VONTADE DE CHORAR
A solidão que procuro em mim, é uma escalada falsa e fria. Tal Outono se espalhasse
escuro no cinzento das palavras ácidas de dizer, doces por dizer, friamente ditas, eruditas.
É tinta que não pinta, que não se move, morta. Tal Afrodite deixasse de ser Deusa e o amor uma árvore de mármore, lágrimas.
É tinto que não embriaga a sede do sentimento. Tal lume sem fogo soltasse fumos de paixão enjoativa, noites escaladas qual gume me beijasse.
É barriga sem boca onde ressona a fome de ser borbulhaço, medramente tóxico num frasco de memórias fora do seu prazo de validade, fora de mim vísceras rudes.
O silêncio que procuro em mim é um vento que me esculpe na poesia cumes perfeitos sem formas, depurado.
É peso que não pesa na balança do grito acontecer, ontem silêncio, hoje ruído, amanhã não sei.
É amar de qualquer maneira o que se ama num destino espumante, embebido em bagaço destilado das pétalas das rosas, floresta, aresta de ódio.
É voz pouco falante no decote da noite que nos come os olhos. Tal lua fosse as mandíbulas de um tubarão, o serão frio de um pio sem fonte.
É cetim áspero que alimenta a vontade de chorar, a vontade de morrer, de morar em nenhures. Tal água não molhasse o rosto.
A verdade que procuro em mim é uma tábua de sol que me ajuda a caminhar sobre os lodos do passado. É janela aberta aos obstáculos que perfumam o dia-a-dia com pólen que nos encoraja o ego, que abre o abismo.
São horas escravas de um geleia demorada no pensamento aquando um olhar estranho nos alarma aromas doces e acres, amar.
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 4737 reads
Add comment
other contents of Henrique
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Thoughts | DA POESIA | 1 | 9.672 | 05/26/2020 - 22:50 | Portuguese | |
![]() |
Videos/Others | Já viram o Pedro abrunhosa sem óculos? Pois ora aqui o têm. | 1 | 53.062 | 06/11/2019 - 08:39 | Portuguese |
Poesia/Sadness | TEUS OLHOS SÃO NADA | 1 | 9.412 | 03/06/2018 - 20:51 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | ONDE O INFINITO SEJA O PRINCÍPIO | 4 | 10.977 | 02/28/2018 - 16:42 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | APALPOS INTERMITENTES | 0 | 9.718 | 02/10/2015 - 21:50 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | AQUILO QUE O JUÍZO É | 0 | 10.090 | 02/03/2015 - 19:08 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | ISENTO DE AMAR | 0 | 9.262 | 02/02/2015 - 20:08 | Portuguese | |
Poesia/Love | LUME MAIS DO QUE ACESO | 0 | 9.868 | 02/01/2015 - 21:51 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | PELO TEMPO | 0 | 8.222 | 01/31/2015 - 20:34 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | DO AMOR | 0 | 8.006 | 01/30/2015 - 20:48 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | DO SENTIMENTO | 0 | 7.736 | 01/29/2015 - 21:55 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | DO PENSAMENTO | 0 | 9.468 | 01/29/2015 - 18:53 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | DO SONHO | 0 | 7.251 | 01/29/2015 - 00:04 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | DO SILÊNCIO | 0 | 7.856 | 01/28/2015 - 23:36 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | DA CALMA | 0 | 7.771 | 01/28/2015 - 20:27 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | REPASTO DE ESQUECIMENTO | 0 | 6.257 | 01/27/2015 - 21:48 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | MORRER QUE POR DENTRO DA PELE VIVE | 0 | 9.287 | 01/27/2015 - 15:59 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | NENHUMA MULTIDÃO O SERÁ | 0 | 8.007 | 01/26/2015 - 19:44 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | SILENCIOSA SOMBRA DE SOLIDÃO | 0 | 8.695 | 01/25/2015 - 21:36 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | MIGALHAS DE SAUDADE | 0 | 8.308 | 01/22/2015 - 21:32 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | ONDE O AMOR SEMEIA E COLHE A SOLIDÃO | 0 | 7.415 | 01/21/2015 - 17:00 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | PALAVRAS À LUPA | 0 | 7.268 | 01/20/2015 - 18:38 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | MADRESSILVA | 0 | 6.094 | 01/19/2015 - 20:07 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | NA SOLIDÃO | 0 | 9.566 | 01/17/2015 - 22:32 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | LÁPIS DE SER | 0 | 9.273 | 01/16/2015 - 19:47 | Portuguese |
Comments
É cetim áspero que alimenta a vontade de chorar
Revi-me nas palavras que são arte das suas... o deleite poético
que encerra, o monstro sagrado do seu génio!
Fico à espera do seu livro e da sua alma gémea, amando as letras
como se um filho de Deus se tratasse no seu trono.
Abraço.
Um verdadeiro testemunho
Um verdadeiro testemunho artistico e uma visão melodiosa da vida... bela mas, por vezes, triste....
Parabéns pelo excelente texto!