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Sapatos Pretos

O toque do som surdo de sola do seu calçado
“Toque, toque, toque, toque,” toquei, tocou…
“Toca-me”… estou tocado…          …. e a sorrir em aparência…
Em face de uma ameaça de castração
“Estanha forma de me arrancar o coração”…
E o guardar, cativo, prisioneiro da mão
Honestamente…                         …..para lá da decência…
E de agrado me colocou um sorriso
De um nervoso, amedrontado riso
Mas ao pisar-me os dedos… com seus sapatos pretos…
Passa-me ao lado… e diz “Desculpe, não o vi”
Como se fosse invisível… ou transparente…
Atrevida de passar tão rente, que me puxou os nervos
Tal qual fossem suas mãos um pente
E diz… “Desculpe, não o vi”
“lpe, não o vi”
“,não o v”
“Não”
….
Mais uma repetição, na realidade mais…
Um acto de contrição…
Talvez fruto da alheia contribuição, da…
Constante negação…
“Desculpe, mas não”

E fartei-me, porque mais uma vez,
Apaixonei-me
E não houve justiça de facto para justificar castigo
Portanto, pensei, vou reclamar contigo
E dizer em grito revoltado…. Na voz mais doce que tenho…
“Não faz mal… tá perdoado”

Que fui eu fazer, agora vais, para não mais voltar
Com teu “toquei, toquei, toque, toque, toque, to… to… t…. t… t…. … … …”
Fica o som na minha mente da imagem de te ver as pernas andar…
Mas o som já se foi, e já não te vejo… nem teus sapatos pretos, nem teu cabelo
Cabelo que começo agora a recordar,
Pois nem tempo tive sequer de tocar… mas que sei
Tenho a certeza que cheira a flores, de magnólia
Ou baunilha, ou outra flor doce e aromática
Como mel, como a cor de mel dos teus olhos

“merda… devia ter memória fotográfica”
Passado o momento, o momento faleceu, assim mesmo
No sítio, no tempo e na circunstância onde nasceu, aí… morreu…
“porra, tenho de olhar onde ponho os pés” quase escorrego e caio fora do passeio, para a estrada onde os carros assobiam e rufam ao ritmo dos paralelos de granito, onde a campainha do metro é o único despertador para o transeunte comum acordar da hipnose citadina…
“já nem sei bem por onde estou a ir”, deveria ter virado na outra rua, tinha esse plano, mas o “toque” dos sapatos pretos apagou-me os planos do olhar, passei a encruzilhada porque… só para me cruzar com ela, não parei de andar… e agora já nem me lembro da cara dela… se é que cheguei a ver mais que os olhos dela… as pestanas dela… a sombra azulada, ou esverdeada, ou de outra cor que favoreça olhos cor de mel… nem sei…
Acendo um cigarro… porque ainda me sinto abalado e de cigarro na boca sou sempre um super herói, ganho “Plano”, “Coragem” e por vezes serve de fato, porque de cigarro na boca visto outra pessoa, que não tem medos e vive na linha entre a vida e a morte… “ai ai…” desmancho-me a rir de mim mesmo, qual tolinho no meio da rua, pelo tom sarcástico que uso para pensar sobre mim mesmo…  “Se eu não gozar comigo, quem o fará”, já que sou um super herói…
Volto então a entrar na rota, com volta de 180 graus de telemóvel na mão para fingir que me surgiu algo novo, um facto desconhecido até aquele exacto momento mas que me abala o suficiente para ter de mudar de direção, mas a mulher das castanhas sabe que não foi isso que aconteceu… e sorri… e eu finjo que não vi… pois fico vermelho, com vontade de ficar azul… ou de novo transparente, só para que ela me pise de novo e me dia “Desculpe, não o vi”
Mas não vai voltar a acontecer, pois também ela volta para trás, rua acima… mas de mão dada, com quer que seja que foi encontrar rua abaixo… e agora já não vai haver desculpa… dobro a esquina e desfaço a minha encruzilhada, entrando na rua certa, segundo o plano traçado horas atrás, por uma mensagem de telemóvel que enviei…
“Tens?”
“no sitio do costume?”
“as 4”
“Ok”
E vejo pelo canto do olho, enquanto me encontro com o sitio do costume, e lhe ponho na mãos o que devo, que ela passa, de mão dada, com o que parecia uma homem ao longe, mas não é… e sorrio… “De que te tas a rir pah?”,
”…não me ligues, antes de vir tive a acabar o que tinha em casa” numa caixa de madeira na gaveta por baixo da televisão, porque era onde guardava os DVD’s, que já só eu comprava, por preguiça de sacar ou por concordar que bons filmes mereciam recompensa na forma de eu não os copiar… e porque gostava de os ver com a melhor qualidade, uma,outra e outra vez…

Ela passou… com os seus sapatos pretos… “Toque, toque, toque, toque,” e ela passou com as suas vans xadrez “Minha, minha, minha, minha”… e eu pensei… “…nunca na vida”
Senti-me menos mal por ser invisível, e afinal ela nem era assim tão bonita… era apenas alta, e de saltos, saltos nos seus sapatos pretos… que tocavam… e eu fui tocado pelo toque do seu andar… “Toque… toque… toque…”

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quarta-feira, junho 6, 2012 - 14:02

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