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Desabafos de uma pequena vida
Vagueei pela casa, à procura das respostas para todas as perguntas que durante 17 anos lhe fiz e das quais nunca tive resposta. Perguntei a Deus, porquê ela? Porquê uma pessoa como ela? Chorei até não poder mais, todos me pediam calma, mas eu não a tinha, não conseguia. Era como se me tivessem roubado um objecto sem o qual não conseguiria viver.
Mandei uma mensagem ao Ricardo às 7h44 para o avisar do que se tinha passado, para mim ele era a única pessoa que naquele momento me conseguiria acalmar e provavelmente ajudar-me. Uma vez mais ele mandou-me ter calma e distrair-me… Sentia-me inexplicavelmente calma, ele tinha conseguido faze-lo por alguns minutos, mas não por muito tempo, deu-me um repentino ataque de choro, tentei ligar-lhe, mas ele não atendeu, percebi que estaria ocupado, mas quando pudesse me daria alguma atenção. Para quem não sabe o Ricardo, é alguém que se mantém ao meu lado no bom ou no mau, nem que seja apenas psicologicamente.
(...)
O dia passava tão lentamente, parecia que as horas demoravam anos a passar, por incrível que pareça apenas me vinham à cabeça, pequenas passagens da minha vida ao lado dela durante os últimos anos, apenas ouvia a voz dela a afastar-se aos poucos de mim, sentia-a soltar-me aos poucos dos longos abraços que tantas vezes lhe dei, e nos quais me sentia a pessoa mais segura do mundo. Nunca ninguém me dará a segurança que ela me dava, nunca ninguém ocupará o lugar que ela deixou vazio, graças a uma irresponsável qualquer que numa madrugada deixou uma velhinha de 81 anos sozinha e debilitada fisicamente.
Já seria perto de meio-dia, quando devagar o carro funerário desceu a longa rua e parou a nossa porta, um caixão castanho claro, um arrepio de frio, uma lágrima, uma saudade, um vazio, tudo em 5 segundos. Sai pelo portão fora, encostei a minha mão levemente no vidro do carro, pensei para mim própria: “avó volta, amo-te”, mas ela não me respondeu, não voltou… Talvez ninguém entenda o que eu senti, quando acordei agarrada a um terço, pedindo a todos os santos, a deus, a todas as divindades para não levar a minha avó.
Amo-te melhor avó de sempre*
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