Inocência

Tinha desistido de esperar
Já não queria mais milagres
Sabia que não ia voltar
Voavam as horas mortas
Sobre a meia-noite
Sem ninguém reparar
As máquinas estavam paradas
Sabiam que não ia voltar.
O cinzeiro fumava
O último cigarro para o ar
Era tão profunda a pena
Que ninguém conseguia chorar
Lá fora a noite quente
Anunciava um dia a raiar
O piano estava calado
Mais ninguém o sabia tocar.
Dormia a pequena princesa
Em braços de pena e dor
Deixava o seu corpo agora
De emanar qualquer calor.
Não a príncipes encantados
Nem anjos para ajudar
Morreu a jóia da coroa
Parece que a vida vai acabar
De perto da porta
Talvez alguém consiga ver
Aquele paninho de sangue
Que ninguém conseguiu deter.
Passam as horas chorando
E o dia vai clarear
No quarto há silencio
Por quem não vai voltar…
Nada será o mesmo
Pensem o que quiserem pensar
Eu não aceito que foi embora
Amanhã ela vem brincar!