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A Melancolia do Escaravelho (fragmentos)

Tenho comigo este comprometimento: seguir o que meus pés desejam seguir e ser muitas e contraditória - pois é na contradição que me entendo, que me aninho do mundo. E isso que me despe lentamente possui mãos ligeiras e ágeis de urgência, num impulso libertador e famindo, que reivindica para si tudo o que há entre as muitas camadas que guardo, gritos que suprimi e sussurros passadinos, devaneios e pontos de encontro do meu ser e do devir.

Isso que me consome ferozmente, cada parte de mim, é o mesmo que à noite me toma, me agarra entre palavras, num mar de letras sentidas, de pensamentos ainda quentes, nos lençóis já quedos... isso: o bálsamo que me envenena ainda mais de mim mesma é também a minha via-expressa, meu canal de entendimento. Poderia eu ter uma fuga, como qualquer pessoa, mas teimo em problematizar as coisas, e às vezes corto-me sem piedade.

(...)

Quando adentro teu apartamento, esta muralha cinzenta que escolheu para fazer tua morada, não estou perdida ou confusa. Houve noites em que me perdi em corpos e lugares que hoje sinto falta - não dos lugares, muito menos dos corpos, mas dessas possibilidades que fui e que hoje possui um valor que não consigo mais pagar para me ter de volta. E por isso, digo: no teu território frio encontro o aconchego trépido que emana de si e de teus objetos polidos e presentes, assim como as palavras e os pensamentos audaciosos detrás destes óculos tímidos e de tudo o que é em si timidez e perturbação.

Leio, do outro lado do quarto, os sobressaltos que tua respiração dá. Leio tudo o que emoldura tua imagem:

"ela, a estranha, ali, um momento de dor, muitas noites de dor, na solitude de uma cama que era só minha... ela, aqui, na minha dor, com a sua dor, o que quer? Ela dói em mim com esse olhar incisivo... dor estrangeira... ela é só cama e só é dor, alva representação de um corpo bem posto nos meus lençóis... ela é corpo e dor, é olhar temerário..."

(...)

As mãos me percebem; na face perseguem curvas que seguem pelo corpo. As mãos pecebem o vazio todo repleto de coisas. Elas não temem o óbvio ou a ruína. Os olhos veem coisas que nunca fui e injustamente acabei me tornando, a minha insônia crônica e os rasgos e feridas que guardo em mim, longe da superfície. Sabe disso tudo, pois consegue se ler em mim - somos próximos, somos noturnais.

O vento da madrugada faz meu corpo tremer, afagado por mãos que seguem a enlear-se em meus cabelos, pendendo minha cabeça para trás, esquentando-me a alma em firmeza, como num gole de consciência. A boca quase me rasga a carne - sentida fugacidade que tenta abrir-me de uma forma ou de outra, para ter para si mais diferenciações, variações de mim.

Eu, entre mãos que parecem me penetrar os músculos das pernas pendentes no limiar curvelíneo do corpo oposto, sou a dententora do excesso de vontade - da minha vontade, da outra vontade - dos limites e da falta deles. Retenho no meu paladar o tanino da tua língua, do vinho sentido, dos minutos de solidão anteriores a minha presença, antes do açoite púrpura das tuas digitais na minha pele sem palavras (...).

(quem sabe... continuará...)

____________________________

"A paixão deixa, depois de passar, um pesar obscuro de si própria e nos que lança ainda, enquanto desaparece, um olhar sedutor. É preciso que haja uma espécie de prazer em ser açoitado por ela. Os sentimentos medíocres parecem vazios em comparação; ao que parece, se ama ainda mais o desprazer violento que o prazer chato". (Nietzsche, Humano Demasiado Humano, p. 287, afor. 606)

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terça-feira, março 30, 2010 - 07:15

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Daisy_Lee82

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Comentários

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Re: A Melancolia do Escaravelho (fragmentos)

trata-se de um fragmento, pedaço de texto, excerto de um romance que está em vias de conclusão...

logo, obviamente não se completará a ideia aqui...

lancei apenas "uma amostra grátis" para a degustação daqueles que possuem por hábito a leitura descomprometida... independente dos efeitos que o que escrevo possa causar em quem lê...

mas é bom que se diga que há uma grande curiosidade da minha parte...

enfim, isso está aí para ser lido: amado ou detestado...

Obrigada pelos comentários!

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Re: A Melancolia do Escaravelho (fragmentos)

Fragmentos....
Pedaços de ti, espalhados na imensidão da alma, num todo em bruto á espera de ser reconstruido.
Um texto ( não um conto), mas um texto forte e apelativo, numa manobra de Auto conhecimento sobre ti, sobre teus receios, sobre todos aqueles momentos de algo que sempre faltava.
O Compromisso que assumes no inicio, "Tenho comigo este comprometimento: seguir o que meus pés desejam seguir e ser muitas e contraditória ", mantens ao longo de todo o texto, em passagens fantásticas como : "ela, a estranha, ali, um momento de dor, muitas noites de dor, na solitude de uma cama que era só minha... ela, aqui, na minha dor"
Ou pedaços de ti, dispersas como "As mãos me percebem; na face perseguem curvas que seguem pelo corpo. As mãos pecebem o vazio todo repleto de coisas. Elas não temem o óbvio ou a ruína"

Fragmentos que não chegam contudo para fechar o circulo, ou completar o Puzzle....Talvez a continuação o faça.

PS- Gostei imenso do titulo

Gostei bastante!

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