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A Jóia - Ato Segundo - Cena II

Cena II

Carvalho, O Joalheiro

O Joalheiro - Com licença, senhor. Muito bom dia.

Carvalho - Bom dia. Faz favor de se sentar.

(Senta-se e indica-lhe uma cadeira.)

O Joalheiro - Estou a gosto.

Carvalho - Sente-se.

O Joalheiro (Sentando-se.) - Obrigado.

Carvalho (À parte.) - Olho vivo! Tem cara de judeu..

As bichas, o senhor....

O Joalheiro (Erguendo-se.) - Um seu criado...

Carvalho - ... é que vem...

O Joalheiro - Sim, senhor...

Carvalho - ... mostrar?

O Joalheiro - Sou eu.

Carvalho - Queira sentar-se. Faz favor de dar-mas?

O Joalheiro (Tirando a caixa do bolso e abrindo-a. Senta-se)

- Aqui as tem. Perdão! (Limpa-as mais uma vez.)

Carvalho (À parte.) - Vejam com o tratante apronta as armas!

(O Joalheiro entrega-lhe a jóia, que ele examina com atenção.)

O Joalheiro - São bonitos, não acha?

Carvalho - Acho que são;

mas também acho exorbitante o preço.

O Joalheiro - Exor... Meu caro, por amor de Deus!

que preço lhe disseram?

Carvalho - Seis!

O Joalheiro - Não desço

um real. Veja bem!

Carvalho (À parte.) - Estes judeus!

O Joalheiro (Erguendo-se.)

- Que me conste, até hoje aqui não houve

dois brilhantes assim!

Donos deles fazer-me aos céus aprouve;

porém... pobre de mim!

Muitos há que desejam possuí-los;

mas seu valor não dão...

E na vidraça os míseros tranqüilos

por muito tempo permanecerão!

(Pausa durante a qual Carvalho continua a examinar os brilhantes, mas com indiferença.)

Estes brilhantes tinham mais preço

em dois grandes anéis;

mas não nos quero separar. O preço

sãos seis contos de réis.

Se não achar de todo nesta terra

quem os queira comprar,

vou vendê-los à c’roa de Inglaterra

que os não há de enjeitar.

(Toma os brilhantes, coloca-os nas orelhas e passeia pela sala como uma senhora.)

Veja que belos são! De conta faça

que uma senhora sou:

Veja que alvura!... que ladrões sem jaça!

Carvalho - Por quatro contos dá-lo quer?

O Joalheiro - Não dou;

Carvalho - Então, amigo, não fazemos nada:

perde o seu tempo e perde o seu latim...

(À parte.) Se eu me livrar puder desta rascada,

hei de um terço rezar a São Joaquim,

meu glorioso patrono.

O Joalheiro (À parte, embrulhando a caixa.) - A sirigaita

disse-me que o velho dava-me os seis paus;

ela supõe que berimbau é gaita...

Não se lembra que os tempos vão tão maus...

Hei de sempre falar-lhe... talvez queira...

(Alto, guardando a jóia.)

Até mais ver, senhor.

Carvalho - Passasse bem!

O Joalheiro - A palavra já disse derradeira!

Não dá mais nada, não?

Carvalho - Nem mais um vintém.

(O Joalheiro cumprimenta e sai por onde entrou.)

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quarta-feira, abril 15, 2009 - 23:39

Poesia Consagrada :

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ArturdeAzevedo

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