Varrer a Mente

Varrer a mente
Com bebedeiras inúteis,
Gorgolejar inconstante
Que só traz maus sabores,
Más línguas, maus cheiros,
E ao fim ao cabo
Não passamos todos de animais
Com mentes varridas
E aranhas no sótão.

Guardar na mente
As memórias chagadas
Dum tempo qualquer
Onde os segundos se matavam
À charrada, ao copo no bar,
E o tempo escorregava pelos dedos,
Pelos cabelos amorfos,
Pelos olhos incrédulos
Nos relógios parados
Das salas de jantar,
Onde esperamos um dia
Fazer a festa das nossas vidas.

Arrumar a mente
Num quadriculado milimétrico,
Onde o A se junta ao B
E vamos todos de mãos dadas
Pelo corpo fora,
Carneirada indiferente à brisa
Que anuncia o temporal.

Mente fechada, mesquinha,
Das contas aritméticas certinhas,
A régua e esquadro,
Mente aberta,
Sensual;
Mente livre,
Sexual;
Mente do poeta
Que não tem medo
De ser ferido pelo Mundo,
De se magoar profundamente,
De sangrar humanamente
Nos espinhos da rosa
Que ama,
Por quem chora e reclama,
A quem pode dizer
Em dias de menor importância,
Sou homem de pensares,
De olhares contundentes,
Poeta branco e opaco,
Das poesias e mentes,
Sempre livres e abertas.