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Dias de Azar VI

Quase todos os dias Carina ligava para Marisa, era uma luta contra o tempo, já não conseguia quase pensar que dali a poucos dias, Marisa poderia já não estar ali, isso assustava Carina, apesar de sempre muito apoiada por Ricardo, que estava preocupadíssimo com a namorada, já que esta por vezes não dormia a noite inteira a pensar na melhor amiga. Este também não entendia as leis da vida, como era possível uma miúda daquelas, cheia de vida, estar ali numa cama de hospital, entre a vida e a morte?
Apesar de ser uma senhora de fé, a mãe dela não tinha coragem de a ir ver, mandava-lhe pequenas iguarias para que esta se alimenta-se o mais normal possível, a irmã conseguia ainda enfrentar todo aquele sofrimento com algum optimismo, conhecia Marisa, sabia que esta não se deixaria vencer assim, mas custava-lhe olhar para ela e ver a sua vida fugir-lhe por entre os dedos.
- Mana estou a sentir-me melhor! – o sorriso de Marisa mantinha-se inalterado, isso dava alguma força a Marina para ajudar Marisa naquela luta. O tempo esgotava-se, restavam apenas 4 meses para o regresso de Marina aos Estados Unidos. Esta apenas não sabia se iria descansada ou se iria ainda com medo de perder a sua irmã mais nova. O pai ia ao hospital talvez 2 vezes por mês, e dali saia a chorar, não conseguia acreditar que a sua filha iria morrer mais cedo ou mais tarde.
Durante largos meses, a mãe ia a missa pedir uma cura, mas a ciência já não acreditava nisso. Era um dilema: uma mãe que acreditava que Deus com a sua força conseguiria tirar a sua filha daquela situação e a ciência que a condenava a uma morte dolorosa sem qualquer maneira de atenuação. Chegou mesmo a fazer uma promessa a Nossa Senhora de Fátima, prometendo-lhe que se a sua filha se curasse iria a Fátima a pé e levaria trigo.
Estávamos em Dezembro de 2009, Marisa continuava a estudar, apesar de não frequentar as aulas, geralmente Renato, trazia-lhe todos os apontamentos para que esta estudasse. Apesar de estar debilitada fazia-o sem se queixar de nada. Renato dividia-se entre Porto e Viseu, quando os dias acabavam sentia-se completamente arrebentado, não conseguia já fazer uma directa para estudar. Por vezes quando não podia acompanhar Marisa, ia dormir a casa de Tiago em Aveiro, ambos passavam horas a falar sobre como iria ser a vida de Renato quando Marisa morresse.
A época de exames chega, apesar de estar gravemente doente Marisa queria acabar o seu curso se Deus assim o permitisse, por isso pediu a Ana que lhe concedesse algumas saídas para poder realizar os exames da faculdade, por mais estranho que pareça quem a via entrar na faculdade não diria que estava doente, tinha um ar saudável e bonito. As semanas iam passando, e as notas de exames iam sendo afixadas na faculdade:
“ Marisa Oliveira:
Álgebra linear e geometria analítica: 17 valores
Análise matemática: 16,5 valores
Algoritmia e programação: 16 valores
Laboratório/ projecto I: 17 valores
Princípios da computação: 18 valores”
Onde ia ela buscar forças para estudar e ter notas tão brilhantes, já que naquele 1º semestre não frequentara qualquer aula? Todas as visitas que os seus amigos lhe faziam eram sinónimo de admiração já que esta não escondia o sorriso brilhante de sempre, diria que não parecia doente sequer.
Era um dia quente de Março, Ana decide fazer alguns exames para verificar a situação, eis que não existia nenhum tumor, Ana estranhou, realizou varias vezes o mesmo exame mas não existia nada. Manda-a para uma clínica que pertencia ao director do hospital e uma vez mais não existia nada, surpreendentemente o tumor tinha desaparecido. Teriam se enganado em Junho do ano anterior? Ana revê todos os relatórios e exames que Marisa realizou, não havia qualquer erro, aliás se houvesse possivelmente Marisa já teria morrido do excesso de químicos que todos os dias entravam e circulavam no seu corpo. A jovem médica, pede a comparência de Renato no seu consultório, rapidamente este sai das aulas, pega no seu carro e dirige-se para o hospital. Entra correndo, pensando que Ana lhe iria dar a pior notícia da sua vida, bate à porta:
