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Prisão da alma
Os dedos mexem autonomamente
E a cabeça começa a fervilhar.
Nunca vivo calmamente
Porque estou sempre a pensar.
Ser fútil e vazia
Talvez menos me inquietasse.
Queria paz um só dia!
Algo que me libertasse.
Cada raciocínio feito
Um desejo a emergir.
Oh, o meu maior defeito
É esta necessidade de redigir.
Assim, vivo para as páginas
Que em branco se mostram,
Impondo apenas duas margens
Onde as minhas mãos encostam.
Sou prisioneira da literatura.
Não tenho o meu próprio viver.
Até esta amargura,
Estou a soltá-la a escrever.
Um papel e uma caneta
São o meu oxigénio
Como a prótese o é para o perneta.
E não…não sou nenhum génio!
Chega a ser doloroso
Não conseguir pensar em seco.
Que castigo maldoso
As letras serem o meu beco.
Fecho os olhos e pronto,
Lá vem a imaginação
Que faz ponto de encontro
Com a minha intuição.
Agora mesmo devia estudar
E pousar este maldito bloco.
Mas não paro de pensar
E a folha é o meu foco.
Já nada mais há a esperar.
Este é o meu viver.
E só quando parar de respirar
Deixarei de escrever!
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