Rosa no mar!

Por uma praia arenosa,
Vagarosa
Divagava uma Donzela;
Dá largas ao pensamento.
Brinca o vento
Nos soltos cabelos dela.

Leve ruga no semblante
Vem num instante,
Que noutro instante se alisa;
Mais veloz que a sua idéia
Não volteia,
Não gira, não foge a brisa.

No virginal devaneio
Arfa o seio,
Pranto ao riso se mistura;
Doce rir dos céus encanto,
Leve pranto,
Que amargo não é, nem dura.

Nesse lugar solitário,
— Seu fadário. —
De ver o mar se recreia;
De o ver, à tarde, dormente,
Docemente
Suspirar na branca areia.

Agora, qual sempre usava,
Divagava
Em seu pensar embebida;
Tinha no seio uma rosa
Melindrosa,
De verde musgo vestida.

Ia a virgem descuidosa,
Quando a rosa
Do seio no chão lhe cai:
Vem um'onda bonançosa,
Qu’impiedosa
A flor consigo retrai.

A meiga flor sobrenada;
De agastada,
A virge' a não quer deixar!
Bóia a flor; a virgem bela,
Vai trás ela,
Rente, rente — à beira-mar.

Vem a onda bonançosa,
Vem a rosa;
Foge a onda, a flor também.
Se a onda foge, a donzela
Vai sobre ela!
Mas foge, se a onda vem.

Muitas vezes enganada,
De enfadada
Não quer deixar de insistir;
Das vagas menos se espanta,
Nem com tanta
Presteza lhes quer fugir.

Nisto o mar que se encapela
A virgem bela
Recolhe e leva consigo;
Tão falaz em calmaria,
Como a fria
Polidez de um falso amigo.

Nas águas alguns instantes,
Flutuantes
Nadaram brancos vestidos:
Logo o mar todo bonança,
A praia cansa
Com monótonos latidos.

Um doce nome querido
Foi ouvido,
Ia a noite em mais de meia:
Toda a praia perlustraram,
Nem acharam
Mais que a flor na branca areia.

Submited by

Lunes, Abril 27, 2009 - 04:35

Poesia Consagrada :

Sin votos aún

AntonioGoncalvesDias

Imagen de AntonioGoncalvesDias
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 14 años 21 semanas
Integró: 04/27/2009
Posts:
Points: 288

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of AntonioGoncalvesDias

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Fotos/Perfil Gonçalves Dias 0 1.420 11/24/2010 - 00:37 Portuguese
Poesia Consagrada/General Rosa no mar! 0 1.084 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Sempre ela 0 1.148 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Se muito sofri já, não me perguntes 0 980 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/Amor Se se morre de amor 0 2.018 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Sobre o túmulo de um menino 0 1.071 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Voltas e mortes glosados 0 1.280 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Zulmira 0 1.236 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Minha terra! 0 1.267 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Não me deixes! 0 977 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General No jardim! 0 1.152 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/Amor O Amor 0 1.836 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General O Gigante de Pedra 0 1.039 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Oh! Que acordar! 0 1.071 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Olhos Verdes 0 1.105 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General O que mais dói na vida 0 1.031 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Palinódia 0 1.059 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Pensas tu, bela Anarda, que os poetas 0 1.485 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Que me Pedes 0 1.099 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Retratação 0 1.455 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Rola 0 1.573 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General A Tempestade 0 1.268 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General As artes são irmãs 0 1.092 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General As duas coroas 0 1.547 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Canção 0 1.124 11/19/2010 - 16:54 Portuguese