- Renato entra! – a confiança era tanta que já se tratavam por tu.
- O que se passa Ana? Ela está bem? Piorou? Diz-me o que se passa… - esta sorri-lhe, era a primeira vez que a via faze-lo depois de todos aqueles meses de intensa luta, pela sobrevivência de Marisa. Esta nos últimos tempos, já acreditava que iria receber um telefonema durante a madrugada dizendo-lhe que a sua paciente e amiga tinha falecido.
- Calma! A Marisa está óptima, melhor do que nunca… - Renato não a deixa terminar:
- Ana fala de uma vez, estou a ficar com medo…
- Hoje de manhã fizemos exames e o tumor não existe!
- Não existe? Como assim não existe?
- Simplesmente a sombra que existia nas ressonâncias e nas análises destes últimos meses não existe. É surpreendente como desapareceu, nunca vi nada assim…
- Estás a brincar, só pode… - as lágrimas caiam-lhe pelo rosto abaixo, era inacreditável: a sua amada estava curada! Não resiste a perguntar:
- Posso ir vê-la?
- Claro que podes. Hoje estás a vontade para estar com ela! – mal entra no quarto os olhos de Marisa brilham:
- Não devias estar na faculdade? O que fazes aqui?
- A Ana chamou-me… - esta não o deixa terminar:
- Chamou-te? Porquê? Vou morrer não é, ela quer que te despeças de mim para depois eu morrer…
- Nada disso meu amor, estás curada, acabou o pesadelo. Podes começar a ir às aulas e possivelmente amanhã ou depois já podes ir para casa – as lágrimas corriam-lhe pelo rosto abaixo, estava feliz e não conseguia justificar aquilo que sentia.
Renato liga a dona Maria, diz-lhe que Marisa esta curada, e que deverá regressar rapidamente a casa, para grande espanto de todos. Passadas algumas horas, a sala de espera parecia mais um centro de congressos, estavam lá todos aqueles que do princípio ao fim apoiaram e acreditaram em Marisa, mesmo sabendo que ela poderia não sobreviver. Carina desta vez avisada por Renato, saí da faculdade, passa a casa de Ricardo e dirigem-se para Viseu, ambos com um sorriso na cara, já que Marisa iria assistir ao seu casamento, quando lá chegam abraçam-se a Renato felicitando-o. Entretanto os pais dela chegam também ao hospital, pedem para falar com Ana, esta sai disparada do seu consultório e abraça-se a eles, as lágrimas que lhe corriam pelo rosto abaixo eram de alegria, não encontrava justificação para a cura, aliás era inexplicável como é que alguém que estava condenado a morte, estava de perfeita saúde:
- Dra. Como é que a nossa filha está curada?
- Não sei dona Maria, mas está! Neste momento aquilo que penso é que tudo isto foi um milagre, não havia esperança para a sua filha e de repente tudo o que havia desapareceu sem qualquer justificação médica e científica. – Carina vai ter com a mãe da melhor amiga:
- Dona Maria, estou felicíssima! Parabéns pela filha que tem.
- Ela não conseguiria se não tivesse tido todos vocês com ela. Vocês tornaram-na forte e ajudaram-na a superar tudo isto. Deus só deu uma ajudinha! – estavam ali todos conversando sobre o possível milagre, felicitando os pais e o marido dela, sem duvida estes suportaram muita coisa nos últimos 8 meses. Provaram que as grandes famílias permanecem sempre unidas, mesmo nos maus momentos. Entretanto chega também a irmã de Marisa, com um sorriso rasgado, não dormia à 3 noites, dia e noite acompanhava a irmã, esperando um milagre, acontecera. Poderia voltar aos Estados Unidos descansada. Marina abraça-se à mãe:
- Mommy, ela está curada! Voltamos a ter a nossa peste de volta!
A mãe percebera que as suas preces tinham sido ouvidas, tinha havido um grande milagre e todos aqueles que ali estavam eram testemunho disso. Naquele dia quebra-se todas as regras existentes no hospital, entraram todos: família, amigos, conhecidos, colegas de faculdade, estavam lá todos dentro da grande enfermaria, que naquele momento era pequena para tanta gente. Os sorrisos estampados na cara de todos os presentes era encorajador para Marisa. A mãe de Renato puxa-o para fora da enfermaria:
