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CRÔNICA DA INFÂNCIA: OS DOIDOS

         Na Crônica: “A Rua do Correio”, reportei-me a uma fase da minha infância; àquela que os psicólogos chamam de segunda infância. Agora volto a um passado mais distante, volto a um tempo que a lembrança não passa de uma névoa na nossa mente, um passado que só lembramo-nos de forma apagada, com pequenos lapsos de memória. Volto à Rua São Pedro, na cidade de Serra Talhada em Pernambuco. Lá ficava, próxima à nossa casa, a dos meus avós paternos: Seu Antonio Amaral e Dona Maria, a quem chamávamos: Vovô Antonio e Vovó Maria. Muitas fases da minha infância passei na Rua São Pedro. Como por exemplo, o tempo das chuvas, quando tomávamos banho nas biqueiras das casas e brincávamos de barquinhos de papel nos córregos da rua – naquele tempo, as ruas não tinham calçamento –, bem como aproveitávamos para tirar o barro das grotas formadas pela chuva e com ele modelar animais como vacas, cabras e outros, os quais colocávamos em currais pequenos feitos de pequenas lascas de madeira com pedaços de capim e tampas de frascos com água para servir de bebedouro para os mesmos. Ás vezes fazíamos, também, esses animais com maxixes verdes colhidos nas roças, utilizando palitos de fósforos para fazer as pernas e a cauda.
         Uma coisa que gostava muito de fazer era observar os pombos do meu Tio Geraldo. Havia um pombal muito grande, com suas pequenas casinhas para os animais. Eu ficava, muitas vezes, jogando milho para os pombos, e observando quando eles voavam para longe, e depois, mais tarde, quando retornavam para suas pequenas casas. Também, tinha muitas galinhas, perus, gaiolas com pássaros, que eram criados pelos meus tios: canários, golinhas, azulões e vários outros. Ficava encantado com o canto daqueles pássaros nas gaiolas e com suas formas e cores variadas. Lembro-me, também, das pescarias e caçadas dos meus tios. Eles traziam muitos peixes e pássaros de várias espécies. Passavam dias dormindo nas matas, em barracas de lona armadas embaixo das árvores.
         Lembro-me da minha primeira calça comprida que vesti, de episódios engraçados como um que aconteceu na igreja dos “crentes”, como chamávamos os evangélicos naquele tempo. O Pastor era seu Ananias. Homem de grande estatura, e que fazia medo a muitas crianças, quando falava com sua voz grossa. Um dia, quando os “crentes’” começaram a gritar, num culto à noite, pegamos um buscapé e soltamos por baixo de uma fresta da porta central. A igreja estava na penumbra, e foi “crente” correndo pra todo lado. Corremos desesperadamente, mas depois descobriram que “foram as crianças”. Chegou a queixa aos meus pais, mas só fui repreendido, pois meus pais não me batiam. Outras crianças apanharam, Foi um episódio muito falado na nossa rua. Depois, com o tempo, seu Ananias voltou a falar conosco, com sua voz grossa. Tudo foi esquecido. Outro fato notável comentado na nossa rua foi quando o homem pisou na lua pela primeira vez. Lembro dos comentários, as pessoas sem acreditar no fato. Ainda cheguei a presenciar na casa de meus avós um exemplar da revista “O Cruzeiro” e na capa tinha uma foto muito bonita da lua, com o primeiro homem pisando no solo lunar. Era uma coisa esquisita para nós, as crianças, saber que um homem andou na lua. Depois tudo foi esquecido. E o tempo apagou todas essas coisas, mas a lembrança ficou. Fotografia nesse tempo era coisa de luxo. Só meu primo Antonio Conserva que tinha uma câmara fotográfica e tirou várias fotos nossas. Hoje eu ainda possuo algumas de lembrança que encontrei em casa de alguns parentes. Lembro-me de fotos dos meus primeiros anos, com aquelas roupas esquisitas que pareciam femininas, conjuntos com gravatas borboletas e sapatos de verniz.
          Mas não quero falar aqui só da Rua São Pedro onde morava nessa época – apesar de lembrar de muitas coisas boas que lá vivi –, mas de um tema muito esquisito: “Os Doidos.” Essas figuras enigmáticas e místicas – se dessa forma posso chamar a um doido –, são o pavor e o desespero de qualquer criança, e têm uma importância muito grande no comportamento delas, pois geram um fator negativo, que é o medo. Mas vamos aos “Doidos” que freqüentavam a Rua São Pedro.
         “Os Doidos” mais famosos da minha cidade, alguns deles freqüentadores da nossa rua, aqueles que tive a infelicidade de conhecer eram: “Máximo Doido”, “Luiz Bacurim”, “Mané Cuinha” e “Sivirino da Pirua.” “Máximo Doido” era o que pode se dizer o doido mais doido que já conheci, pois andava fazendo gestos de toda qualidade; sem contar com a forma de se vestir – a roupa toda rasgada, às vezes, até, vendo o que criança não pode ver -, os cabelos todos enovelados e sujos e a barba imensa; sem contar no cheiro, pois banho era raro tomar. Era um doido apavorante que fazia medo a qualquer criança do mundo. – Valeeei - me meu Padim Ciço da Mãããe! E Deeeus das Candeias! –, cantava o doido “Luiz Bacurim”. Com uma pequena capela de madeira na mão e dentro uma imagem de Nossa Senhora, que não sei até hoje onde conseguiu, esse doido fazia correr todas as crianças da rua. Era um Deus nos acuda, criança para todo lado. Mais, mesmo assim, era um doido menos temido que "Máximo Doido”, que como falei era apavorante.
         “Mané Cuinha" era um doido muito feio, gordo, as pernas cambotas, e tinha a mania de correr atrás das crianças. Aí é onde residia o pavor! Criança já tem medo de doido, imagine correndo atrás delas! Quando o doido passava ouvíamos os gritos agudos das crianças: Lá vem Mané Cuinha!!! E era menino pra todo lado. Uns corriam para dentro de casa, quando encontrava a porta aberta, outros se escondiam onde podiam, era um terror. “Sivirino da Pirua” foi outro doido temido, mas de menos importância que os outros citados. Dele me lembro pouco. – Valeeei - me meu Padim Ciço da Mãããe! E Deeeus das Candeias! –, cantava o doido “Luiz Bacurim”... E as crianças ouviam apavorizadas o eco da sua voz aguda, desde a “Venda” de seu Afonso até a Padaria de “Zome” (meu finado Pai), na Rua São Pedro.

 

    

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quarta-feira, março 9, 2011 - 23:03

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JANILSON BARROS DO AMARAL

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