CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

12 de setembro

I

O sol oriental brilha nas nuvens,
Mais docemente a viração murmura
E mais doce no vale a primavera
Saudosa e juvenil é toda em rosa...
Como os ramos sem folhas
Do pessegueiro em flor.

Ergue-te, minha noiva, ó natureza!
Somos sós — eu e tu: — acorda e canta
No dia de meus anos!

II

Debalde nos meus sonhos de ventura
Tento alentar minha esperança morta
E volto-me ao porvir...
A minha alma só canta a sepultura
E nem última ilusão beija e conforta
Meu ardente dormir...

III

Tenho febre... meu cérebro transborda.
Eu morrerei mancebo, inda sonhando
Da esperança o fulgor...
Oh! cantemos ainda: a última corda
Treme na lira... morrerei cantando
O meu único amor!

IV

Meu amor foi o sol que madrugava
O canto matinal da cotovia
E a rosa predileta...
Fui um louco, meu Deus, quando tentava
Descorado e febril nodoar na orgia
Os sonhos de poeta...

V

Meu amor foi a verde laranjeira
Que ao luar orvalhoso entreabre as flores,
Melhor que ao meio-dia,
As campinas, a lua forasteira,
Que triste, como eu sou, sonhando amores
Se embebe de harmonia.

VI

Meu amor!... foi a mãe que me alentava,
Que viveu e esperou por minha vida
E pranteia por mim...
E a sombra solitária que eu sonhava
Lânguida como vibração perdida
De roto bandolim...

VII

Eu vaguei pela vida sem conforto,
Esperei o meu anjo noite e dia
E o ideal não veio...
Farto de vida, breve serei morto...
Não poderei ao menos na agonia
Descansar-lhe no seio...

VIII

Passei como Don Juan entre as donzelas,
Suspirei as canções mais doloridas
E ninguém me escutou...!
Oh! nunca à virgem flor das faces belas
Sorvi o mel nas longas despedidas...
Meu Deus! ninguém me amou!

IX

Vivi na solidão!... odeio o mundo
E no orgulho embucei meu rosto pálido
Como um astro na treva...
Senti a vida um lupanar imundo:
Se acorda o triste profanado, esquálido
— A morte fria o leva...

X

E quantos vivos não caíram frios,
Manchados de embriaguez da orgia em meio
Nas infâmias do vício!
E quantos morreram inda sombrios,
Sem remorsos dos loucos devaneios...
— Sentindo o precipício!...

XI

Perdoa-lhes, meu Deus! o sol da vida
Nas artérias ateia o sangue em lava
E o cérebro varia...
O século na vaga enfurecida
Levou a geração que se acordava
E nuta de agonia...

XII

São tristes deste século os destinos!
Seiva mortal as flores que despontam
Infecta em seu abrir...
E o cadafalso e a voz dos Girondino
Não falam mais na glória e não apontam
A aurora do porvir!

XIII

Fora belo talvez, em pé, de novo,
Como Byron surgir, ou na tormenta
O herói de Waterloo...
Com sua idéia iluminar um povo,
Como o trovão nas nuvens que rebenta
E o raio derramou!

XIV

Fora belo talvez sentir no crânio
A alma de Goethe e reunir na fibra,
Byron, Homero e Dante;
Sonhar-se num delírio momentâneo
A alma da criação e o som que vibra
A terra palpitante...

XV

Mas ah! o viajor nos cemitérios
Nessas nuas caveiras não escuta
Vossas almas errantes,
Do estandarte da sombra nos impérios
A morte — como a torpe prostituta -
Não distingue os amantes.

XVI

Eu pobre sonhador... em terra inculta,
Onde não fecundou-se uma semente,
Convosco dormirei...
E dentre nós a multidão estulta
Não vos distinguirá a fronte ardente
Do crânio que animei...

XVII

Ó morte! a que mistério me destinas?
Esse átomo de luz que inda me alenta,
Quando o corpo morrer,
Voltará amanhã... aziagas sinas!...
Da terra sobre a face macilenta
Esperar e sofrer?

XVIII

Meu Deus, antes, meu Deus, que uma outra vida
Com teu sopro eternal meu ser esmaga
E minh'alma aniquila...
A estrela de verão no céu perdida
Também, às vezes, teu alento apaga
Numa noite tranqüila!...

Submited by

terça-feira, abril 14, 2009 - 01:40

Poesia Consagrada :

No votes yet

AlvaresdeAzevedo

imagem de AlvaresdeAzevedo
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 13 anos 22 semanas
Membro desde: 04/14/2009
Conteúdos:
Pontos: 303

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of AlvaresdeAzevedo

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Fotos/ - Alvares de Azevedo 0 1.453 11/24/2010 - 00:37 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo IV — Gennaro) 0 1.585 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo V — Claudius Hermann) 0 2.030 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo VI — Johann) 0 1.585 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo VII — Último Beijo de Amor) 0 1.248 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Macário - Introdução 0 1.088 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Macário - Primeiro episódio 0 846 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Macário - Segundo episódio 0 968 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Sombra de D. Juan 0 1.046 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Na várzea 0 1.020 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral O editor 0 832 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Oh! Não maldigam! 0 1.263 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Dinheiro 0 1.152 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Adeus, meus sonhos! 0 1.161 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Minha desgraça 0 981 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Página rota 0 922 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo I — Uma noite do século) 0 1.207 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo II — Solfieri) 0 1.535 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo III — Bertram) 0 2.278 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Panteísmo 0 865 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Desânimo 0 1.012 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral O lenço dela 0 969 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Relógios e beijos 0 1.019 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Namoro a cavalo 0 1.270 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Pálida imagem 0 1.027 11/19/2010 - 16:52 Português