Viagem

Sei que esqueceste de como era no começo desta imensa viagem,
De como eram feitos os muros, as árvores ou os beijos na língua
Daquele mundo que te ia acrescentando aos poucos à eternidade.

Sei que vês que tudo passa, e não queres acreditar, que tudo corre,
Tudo morre para trás e no pedaço que falta em frente, tudo tem um silêncio
Que acaba por ficar e que nos faz homens e cobardes ao mesmo tempo.

Sei que sabes que nunca vai haver ninguém para escrever o teu nome nas ruas,
Nas casas, nos rios ou nas pontes apenas para acertar o jeito do mundo,
Apenas para desajeitar um pouquinho de amor nas coisas que são mais indevidas.

Sei que pensas que não é justo! Não é assim?

Bem, mas talvez julgues que as memórias não contam, que apenas convivem
Connosco nos lugares que esquecemos e atrás das palavras que parámos de usar.

E talvez nunca tenhas telefonado a outro alguém e perguntado se as vezes que
Olhaste e sorriste lá para fora foram suficientes para saber o caminho para casa.

E agora? O que pensas disto?

É que a vida às vezes pode ser assim, coroada de deslumbrantes passados que desprezas
E de silêncios que contam com eles para saber declamar o mais belo poema de amor.

Mas sim, seria bem mais fácil se morrêssemos primeiro para nos livrarmos logo disso,
E o resto da viagem cabia-nos bem melhor se fosse feito de trás para a frente
Para terminar no colo da nossas mães com todo o deslumbramento que nos é permitido.

Assim era bem melhor não era? Era?

Talvez não, talvez a vida ande de frente para trás para poderes lembrar tudo o que te trouxe e não tudo o que te leva,
E sempre corra para que não te arrependas do fundo do coração das coisas que tiveram
De ficar paradas por já não haver amor contigo que fosse suficiente para elas.

E o silêncio, o silêncio talvez seja a mais estranha certeza de que tudo o que devia ser feito ficou no tempo certo,
E que mais nada te resta, e mais nada te falta, para que possas anunciar
O último beijo sem que tenhas deixado nada por fazer ou mais ninguém por amar.

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Martes, Junio 8, 2010 - 23:10

Poesia :

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jopeman

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Re: Viagem

Eu acho que somos nós que vamos escrevendo o nosso nome "nas ruas, nas casas, nos rios e nas pontes".
À tua maneira, vais escrevendo o teu.
Gosto da tua escrita.

Abraço

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Re: Viagem

Ai João... Ás vezes fico deslumbrada com essa tua doce sabedoria!
E de repente dei comigo a lembrar-me do filme do Benjamin Button e a pensar q a vida, nem sempre satisfaz, porque tb nem sempre a satisfazemos, mas caminha para o lado certo!

"Bem, mas talvez julgues que as memórias não contam, que apenas convivem
Connosco nos lugares que esquecemos e atrás das palavras que parámos de usar.

E talvez nunca tenhas telefonado a outro alguém e perguntado se as vezes que
Olhaste e sorriste lá para fora foram suficientes para saber o caminho para casa"

Impossivel não sublinhar esta parte!
Gosto mesmo de te ler, caramba!
Beijinho grande em ti!
Inês

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