A Jóia - Ato Segundo - Cena VI

Cena VI

Valentina, depois O Joalheiro

Valentina (Dirigindo-se à porta por onde saiu Carvalho.)

- Tu queres fazer-te de esperto...

Oh! mais esperta sou eu!

O Joalheiro (Pondo a cabeça fora da porta.)

- Entrar já posso?

Valentina - Decerto.

O Joalheiro (Descendo à cena.) - Tolo! chamar-me de judeu

e tratante! Eu tudo ouvi

por trás daquela cortina!

Valentina -Viu que o maldito sovina

diz que não valem...

O Joalheiro - Vi... vi....

Quem lhe dera que valesse

tanto quanto os meus brilhantes!

Mas olhem que estes amantes...

Valentina - Todos eles são como esse!

Já homens eu não descubro.

Ora, imagine que há meses,

e isso se dá muitas vezes,

em que as despesas não cubro!

O Joalheiro - Também me queixo um bocado,

pois o negócio vai mal,

tudo o que vendo é fiado

e não recebo um real!

Mas vamos; em que ficamos?

Olhe: tentá-la não quero...

Valentina - Uma idéia tenho; espero

que há de aprová-la.

O Joalheiro - Vejamos...

Valentina - Disse ele que, se comprar

por quatro contos a jóia,

dá-me dois contos, e foi à

casa o dinheiro buscar.

O Joalheiro - Sei tudo e não peço bis,

graças àquela cortina.

Saiba, Dona Valentina,

que é uma primorosa atriz!

Sei o que quer: que lhe entregue

a jóia por quatro agora,

para receber da senhora

os outros dois: pois sossegue:

estou por tudo, na ‘sp’rança

de que os seis contos receba.

Valentina - Mas ele que não conceba

a menor desconfiança!

O Joalheiro - E os dois contos? Onde estão?

Valentina - Dar-lho-ei quando os tiver.

O Joalheiro - Como assim?

Valentina - Quando mos der

o fazendeiro.

O Joalheiro - Isso não!

Valentina - Dúvida de mim?

O Joalheiro - De tudo!

Ai, minha rica senhora,

não me dizia inda agora

que este tempo anda bicudo?

Desculpe... que quer? Sou franco...

Valentina - ‘Stá bem. ‘Stá bem! Não insisto:

é justo. (Tirando papéis do bolso.)

Sabe o que é isto?

O Joalheiro - Olé! São cheques do banco!

Valentina - Que horas tem?

O Joalheiro (Vendo o relógio.) - É meia hora.

Valentina - Pois vou buscar o dinheiro.

Quando vier o fazendeiro...

O Joalheiro - Vá descansada a senhora:

julguei que só mo daria

quando lho desse O Sujeito.

Há de encontrar tudo feito,

quando voltar coa quantia.

Valentina (Pondo o chapéu.)

- Posso fazer um bom gancho...

O Joalheiro - Quatro contos arrecada;

mas se está contrariada,

todo o negócio desmancho:

não tento...

Valentina - Espere-o. Adeus (Sai.)

O Joalheiro - Vá descansada.

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Miércoles, Abril 15, 2009 - 23:41

Poesia Consagrada :

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ArturdeAzevedo

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