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Uma Véspera de Reis - Cena IX

Cena IX

Alberto, Reis, Bermudes, Francisca e José

(Francisca entra da esquerda com as mãos lambuzadas de doce e as mangas arregaçadas e José, do fundo.)

Francisca (Expansiva) - Ora viva o seu compadre!

Bermudes - Ora viva a sinhá comadre! (Quer apertar-lhe a mão.)

Francisca (Foge com as mãos.) - Estou com as mãos sujas! Estava dando ponto a um doce de araça, de que o compadre há de gostar e lamber os beiços. Mas venha de lá esse abraço!... Cuidado! não se suje...

Bermudes (Antes de abraçar Francisca, a Reis.) - Com sua licença, compadre...

José (Enquanto Bermudes e Francisca abraçam-se e depois conversam baixinho, aproxima-se de Reis.) - Sinhô velho?

Reis - O que é que me queres, moleque?

José - Sinhô dá licença para eu hoje vir tarde para casa?

Reis - O que é que tens de fazer na rua, vadio?...

José - Hoje é véspera de Reis... e eu sou do rancho...

Reis - O que tu és sei eu! Vá lá... vá lá...

José - Sinhô velho faz bilhete?

Reis - Não é preciso; é véspera de Reis: podes andar sem bilhete. (Dá-lhe dinheiro.) Não vá beber de cachaça, hein? (A Bermudes, mostrando José.) Ó compadre, conhece esta peça?

Bermudes - É um bonito moleque!

José - Muito obrigado.

Reis (a José.) - Cala a boca, moleque!

Francisca - Já não se alembra dele, compadre?

Reis - O José... cria de nossa casa?...

José - José Filomeno dos Reis, um criado de Vossa Senhoria...

Francisca (A Jose.) - Cala a boca, apresentado!

Bermudes (Recordando-se) - Ah! agora me lembro! Mas como está crescido este moleque!

Francisca - É muito vadio, compadre! Quando era pequenino...

Bermudes - A comadre estimava-o muito...

Reis - Chegava mesmo a fazer-lhe a cama; agora, não vale o que come! (Bermudes e Francisca continuam a conversar baixinho.)

José (A Reis.) - Posso ir,sinhô velho?

Reis - Vai (José vai saindo.) Ó que idéia! (Chama.) José!

José (Voltando.) - Sinhô?

Reis (A Bermudes.) - Vou festejar a sua chegada, compadre! (A José.) Uma vez que tu és do rancho, quero que faças com que ele venha a dançar aqui esta noite, ouviste?

José - Sim, sinhô: eu faço de burrinha...

Francisca - Você deita-me este moleque a perder, seu Reis! (A Bermudes.) Todo dia santo este moleque leva todo o santo dia na vadiação.

Reis (Sem dar ouvidos a Francisca; a José.) - Está bom! Se vierem, dou uma gorjeta; se não vierem, levas uma dúzia de bolos!

José - Antes quero a gorjeta, sinhô! (Sai correndo e cantarolando.)

Bermudes (A Reis..)- Então, para festejar a minha chegada, manda você dançar os Reis hoje aqui... (A Francisca.) O compadre é o mesmo: não mudou mesmo nada...

Francisca - Deixa ele falar: aquilo é porque ele se chama seu Reis.

Bermudes - Ah! ah! ah! A comadre teve graça! ( A Reis.) Também não mudou nada mesmo nada...

Reis (A Bermudes.) - Mas ainda você não disse a Dona Francisca...

Francisca (Interrompe-o.) - Lá vem seu Reis com Dona Francisca! O cabeçudo ao pé de gente não é capaz de me tratar por Dona Chiquinha...

Bermudes - É costume antigo! Andavam sempre brigando por via disso em Camamu!

Francisca - Aqui tem sido a mesma coisa! Veja lá, compadre! Com tantos anos de casados! E eu que embirro com semelhante nome de Francisca!

Reis (Maçado.) - Pois vá lá, Dona Chiquinha... (Estala a língua.)

Francisca - Mas vamos a saber... (A Reis.) O que ia você dizendo?

