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Carta à Alma, minha amiga
Não peças desculpas!
Oh Alma, sabias…
Todos somos dois.
Um, a pequenina que mora em ti,
névoa perfumada de sonhos e sensibilidade,
que és tu verdadeiramente.
Outro que é do mundo.
A pequenina, quando espreita o mundo, percebe que é grande demais,
Não cabe nele e sente-se triste.
A outra, a emprestada ao mundo, que não és tu verdadeiramente,
não pede, não pode, nem deve, pedir desculpa
pelo que é daquilo que não é e é do mundo.
Deve ser forte sem o ser, deve saber sem saber,
deve ser perfeito, integrado,
deve ser o mundo que de si se faz.
Antes de se amar o que é que seja, temos de nos amar a nós próprios.
Trata-se de um amor que não se sente,
que está lá,
indiferente a todas as formas e a todos subjectivos sentidos.
Um amor transbordante que escorre para o mundo e inunda à passagem todas as vielas por onde se faz o nosso caminho.
O movimento parte de nós,
Todos temos uma chama irradiante de luz que não se apaga por um qualquer desígnio desse mundo que nos alberga
e é aquele bocado de nós tornado dos outros.
Não preciso de ser feliz, não sei sequer o que isso é,
nem triste,
preciso só de me deixar cumprir
e saberei que a minha verdadeira vocação
é tão só ser.
Não é de todo sensato mergulharmo-nos num abismo de insegurança e tristeza, cuidando salvar a nossa integridade e bem-estar,
ou colher de outro qualquer
a humilhante piedade dos insensatos.
Seria como se, em absoluta incongruência, nos atirássemos a um poço no intuito de resgatarmos alguém que nele tivesse caído.
Acredita ó Alma, tu és linda, sensível e inteligente.
É do mundo o privilégio de te ter e não o contrário.
Enquanto a ele, a nós, ofereceres o que sentires ser de nosso mérito,
mais não fará ele e não faremos nós, do que nos esforçarmos em imperfeição
para em ti fazer entoar subtis ecos de gratidão.
Ó Alma, não peças desculpas porque não as deves a ninguém.
Aprende antes que não és perfeita como ninguém o é.
Aceita-te e ama-te, para nos poderes amar a nós,
porque o mundo precisa de ti, tanto quanto precisas dele.
Um e outro, ao fim e ao cabo, são a mesma coisa.
Sem ti, esse mundo que concebes não seria,
por isso, faz dele belo, pinta-o com a indelével marca da tua sensibilidade,
empresta-lhe o perfume do teu sorriso, a ternura do teu doce afago,
e recebe-o em ti de volta.
Virá frio talvez,
mas o calor de um beijo teu, depressa o aquecerá.
Um beijinho grande minha amiga. Nunca te esqueças que és a dobrar - és para ti e és para o mundo.
Eu quero, nós queremos a Alma assim,
sem perdão mas com muita gratidão.
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Comentários
Carta a alma, minha amiga!
miguelmancellos!
Lindo texto, gostei muito!
Onde o autor demonstra que quer estar de bem com sua alma, e está, ou seja de bem com o seu poder interior!
Quando agente esta de bem consigo mesmo, com o nosso poder interior, trocamos palavras etéreas com nossa alma,
e até conversamos com Deus!
Meus parabéns,
MarneDulinski
Já que fala em conversas com Deus...
Muito obrigado, Delicioso comentário MarneDulinski.
Se me permite e se estiver nessa disposição, gostaria que, a propósito do seu comentário, lesse o poema que primeiro publiquei aqui. Chama-se: E se fosse eu, afinal, Deus...
Hoje não lhe daria esse nome, mas isso são outras contas. Pessoalmente, ainda hoje gosto muito dele, porque traduz um momento muito especial de reflexão.
Espero que encontre o poema, senão, já pensei em republicá-lo e talvez o venha mesmo a fazer.
Mais uma vez, agradeço o seu lisongeiro comentário.
Um abraço
Miguel