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Saudade

"Saudade eterna, que pouco duras" (Fernando Pessoa)

I
De saudade em saudade vivo eu,
Seguindo sempre um rumo incerto,
Onde ora ‘stou longe, ora ‘stou perto
Dum mundo que nem é meu nem é teu.

Tendo uma lembrança que alguém perdeu,
Eu choro (sangue p’los meus olhos verto!)
Não sei o que é errado ou certo;
Sou alguém que não tem nada seu!

Sofro em silencio. A vida
Em mim ‘sgota-se… olho aflito
Em redor… a vida oferecida

À arte só me traz desventuras.
Minha alma geme… com ela grito:
“Saudade eterna, que pouco duras”!

II
Tu pouco duras saudade eterna;
O conforto tiras dos aflitos,
Retiras prazer dos altos gritos,
Matas-nos com uma paixão terna.

Quebras-nos uma e outra perna,
Fazes-nos cometer vis delitos,
‘Té mesmo incríveis ‘scritos,
Mas pouco duras, saudade eterna.

Quando nos acostumamos a ti
Logo te afastas, foges de nossas
Vidas. Todo o que de ti li

É verdade. É realidade.
Tu deixas nos corações mossas
Profundas, para a eternidade.

III
Mil flechas cravas no coração
As vidas, os ‘spiritos flagelas.
Mas essas marcas tão singelas
Depressa se cicatrizarão,

Ficarão caídas no chão
Como crianças dumas favelas
Mortas por alguém! Sim só tu gelas
O calor duma quente paixão.

E ali ficaremos, num ermo
Deserto, onde a vida é criança,
Uma criança que chega ao termo

Da sua cruel existência.
Da saudade morre a vil lembrança,
Das dores sentidas com alegria.

IV
Morre a saudade, termina a vida,
Morrem também as nossas lembranças,
Trespassadas por sentidas lanças
Que acabam co’a saudade querida.

Mas morrerá mesmo a sentida
Saudade?... Ou fica, sem mudanças,
Num coração sem esperanças
Do fim da agonia prometida?

Prometida p’la vilã saudade
Que finge morrer, mas sobrevive,
Que cá fica na eternidade?

E assim ficamos nós, perdidos,
Como uma flor que no mundo vive
E seca co’os tormentos sentidos.

V
Saudade eterna, transformas-te em dor.
Morreu a saudade… a dor ficou,
Sem luta o coração tomou;
Fica conquistado o conquistador.

Morre e vai a enterrar com louvor
A saudade a que me vida alguém chegou.
Ai de mim que, solitário, vou
Ao enterro do sentir vencedor.

Mas fica cá dentro a lembrança
Vagueia neste meu corpo mortal.
Já perdi totalmente a ‘sperança

De alcançar as sentidas venturas.
É esta a triste verdade afinal:
Saudade eterna, p’ra sempre duras!

09.02.94

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sábado, março 26, 2011 - 00:49

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gaudella

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