A Jóia - Ato Terceiro - Cena VI

Cena VI

Carvalho, Sousa, escondidos, Valentina, depois Gustavo

Valentina (Entra pela esquerda, segundo plano, e começa a procurar Carvalho.)

- Carvalho! Joaquim Carvalho!

Quincas! Quincas! Carvalhinho!

(Entra, procurando sempre, na direita, primeiro plano.)

Carvalho (A meia voz, pondo a cabeça para fora.)

- Que diz a isto, ó vizinho?

Sousa (No mesmo.) - É preciso tempo; dá-lho. (Escondem-se.)

Valentina (Volta e convencida que está só, vai à porta da esquerda, segundo plano, e diz para fora.)

- Podes vir, que foi-se embora. (Vem sentar-se.)

Fecha a porta à chave. (Gustavo entra.)

Carvalho (À parte.) - É ele.

Gustavo - Então foi-se embora aquele

‘stúpido?

Carvalho (Na janela, à parte.) - Hein?

Valentina - Foi-se.

Gustavo - Inda agora

estava ele aqui.

Valentina - Já sei...

já me disseste... Mas vamos...

Gustavo - Lá vou.

Valentina - Tempo não percamos.

Gustavo (Sentando-se em uma cadeira.)

- Numa vila em que eu andei,

hospedou-me um fazendeiro

que se chama João de Sousa;

tipo que deve ter coisa

de cem contos em dinheiro.

Tem uma filha bem boa;

tivemos logo um derriço

pequeno...

Valentina - Não passou disso?

Gustavo -Nada! Há coisa que mais doa

que uma carga de pau?

- O pai, que não é simplório,

deu-me a entender que o casório

não tinha nada de mau.

Não refleti um momento...

Sousa (À parte.) - Mas eu é que refleti.

Gustavo - Sem mais nem menos, lhe pedi

a pequena em casamento...

Valentina - Mas isso não vem ao caso...

Gustavo - Do resto vou por-te ao fato:

eu levava o teu retrato

comigo, por mero acaso.

O velhote estava um dia

a meu lado, e viu nas malas...

(Eu estava a desarrumá-las..)

... a tua fotografia.

Quis saber logo quem era!

Imagina o que lhe disse

- fora de certo tolice

falar verdade.

Valentina - Pudera!

Na tua situação!

Gustavo - Que eras minha irmão viúva...

Valentina - Tira o cavalo da chuva!

Pois lhe disseste isso?...

Sousa (À parte.) - Cão!

Gustavo - O velho achou-te uma flor!

Muitos elogios fez-te!

Enfim, nunca tiveste

mais sincero admirador!

Valentina - Finalmente... o que concluis?

Gustavo - Que concluo? Ora essa é boa?

Que do velho na pessoa

raro tesouro possuis!

Armamo-lhe um forte logro!

Ele supõe que és honesta:

casa-se contigo.

Carvalho (À parte.) - E esta?...

Gustavo - Por esse tempo é meu sogro.

Liquidamos o que houver (Ação de furtar.)

e fugimos para a América!

- Que tal esta idéia?

Valentina - Homérica!

Gustavo - É um país. como se quer,

a América! De lá passamos

à Itália, à França, à Alemanha,

à Suíça, à Áustria, à Espanha!

Todo mundo visitamos!

quando voltarmos, ninguém

de nós se lembra, descansa...

Valentina - Só de ser rica a lembrança,

não sei por quê, faz-me bem.

Carvalho (À parte.) - Custa-me a crer!

Gustavo - Mas que dizes?

Se tomas conta do pai

e a filha nas mãos me cai,

seremos muito felizes!

Eu, que desveladamente

faço a tua f’licidade,

batendo toda a cidade,

buscando quem te freqüente,

venho trazer-te a ventura,

a independência talvez!

Valentina - Mas trata-se desta vez

de uma arriscada aventura!

Gustavo - Que tem que seja arriscada?

Somos alguns trapalhões?

Já pensei nas precauções

que exige a empresa arrojada.

Minha irmã viúva morreu:

podes bem passar por ela,

e o marido que foi dela

passa por marido teu.

Mudas de nome, isso sim!

Em lugar de Valentina,

tu ficas sendo Joaquina.

Ela chamava-se assim.

(Batem à porta da esquerda, segundo plano.)

Valentina - Quem bate? (A Gustavo.) Vai para a sala

de jantar. Já lá vou ter.

(Gustavo saí pela direita, segundo plano. Valentina abre a porta. Entra O Joalheiro.)

Ah! é o senhor!

Submited by

Jueves, Abril 16, 2009 - 00:48

Poesia Consagrada :

Sin votos aún

ArturdeAzevedo

Imagen de ArturdeAzevedo
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 14 años 21 semanas
Integró: 04/15/2009
Posts:
Points: 450

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of ArturdeAzevedo

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia Consagrada/Soneto Eterna Dor 1 2.204 10/20/2020 - 20:06 Portuguese
Fotos/Perfil Artur de Azevedo 0 1.978 11/24/2010 - 00:37 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Amor por Anexins - Intodução 0 2.244 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Amor por Anexins - Cena I 0 2.432 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Amor por Anexins - Cena II 0 2.483 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Amor por Anexins - Cena III 0 2.364 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Amor por Anexins - Cena IV 0 2.240 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Amor por Anexins - Cena V 0 2.380 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Amor por Anexins - Cena VI 0 2.057 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Amor por Anexins - Cena VII 0 2.318 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Segundo - Cena VI 0 1.193 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Segundo - Cena VII 0 1.159 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Segundo - Cena VIII 0 1.703 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Segundo - Cena IX 0 1.328 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Terceiro - Cena I 0 1.968 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Terceiro - Cena II 0 1.798 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Terceiro - Cena III 0 1.997 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Terceiro - Cena IV 0 1.931 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Terceiro - Cena V 0 2.092 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Terceiro - Cena VI 0 2.358 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Terceiro - Cena VII 0 1.938 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Terceiro - Cena VIII 0 2.008 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Terceiro - Cena IX 0 1.728 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Primeiro - Cena II 0 1.297 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Jóia - Ato Primeiro - Cena III 0 1.267 11/19/2010 - 16:53 Portuguese