Urge
Anda, vem depressa.
Vem trazer o meu silêncio de tudo
A minha escuridão de todos.
Mas vem de forma abrupta e urgente.
Leva de mim tudo o que sente.
Fecha a minha porta.
Fecha-a para sempre.
Dá mil voltas à sua fechadura
E põe-lhe um astronómico
Número de cadeados
Acorrentados entre si
Para que jamais algo volte a entrar.
Faz por mim
O que eu não consigo fazer.
Cessa-me o tempo.
Leva-me para a minha origem
Ou para qualquer outro lugar.
Mas não deixes arrastar
Por muito mais tempo
Esta coisa
Este eu
Este ridículo acontecimento que sou
Um espectro de gente
Uma gargalhada sem nexo
Num contexto poluente
A tudo que se possa chamar vida.
Tudo que peço é que acabes
Com o tic e com o tac
Que constroem por mais curto que seja
O já há muito exagerado tempo que me sobra.
É insólito o amontoado de horas, dias e meses
Que tenho vindo a acumular.
Que para nada ou para ninguém servem
Mas que insistem neste corpo que teima em não abrir mão de mim
E deixar-me ir.
Tantos choros de viúvas.
Tantos mães que perdem os seu filhos precocemente.
Tanta juventude que não passou disso mesmo.
Porque razão insiste seja o que for que criou e mantém o universo
em dar dias-nozes a este desdentado espírito que já nada mastiga?
Esta estória e história há muito que já não são minhas.
Nem sei se alguma vez chegaram a sê-lo.
Já lá vai algum tempo
Em que num poema
Retrato ou gravura
Viram escrita a minha assinatura.
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 1902 reads
Add comment
other contents of Outro
Tema | Título | Respuestas | Lecturas | Último envío | Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra- Álvaro de Campos -Poema Pintado- Paint sobre Paint | 0 | 2.511 | 01/17/2018 - 21:11 | Portuguese | |
Poesia/General | O Astro Rei | 0 | 2.274 | 01/14/2018 - 16:14 | Portuguese | |
Poesia/General | Imagina lá tu... | 0 | 3.372 | 01/14/2018 - 15:54 | Portuguese | |
Poesia/General | Alfanumérico | 0 | 2.823 | 01/13/2018 - 12:56 | Portuguese | |
Poesia/General | Raízes | 0 | 1.938 | 01/11/2018 - 17:45 | Portuguese | |
Poesia/General | Inteligência Artificial | 0 | 2.108 | 01/07/2018 - 18:32 | Portuguese | |
Poesia/General | Canção ás Minhas 3 Meninas | 0 | 1.861 | 01/02/2018 - 10:13 | Portuguese | |
Poesia/General | contemplamento | 0 | 1.724 | 01/01/2018 - 16:27 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Livros | 0 | 2.109 | 12/15/2017 - 15:06 | Portuguese | |
Poesia/General | As Grandes Guerras | 2 | 2.911 | 07/27/2011 - 13:36 | Portuguese | |
Poesia/General | Patetice | 4 | 2.875 | 07/27/2011 - 13:17 | Portuguese | |
Poesia/General | Palavras Caídas | 0 | 2.622 | 07/27/2011 - 12:45 | Portuguese | |
Poesia/General | Palavreados | 0 | 2.518 | 07/05/2011 - 12:23 | Portuguese | |
Poesia/General | Hermético | 0 | 4.004 | 06/19/2011 - 21:54 | Portuguese | |
Poesia/General | Sinapse em Tilt | 0 | 3.596 | 06/05/2011 - 10:57 | Portuguese | |
Poesia/General | Convite Para Lançamento de Livro | 0 | 3.786 | 05/18/2011 - 17:38 | Portuguese | |
Poesia/General | Não Tenho Titulo Para Isto | 13 | 3.280 | 04/27/2011 - 14:23 | Portuguese | |
Poesia/General | Os Encalhados | 4 | 4.028 | 04/27/2011 - 08:17 | Portuguese | |
Poesia/General | Silêncios | 4 | 2.592 | 04/17/2011 - 22:44 | Portuguese | |
Poesia/General | Escrito Por Todos Nós | 0 | 3.280 | 03/17/2011 - 15:45 | Portuguese | |
Poesia/General | In Perfeição | 3 | 2.305 | 03/15/2011 - 21:50 | Portuguese | |
Poesia/General | Valium | 1 | 3.469 | 03/12/2011 - 23:44 | Portuguese | |
Poesia/General | "Tu" | 0 | 3.152 | 03/12/2011 - 15:37 | Portuguese | |
Poesia/General | "Porque a Galinha Atravessa a Estrada?" | 0 | 3.574 | 03/12/2011 - 14:53 | Portuguese | |
Poesia/General | "Eu" | 1 | 2.618 | 03/10/2011 - 23:51 | Portuguese |
Comentarios
"Anda, vem depressa. Vem
"Anda, vem depressa.
Vem trazer o meu silêncio de tudo
A minha escuridão de todos.
Mas vem de forma abrupta e urgente.
Leva de mim tudo o que sente.
Fecha a minha porta.
Fecha-a para sempre..."
Este inicio está fabuloso, causa uma enorme inquietação no leitor, que vai aumentando com o decorrer do poema. E o final, qual golpe de misericórdia, não o é.
Como tudo o que escreves, fica, entranha-se e dá que pensar. Obrigado pelas partilhas.
Abraço
Assim como o tempo que urge
Assim como o tempo que urge vejo a urgência deste querer
estar ,aonde o próprio tempo esconde as marcas do teu ser
sua assinatura já gasta ...
Que saudades de te ler !!!
Mato elas agora ...
Beijo
Susan
Obrigado Susaninha!! Também
Obrigado Susaninha!!
Também tinha saudades de vos ler e de "andar" por aqui.
Beijinho grande para ti.
E vê se aparececes no msn!
bjs