Um Rio Diferente

Jamais se adentra o mesmo rio
duas vezes.
Na segunda, aquele rio já passou,
em seu ventre alguns peixes morreram,
outros vieram com a desova.
As águas estão de outra cor?
Ou serão os olhos que carregam
um arco íris em sua existência
circular e cristalina?
Não se adentra o mesmo rio
duas vezes,
assim como nunca se beija
a mesma mulher.
Na próxima, sendo a mesma, já é outra,
seu corpo parece mais vivo,
e há mais amor
no copo furado do coração.
Olhando de perto, já você
não é o mesmo.
As águas em que nadou,
as mulheres, em uma, que beijou,
as pernas, os olhos, as mãos sempre vazias...
nem mesmo esta vida é constante,
na correnteza larga e carnosa
do tempo que,
na velocidade da ampulheta,
vai transformando átomo a átomo,
a realidade de todas as coisas.