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A fé

O corredor estreito, por onde me obrigam a marchar, aperta-se, como se as paredes tivessem vida, e eu, encosto-me a elas, bem rente em bicos de pés, procurando não capitular. As arestas roçadas contra o tecto granulam do pó caído, assustando-me, mas eu sei, que foi a utopia da alma muda que sustou, em raiva invertida do grito da vontade, contra elas, atravessando-me nas ondas respigadas aos meus últimos dogmas.
Antes de lá chegar, por via dos dedos vergastados dos outros, apontados, movia-me pela força dos meus braços, arrastando as pernas mortas como um cão de espinha bífida – oh, como me enojam estes termos –, mas o monstro, faminto da minha vassalagem, alimentou-me, criando-me aranha crisálida, e agora, por castigo da renegação, volta o desejo dos dedos.
Um açoite no tom da palavra, um coice da mesma sobre vazios de significado do balanço justo, bem temperados na ocasião, fazem-me ressoar na cabeça o coro de ovelhas que balem: “venha a nós, venha a nós, amém”. Entre o aferrolhar das palavras sobre o amanhã censurado, as minhas orelhas crescem, muito peludas, e eu, zurro, entre os convites da voz grave e funda que me promete de lá do fundo, sussurrada, atrás da borboleta de asas grandes que poisa na flor de pétalas azuis, dando pinotes alegres atrás dela, que mais não são, quando ela se escapa, e mal eles sabem, da valsa nº2 de Shostakovich, em que danço com a mão alçada ao alto na mulher que me leva, ao mesmo tempo que o sangue me escorre do braço, pela chaga da mão apertada que contém a minha promessa encarnada em religião: não te venderás; atrás, vozes incógnitas e bêbadas aplaudem o meu rodopiar de um gargalhar febril de sarcasmo.

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sábado, maio 29, 2010 - 20:20

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Jorgelupus

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Comentários

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Re: A fé

A falta de FÉ ainda que no invisível é capaz de nos remeter ao corredor da morte.
A Fé em si é algo inexplicável , mas essa mesma abalada pelo medo remete qualquer um a esse corredor.
Desejando a própria morte , me vejo aí.
Abraços
Susan

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