Reis - É que ainda o compadre não lhe disse o motivo que o trouxe à cidade... Mas você interrompe a gente...

Bermudes - Venho à cidade por via daquela questãozinha de terras... A comadre lembra-se?

Francisca - Não me lembro eu de outra coisa! Questãozinha diz o compadre? Questãozona, digo eu! que muitos cabelos brancos lhe fez criar!

Bermudes - Ora! as terras eram minhas! A legitimação estava feita...(Sinal de assentimento de Reis e de Francisca. Pausa.) Mas eu dormi no negócio...

Reis - Foi todo o seu mal, compadre!

Bermudes - Mas agora o coronel Casimiro...

Francisca - Grandessíssimo cão! Não me hei de esquecer do dia em que ele me veio convidar para substituir a professora pública, que vinha doente para a cidade!

Reis - Ora! Aquilo é um vira-casaca muito desavergonhado!

Francisca - Quando o bruto sabia perfeitamente que eu não sei ler!

Bermudes - Não se admire, comadre, não se admire, porque aí por esse interior velho muita gente ensina aquilo que não sabe!...

Reis - Mas vamos à questão...

Bermudes - O coronel Casimiro apresenta documentos de que as terras são dele! “Oh! digo eu cá comigo, esta agora fia mais fino!” Entreguei a minha causa na mão do Secundino Barbosa...

Francisca - Quem? Aquele rábule que brigou a soco com seu Reis nas eleições de 54?

Reis - E por sinal me partiu dois dentes. (Mostra a falta dos dentes e fala com a boca aberta.) que nunca mais tornaram a nascer!

Bermudes - Esse mesmo! (Em tom lamentoso.) Ah! compadre! (Toma a mão de Reis.) Ah! comadre! (Toma a de Francisca, esquecendo-se que está suja.) Aquele homem foi a morte de minha causa!

Francisca E Reis - Sim? deveras?

Bermudes (Abandona-lhes as mãos com desânimo.) - E talvez seja a causa de minha morte! (Limpa a mão que pegou na de Francisca.)

Reis - Ora não pense nisso!

Francisca - Ponha o coração à larga, compadre...

Bermudes - Tem razão, compadre; tem razão, comadre; ambos os dois tem razão. (Alegra-se aos poucos.) Principalmente hoje, véspera de Reis e dia de alegria, porque vi a vossemecês, a menina e amanhã verei também meu sobrinho. O tratante anda sempre a mudar-se e então agora está em férias: não posso procurá-lo na Academia, Olhem que aquele rapaz é o meu pecado! Mas, graças às cabaças, está quase senhor doutor e pronto para mandar gente para o outro mundo... Pouco se me dá dos cobritos que tenho gasto com ele neste!

Francisca - E o que me diz a respeito de umas certas cartinhas trocadas entre seu Reis e o compadre?

Bermudes - Já não se fala nisso! A moça gosta de outro e amor não é imposto pessoal.

Francisca - Eu já não penso assim! Bem podíamos mostrar a Milu o verdadeiro caminho da felicidade...

Reis - Asneira no caso!

Bermudes (Sentencioso.) - Comadre, o verdadeiro caminho da felicidade é aquele em que a gente anda por seu gosto e não aquele para onde nos empurram.

Reis - Apoiado! Casem-se à vontade as moças e depois lá se avenham!

Francisca - O Compadre já sabe que o seu afilhado...

Bermudes - Já. Já sei que está na escola... na escola... (AReis.) Como é o nome da escola, compadre?

Reis - Escola... escola... Como é, Dona Francisca?

Francisca (Zangada.) - Dona Francisca, hein?...

Reis (Emenda.) - Como é, Dona Chiquinha?

Francisca - Ora! Eu tenho o nome debaixo da língua...

Bermudes - Eu também...

Reis - Eu também... (Chama.) Milu, ó Milu! (Emília responde de dentro com um grito.)

Reis E Francisca - Vem cá...

Os Três - Escola... escola... Ora!

Coro

Ó que diabo de nome!

Ó que nome do diabo!

A paciência consome

e da pachorra dá cabo!

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quarta-feira, abril 15, 2009 - 22:42

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ArturdeAzevedo

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