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Nova Viagem à Lua - Ato terceiro - Cena VI

Cena VI

Machadinho, Augusto, Silva e Doutor Cábula

Doutor Cábula (Entrando por último.) - Ora sebo! Lá se foram a vaca, os bezerros e tudo quanto Marta fiou. Estou reduzido a uma fichinha de duzentos e cinqüenta réis. Um maço de cigarros. Nunca chamem por mim quando eu estiver acompanhando alguma costela, porque é tiro e queda! Ela quebra logo.

Coplas

I

Voto de não jogar já fiz;

mas, ó razão, de mim te apartas!

Convicto estou: não sou feliz...

Vício fatal! Malditas cartas

Fico maluco por um triz,

se alguma coisa apanho;

perco outra vez; peço ao Luís...

Perco o que ganho e o que não ganho!

Mas, agora? Nunca mais!

Desta vez prometo:

noutra não me meto!

Nunca mais!

Sim! Dito está! Não jogarei jamais!

II

Quando o parceiro as cartas deu,

na mesa estava uma remissa;

joguei... e o meu dinheiro, ó Céu!

foi - fogo viste lingüiça! -

Mas um consolo tenho eu

(Pobre de mim sem tal consolo!):

Não jogo nunca o que é meu,

mas do Luís, qu’inda é mais tolo...

Mas, agora? Nunca mais!

Desta vez prometo:

noutra não me meto!

Nunca mais!

Sim! Dito está! Não jogarei jamais!

(Consigo.) Mas se eu tentasse a desforra? (A Machadinho, Augusto e Silva, que conversam entre si.) Qual de vocês aí é homem para cinco bodes?

Machadinho - Nenhum.

Augusto - Ora vai-te catar!

Doutor Cábula (a Silva.) - Não tens aí dois pelintras disponíveis. (Silva vai para dar-lhe dinheiro; Machadinho pega-lhe no braço.)

Machadinho - Não estejas a alimentar vícios!

Doutor Cábula - Não impeças uma boa ação, menino!

Machadinho - Venham daí. Ajudem-me a conduzir para aqui o pai do Luís. (Entra no quarto da direita, acompanhado por Augusto e Silva.)

Doutor Cábula (Refletindo.) - Decididamente não jogo mais! Mas... mas deixem lá que uma desforra tem seu sabor! Onde o diabo hei de arranjar dez tostões? (Os rapazes voltam, trazendo Arruda a dormir sentado em uma poltrona e vestido de bombeiro de Nanterre.)

Machadinho - Bem. Agora Silva, tu coloca-se àquela porta e, tu, Augusto, àquela outra. Não deixem entrar ninguém, sem que lhes dê sinal, e sobretudo não apareçam. O velho pode conhecê-los. O sinal é um assobio. Augusto e Silva - Entendido. (Vão colocar-se, um à direita, outro à esquerda e desaparecem no correr da cena. Machadinho tira do bolso um cortiça queimada, vermelhão, etc. e pinta o rosto de Arruda, ajudado pelo Doutor Cábula.)

Doutor Cábula - Que cara cabulosa!

Machadinho - Estes bigodes e estas sobrancelhas dão-lhes uma graça!

Doutor Cábula - Isto é uma cara de azar.

Machadinho - Pronto! (O Doutor Cábula com um pedacinho de papel enrolado faz cócegas no nariz de Arruda.) Mais respeito! É o pai de um amigo!

Doutor Cábula (Com solenidade cômica.) - Respeitemos o nariz da cara do pai de um amigo!

Machadinho - Agora, atenção! Vou despertá-lo...

Doutor Cábula - Cuidado...

Machadinho - Não vás dizer alguma tolice. Estás a par da situação. Tento na boca! (Tira um vidrinho da algibeira e faz com que Arruda lhe aspire o conteúdo.)

Arruda (Desperta, esfrega os olhos, espantado em redor de si.) - A mode que senti uma infulenização no sangue! Onde estou?

Machadinho - Estamos na Lua!

Arruda (Dando um pulo.) - Hein? Entonces sempre é verdade? (Encaminhando-se para uma das janelas.) Que rua é esta?

Doutor Cábula - É a Rua do Visconde do Rio Branco.

Machadinho (Baixo ao Doutor Cábula.) - Então, foi abrires a boca e dizeres asneira!

Doutor Cábula - Não... é... é...

Arruda - Entonces! O Paranho já é conhecido na Lua!

Machadinho (Tomando o braço de Arruda.) - Não chegue à janela, Senhor Arruda!

Arruda (Reconhecendo-o.) - Ah! é vacê, seu doutô? Mas não chegue à jinela por quê?

Machadinho (Mostrando-lhe o traje, misteriosamente.) Pois não vê?

