Nova Viagem à Lua - Ato Segundo - Cena II

Cena II

Machadinho e Luís

Luís (Trazendo Machadinho pelo braço.) - Vem cá, vem cá...

Machadinho - Espera... espera... (Quer voltar.)

Luís (Trazendo-o à boca de cena.) - Mas, enfim, de que meio te serviste para fazer com que papai viesse à corte?

Machadinho (Com volubilidade.) - Do mais simples: fiz-lhe ver que a ascensão só podia efetuar-se do Corcovado. Fiz-lhe grandes preleções sobre distâncias, etc. Ele a princípio hesitou, mas convenceu-se, afinal, de que era necessário ceder. Ainda assim impôs a condição que só viria na véspera da ascensão, e que eu partiria antes dele, imediatamente, para mandar construir o foguete. Esta conversa foi de madrugada; às seis da manhã estava eu de viagem. Ainda estavas dormindo; não quis acordar-te, e eis aí por que ignoravas em que pé estão as coisas. - Uf! que está quente hoje! (Vai a sair; Luís toma-lhe a passagem.)

Luís - Apenas chegados ontem à noite, viemos da Estação para cá.

Machadinho - Que é dele?

Luís - Dorme.

Machadinho (A meia voz) - Se visses! É um imenso foguete de papelão bronzeado, em cujo bojo existe um espaçoso compartimento, capaz de conter folgadamente seis pessoas. Tem seis janelas e uma porta, que fica na cabeça. O construtor saiu-se. Mandei fotografar o carro e o foguete. (Vai saindo)

Luís (Retendo-o) - Para quê?

Machadinho - Para convencer ao velho de que seu risco foi seguido à risca. Arrisquei só Três mil réis com a fotografia.

Luís - Então fostes ao Lopes?

Machadinho - É o meu freguês.

Luís - Pagaste?

Machadinho - Arrisquei apenas, já disse: posso pagar ou não. - Os Netos da Lua hão de brilhar este ano! Caramba!

Luís - Invejo este teu gênio inventivo!

Machadinho - É para que saibas. (Vai saindo e para junto à mesa.) Este banquete foi mandado servir por ordem minha. Faz parte também do meu plano.

Luís - Estou impaciente por ver em que dá tudo isto.

Machadinho - Hás de ver. Hei de deitar um pouco de ópio no copo em que teu pai tiver de beber, o velho adormece... e verás o resto. (Vai a sair.)

Luís - Mas, vem cá, filho: não haverá perigo?

Machadinho - Não tenhas receio: é uma pequenina dose, que o fará dormir, só até a meia noite. (Vai a sair.)

Luís - Onde diabo queres ir com tanta pressa?... Estás só... (Imita-o)

Machadinho - Quero esperar essa gente.

Luís - Que gente?

Machadinho - Ah! Imaginas que este baltazar é só para nós Três! Tinha que ver! Olha: além do Augusto e do Silva, hão de vir as repúblicas do Sousa, do Bento e do Guedes... A Sara...

Luís - Que Sara?

Machadinho - Aquela francesa do Hotel dos Príncipes, com quem o Fonseca anda a esbodegar a legítima materna. Vem também a Elisa, a Chiquinha, a Maroca da Rua do Senhor dos Passos...

Luís - Ai, ai, ai! Não vá o velho desconfiar!

Machadinho - Não desconfia não. As raparigas hão de portar-se bem. Darei as providências... (Vai a sair.) O Augusto e o Silva, coitados! andam na faina desde pela manhãzinha: estão preparando a sala da sociedade para o baile de hoje, que também entra no programa. (Vai a sair.) Ah! vi a Zizinha e dei-lhe esperanças...

Luís - Obrigado, meu bom amigo, obrigado.

Machadinho - Agora, é abrir vela aos tufões... e o resto à sorte! (Vai a sair, entra Arruda.)

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Miércoles, Abril 15, 2009 - 23:11

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