Nova Viagem à Lua - Ato Primeiro - Cena IV
Cena IV
Machadinho, Augusto, Silva, Luís e Arruda
Arruda (Sai de casa e parece preocupado com a leitura de um livro.) - Doze pé de artura sobre nove de largo. (A Luís, que lhe estende a mão.) Tu estava aí, Lulu? Deus Nosso Senhor Jesus Cristo te dê uma boa sorte. - Ó Lulu me diz: isto é verdade memo? Estes home fôrum a Lua?
Luís - Que homens, papai?
Arruda - Aqui tá escrevido em letra de imprensa nesta novela de (Lendo o lombo do livro.) Júlio Verne.
Luís - É e não é verdade.
Machadinho (Puxando pelo paletó.) - Cala-te, diabo! Deixa-me falar: achei um meio.
Arruda - Ó Lulu, pois se aqui está imprimido! Como é entonces que não é verdade, home? Pois os livros da imprensa também mente, home?
Machadinho - O Luís tem razão, Senhor Arruda; é e não é verdade.
Arruda - Quá seu doutô, não é possíve!
Machadinho - Eu me explico: é verdade, porque tudo isso que aí está escrito, aconteceu - e o não é, quanto ao nome dos personagens, que estão trocados.
Arruda - Mas entonces por quê?
Machadinho (Estalando os dedos.) Isso foi um cometimento grandioso, que abalou todas as notabilidades científicas dos dois mundos.
Arruda - Os dois mundo? Quá é outro? (Satisfeito por ter achado.) Ah! é o mundo da Lua!
Silva (Rindo-se.) - Nada: o mundo velho e o novo mundo.
Arruda (Com ares de quem sabe.) - Sim... sim...o véio e o novo... Vamo adiante.
Machadinho- Como ia dizendo, essa empresa abalou todas as notabilidades científicas... todas e mais algumas!
Arruda - Que brincadeira, hein? Abalou muita gente!
Machadinho - Os que tomaram parte nela foram alvo de estrondosas manifestações, e por modéstia ocultaram os seus nomes; se assim não fizessem o povo da União não os deixaria mais descansar.
Arruda - Da União e Indústria? (Risadas.)
Machadinho- Quem lhe falou em União e Indústria? A União, isto é, os Estados Unidos da América!
Arruda - Ahn... Agora entendi, seu doutô. Pois, meus amigo, tou com vontade de dá um passeio até a Lua!
Silva (Baixinho, a Machadinho.) - Até a Lua? E esta?...
Arruda - Vamo à Lua, vamo, rapaziada? Que glória pra nós e pro Brasil, pro mode disso.
Machadinho - Soberbo! Sublime arrojo!
Arruda - É um grande projeto, não é, seu doutô?
Machadinho - Admirável!
Augusto - Incomparável!
Silva - Incomensurável!
Arruda - Vocês são quase engenheiro...
Augusto - Menos eu...
Arruda - Se encarrégum de arranjá o apareio... mas porém eu é que devo dá o risco! Que tu diz a isto, Lulu?
Luís (Simplesmente;) - Eu digo... Não digo nada...
Arruda - Iremo num foguete!
Machadinho - Boa idéia!
Arruda - Só lhe falta o rabo.
Machadinho - À idéia?
Arruda - Ao foguete.
Machadinho - Comprometo-me pela construção do aparelho!
Arruda - O foguete há de assubir do morro mais arto que houvé no Rio de Janeiro!
Machadinho - Certamente.
Arruda - Duma feita em qu’o céu tivé bem limpo, e não chuvá nem trovoada tão cedo.
Silva - Isso é que há de ser difícil!
Arruda - Difice? Tenho aqui o tira-teima, home ! (Tirando um folheto do bolso.) O Armanaque do Ayer! Isto é aquela certeza. Se ele pega diz que não chové, é porque não chove memo.
Augusto (À parte.) - Em que dará tudo isto?
Arruda - Vamo passá o entrudo na Lua: ao menos o terceiro dia há de ser muito adivertido!
Luís - Mas, papai, a empresa é muito dispendiosa.
Arruda - Sou pobre de rico, louvado seja Deus Nosso Senhor Jesus Cristo! Pra cobri de glória a minha terra, não olho sacrafício.
Luís - Mas...
Machadinho (À parte, a Luís.) - Não te calarás! (Alto, a Arruda.) Está dito, Senhor Arruda, vá fazer o desenho do foguete. E hurra pela Lua!
Todos - Hurra!
Rondó e coro
Machadinho - Isto há de dar ao mundo o que falar!
Estes tipos pelo ar
(é verdade nua e crua!),
num foguete a viajar!
A glória que nós vamos conseguir,
essa glória que há de vir,
- não há nada que a destrua;
nada a pode destruir!
Quando chegarmos à Lua,
hei de, olé! me divertir!
Tomarei uma perua!
Muito havemos nós de rir!
Todos - Quando chegarmos à Lua,
hei de, olé! me divertir!
Tomarei uma perua!
Muito havemos nós de rir!
Machadinho - Destemidos, decididos,
vamos viajar
no ar!
Sujeitos tão atrevidos
se procurarão
em vão.
O nosso nome
grande renome
com certeza alcançará;
um monumento
tão grande invento
juro que valer-nos-a!
Pobre ficamos
que mal nos faz?
Glória alcançamos,
que vale mais!
- Muito ganhamos
coa empresa audaz
que honra nos traz!
Quando chegarmos à Lua,
hei de, olé! me divertir!
Tomarei uma perua!
Muito havemos nós de rir!
Todos - Quando chegarmos à Lua,
hei de, olé! me divertir!
Tomarei uma perua!
Muito havemos nós de rir!
Machadinho - Agraciados,
remunerados,
condecorados
seremos nós!
A viajar
vamos honrar
nossos avós!
Todos - Agraciados,
remunerados,
condecorados
seremos nós!
A viajar
vamos honrar
nossos avós!
Machadinho - Receberemos mil atenções
e comissões,
aclamações,
licitações,
exortações,
adulações
animações,
publicações
e muitas congratulações!!...
Todos - Quando chegarmos à Lua,
hei de, olé! me divertir!
Tomarei uma perua!
Muito havemos nós de rir!
Arruda - Vou tratar do desenho. (Entra em casa.)
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