Arruda (Extremamente surpreso por se ver vestido de bombeiro.) - Que vestimenta é esta? Eu não sou sordado! Quem me vestiu assim? Mangarum comigo!

Machadinho - Eu lhe explico. Não mangaram tal. O nosso foguete caiu num quartel de bombeiros da Lua, e os trajes que trazíamos foram Todos confiscados para o museus da pálida Diva.

Arruda - Entendo... entendo... e me botarum esta vestimenta pra sarvá as conveniência sociá... Ah! Ah! Ah! Quê dê Lulu?

Machadinho (Com mistério.) - Chut!

Doutor Cábula (Que tem acompanhado Todos os movimentos de Machadinho no mesmo.) - Chut!

Arruda (Mistificado.) - Que diabo de especulação é esta?

Machadinho - O Lulu agora é o rei da Lua e eu sou o seu primeiro ministro. O senhor é o pai de Dom Luís I. (Doutor Cábula faz grandes cortesias a Arruda.)

Arruda (Passado o grande pasmo que lhe causaram as palavras de Machadinho e as cortesias do Doutor Cábula.) - Quê dê Lulu?

Machadinho - Sua Majestade está no Observatório conversando com as estrelas; não pode receber nem mesmo seu próprio pai.

Arruda - Iremo logo mais. (Coordenando as idéias.) Mas... que diabo! parece que vim dromindo! Não vi memo a viaje.

Machadinho - O Senhor Arruda tem uma natureza fraquíssima. Quando embarcou, parece que algumas gotas de vinho que bebeu no Restaurant do Jardim Botânico lhe havia subido à cabeça, e depois a rarefação do ar nas camadas interplanetárias causou-lhe uma síncope, cujo fenômeno as ciências naturais explicam muito facilmente. Chegamos há Três horas, depois de dois dias de viagem, e só agora eu e este senhor, nosso companheiro de viagem, conseguimos despertá-lo1

Arruda (Ao Doutor Cábula.) Ah! vacê veio com nós?

Doutor Cábula - Acidentalmente.

Machadinho - Este é o célebre professor aeronauta elétrico... (Cortesias do Doutor Cábula.)

Arruda - Ahn... Conheço muito! A roupa dele não foi pro museu.

Machadinho -... o muito sábio Doutor Humboldt Agassis Levington Lesseps X.P.T.O. London...

Arruda - Vacê só me apresenta gente cum nome de légua e meia!

Machadinho (Continuando a apresentação, enquanto o Doutor Cábula desfaz-se em exageradas mesuras.) - ...Ilustre americano muito conhecido em todo o Universo por seus inúmeros e importantes descobrimentos!

Arruda - Pois seu Assis... Assis foi único nome que entendi...

Doutor Cábula (Com exagerada amabilidade.) - Agassis... Agassis...

Arruda - Aguassis... Estimo conhecê-lo... Lá estamo às orde... (Não sabendo para que lado apontar, para iniciar a situação da sua fazenda.) ... lá...Espere! Para onde fica a fazenda? Pra que lado fica Ubá?... Ah! Deve ser pra baixo! (Apontando para o chão.) Lá estamo às orde de Sua Senhoria.. lá em baixo, em Ubá!

Doutor Cábula - Muito obrigado. (Com volubilidade.) Andava eu no meu balão, fazendo uma viagem de recreio à roda desse pequeno planeta que se chama Terra, quando senti que o aparelho era atravessado por um foguete descomunal, que à primeira vista tomei por um bólido. O tafetá do bojo solidificado pela guta-percha resistiu: ficou o balão pendurado no seu foguete que não diminuiu de velocidade, e, assim, tranqüilamente, deitado no funda da minha barquinha feiticeira, vim para, com Vossas Senhorias, a Lua. É um episódio interessantíssimo, que há de fazer furor no Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iorque, se eu tiver a felicidade de voltar à Terra.

Arruda - Voltaremo noutro foguete. Fique descansado, Seu Eguassis. Se isto não me agradá, cá não fico. (Ouvem-se brindes, etc.) O que é isto?

Machadinho - Isto é um baile que dá a estrela Vênus por ver um regente no trono, que estava acéfalo desde que lhe morreu o pai. O baile é oferecido ao Rei Luís , seu filho, para festejar as suas ascensões: à Lua e ao trono. (Assobia.)

Doutor Cábula (À parte.) - É de muita força este menino!

Arruda - Mas o que me admira é eles falá a língua que nós falamo.

Doutor Cábula (À parte.) - Mas o velho é de mais força!

Machadinho - Isso é gente de uma memória e habilidade espantosas. Demais, moram no Céu: não admira que saibam tudo. (Rumores fora.) Atenção, Senhor Arruda! Aí vem Vênus e seu rancho.

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quinta-feira, abril 16, 2009 - 00:21

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ArturdeAzevedo

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