- Eu não te disse que estavas a cometer uma loucura quando a pediste em casamento?
- Oh mãe não comeces por favor, ela está bem e o que interessa não? Se não a pedisse agora, iria pedir mais tarde, qual é problema? – discutiram largos minutos, até que Marisa com uma voz suave diz de dentro da enfermaria:
- Não discutam por minha causa! – a mãe dele regressa a ela própria, percebera que estava a ser injusta com ambos e que toda aquela raiva derivava do pequeno medo de ver o seu filho sofrer novamente por causa de um amor:
- Desculpa filho, não queria dizer isto, mas sinto-me preocupada com o teu futuro! – era a preocupação que a fazia por vezes ser um ser humano frio. Agora estava mais descansada, Marisa estava bem e poderia regressar a casa.
-Eu sei mãe, mas já tenho 22 anos, não é preciso te preocupares tanto. – também ele se preocupava com o seu futuro, mas não poderia deixar a sua amada fugir-lhe. Era um miúdo persistente, capaz de tudo pela namorada. Muitos criticaram o seu acto desesperado, chamaram-lhe doido por casar aos 22 anos e por arriscar o seu futuro por alguém que até à data daquele dia de Março estava condenada à morte.
A tão esperada quarta-feira chegou, devagar sem que ela desse conta, ele pegava nas suas coisas e colocava-as na mala, sabia que aquele dia iria ser um dia de felicidade. Finalmente poderiam passear de mãos dadas na praia, sem que as suas cabeças pensassem na doença que um dia podia tê-la morto. O relógio marcava 9 horas e 15 minutos, Marisa acorda e olha para ele, contemplando a dedicação que este tinha naquele momento. Os olhos brilhavam e as únicas palavras que existiam eram de amor. Intrometeu-se:
- Acordaste cedo, para me fazeres a mala…
- Não queres sair daqui, princesinha?
- Quero, mas tens de me prometer que ficas comigo depois disto tudo. Prometes? – ele deixou a mala, caminhou em direcção à cama dela, sentou-se e agarrou-lhe a mão:
- Nunca mais te largo meu amor. Aquele susto fez-me perceber o quão importante és na minha vida. E o dia do nosso casamento foi o melhor dia da minha vida, senti por momentos que todo aquele sofrimento do passado valeu a pena, pelo menos reconheci o ser magnifico que és. Não é preciso ninguém perguntar, tenho orgulho em dizer que te amo e que quero ficar contigo para sempre… - os olhos dela brilhavam, devagar aproximou-se dele e abraçou-o. Mas uma voz que entrava pelo quarto interrompeu o momento apaixonado:
- Então pombinhos, preparados para me deixar? – era Ana, trazia os papeis de autorização medica de alta, para que Marisa pudesse sair do hospital naquele dia.
- Oh Ana, vou sentir tanta falta das nossas conversas! Durante todos estes meses percebi o quão boa médica és. – Marisa sentia que iria deixar ali a sua amiga.
-Um dia tens de nos ir visitar a Espinho! – Renato fizera a sugestão. Escolheram Espinho para morar, porque ambos gostavam de praia, e uma casa próxima da praia foi a prenda dos pais de Renato.

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sexta-feira, julho 30, 2010 - 16:44

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lau_almeida

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Re: Dias de Azar VI

Bem, agora que a historia seguia morna, eis que uma "onda" na maré de uma história surpreendente se levanta e arrebata-nos para uma leitura mais viciosa e inebriante.

Cada vez a gostyar mais da personagem Renato.
Gosto do ritmo da narrativa, da construção segura de um mundo real e de vivências com as caracteristicas próprias de quem quer ilustrar a trama.

muito bom.

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Re: Dias de Azar VI

tantos elogios...meu deus :$
obrigada :)

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