lutar pelo seu amor. :-)
Adorei :-)
Beijo,
Clarisse