VONTADE DE CHORAR

A solidão que procuro em mim, é uma escalada falsa e fria. Tal Outono se espalhasse
escuro no cinzento das palavras ácidas de dizer, doces por dizer, friamente ditas, eruditas.

É tinta que não pinta, que não se move, morta. Tal Afrodite deixasse de ser Deusa e o amor uma árvore de mármore, lágrimas.

É tinto que não embriaga a sede do sentimento. Tal lume sem fogo soltasse fumos de paixão enjoativa, noites escaladas qual gume me beijasse.

É barriga sem boca onde ressona a fome de ser borbulhaço, medramente tóxico num frasco de memórias fora do seu prazo de validade, fora de mim vísceras rudes.

O silêncio que procuro em mim é um vento que me esculpe na poesia cumes perfeitos sem formas, depurado.

É peso que não pesa na balança do grito acontecer, ontem silêncio, hoje ruído, amanhã não sei.

É amar de qualquer maneira o que se ama num destino espumante, embebido em bagaço destilado das pétalas das rosas, floresta, aresta de ódio.

É voz pouco falante no decote da noite que nos come os olhos. Tal lua fosse as mandíbulas de um tubarão, o serão frio de um pio sem fonte.

É cetim áspero que alimenta a vontade de chorar, a vontade de morrer, de morar em nenhures. Tal água não molhasse o rosto.

A verdade que procuro em mim é uma tábua de sol que me ajuda a caminhar sobre os lodos do passado. É janela aberta aos obstáculos que perfumam o dia-a-dia com pólen que nos encoraja o ego, que abre o abismo.

São horas escravas de um geleia demorada no pensamento aquando um olhar estranho nos alarma aromas doces e acres, amar.
 

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Martes, Enero 18, 2011 - 20:43

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Henrique

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É cetim áspero que alimenta a vontade de chorar

Revi-me nas palavras que são arte das suas... o deleite poético
que encerra, o monstro sagrado do seu génio!

Fico à espera do seu livro e da sua alma gémea, amando as letras
como se um filho de Deus se tratasse no seu trono.

Abraço.

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Um verdadeiro testemunho

Um verdadeiro testemunho artistico e uma visão melodiosa da vida... bela mas, por vezes, triste....

Parabéns pelo excelente texto!

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