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INCÊNDIO ACESO NA MARÉ DA MADRUGADA
Não há penumbra mais espessa
do que o azul do céu a adoecer nesta cruel solidão.
Queixume encurralado em voz de pergunta
que me eclipsa a resposta das palavras desaparecidas.
Como cera se derrete ante os lumes do meu desespero.
Nenhum escuro pesa mais do que este pálido vazio da alma.
Suspiro em vento raivoso que me empurra para o eco do abismo.
Fado que a noite escava para sepultar os meus sentidos.
Cardos que a paralisia das estrelas crava
nos meus sentimentos.
Não há silêncio que grite mais alto
do que as lágrimas de dor no meu olhar.
Não há morte mais morta do que o não viver.
Não riste mais afiado do que o gume do pânico
a atalhar os retalhos do meu estar ausente em mim.
Nada mais destrói tanto o tempo como o incêndio
aceso no meu corpo por entre as relvas secas do pensamento.
Não há mar tão cheio de sede
como a maré da madrugada esbarra
na roleta russa da alucinação à minha janela.
Não há deserto mais insano
do que o acto imóvel nos ataúdes da minha cara.
Onde jaz a cinza do sol que fui outrora sem destinatário.
Não há gelo mais trucidante
do que as plumas de saudade a entorpecerem-me as mãos.
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Comentários
Um viagem por dentro de ti...
Uma viagem por dentro de ti, no que fora mal agrava no teu ser sentir à flor da pele,
que tolhe teu pensamento, e dói por ires sempre mais além, poeta de alma nobre e sensível,
que não reconhece as marés desavindas, que nos veste este fato cinzento, que nos atrofia os movimentos,
a palavra concreta. Excelente.
Abraços meus
Jorge Humberto