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O DOM DE AMAR

A juventude é cheia de expectativas, sonhos, cheia de amor. — Ou será o contrário? O amor é cheio de sonhos, expectativas e juventude, isso explicaria o fato dele não ter idade, ele rejuvenesce, e é o senhor de seu tempo, se o amor é elixir da vida, algo que é tão especulado desde os áureos tempos.

Por qual motivo muitas pessoas o ignoram?

Simplesmente não amam por medo, amar é tão prazeroso, o amor é incondicional, e mesmo sem ser correspondido traz as saudosas borboletas estomacais, o mesmo tremor,a mesma passividade. O amor surge de mil maneiras, platônicas, surpresas, renegado, exagerado, más surge e não há como fugir. Amar, simplesmente por amar e ser amor por todos os poros, ser sorrisos solitários e ávidos, esbanjar simpatia e benevolência, isso já é se recompensar pelo simples dom de amar.

Era o primeiro dia de aula, daquele que seria um ano angustiante, segundo ano do ensino médio, e a única coisa que se passava pela cabeça de Cristine era que, estava no momento de adquirir mais responsabilidades, a consciência de que sua realidade era outra, já não havia mais lugar para os namoricos com os rapazes, as aulas gazeadas, o mundinho paralelo, que ninguém de sua família conhecia, o mundinho onde a curiosidade da adolescência falava mais alto.
Lá ela bebeu todos os tipos de bebidas que podia experimentar, fumou cigarros e cada nova sensação experimentada, cada nova descoberta a fazia querer mais e mais, era como um bebê descobrindo um novo mundo.
Uma hora, essas coisas tão banais, tão distantes passam a fazer parte de seu convívio, afinal ela já se encontrava no auge de seus 18 anos e já não era uma criança, e todos reconheciam isto, e foi ai que a ficha caiu, já não se contentava mais com aquilo, queria ir além de seus limites, algo para se orgulhar, e entrou de cabeça em seu objetivo naquele ano, para sua surpresa, o professor de matemática, que por sinal era um chato e velho rabugento, teve que se afastar de suas funções por motivos de saúde, e logo chegou um novo professor para substitui-lo.
O primeiro dia do novo professor tinha tudo para ser mais um dia parasita em sua vida, afinal em sua concepção todos os professores que abdicavam de seu tempo para lecionar aquela disciplina, seriam chatos, incrivelmente irritantes e como se não bastasse velhos. Então lá estava ela, sentada, preparando-se, gostava de desenhar nas bordas de seu caderno, desenhos sem nenhum nexo, as vezes eram flores, corações, coqueiros, outras eram desenhos indecifráveis, totalmente sem condição de identificação, acredito que essa mania seja um resquício de sua infância, dizem que sempre levamos a criança que fomos dentro de nós, e com Cris não seria diferente.
De repente, abriu-se a porta, ela só escutava as vozes de suas colegas que falavam sobre os meninos do ultimo ano, e ela lá, concentrada em seu desenho embaraçoso, quando repentinamente se vira, e sente uma brisa bater em seu rosto, então enxerga ele deslizar em câmera lenta até a mesa de professor, que ficava bem a sua frente, ela olhava para seu novo professor de matemática, perplexa, imóvel, contemplando aquela figura, ele sentou-se, colocou sua mochila em cima da mesa e deu um belo sorriso e um longo suspiro, acredito que pensava que mais uma fase em sua vida se iniciava, aquele sorriso fez todos os órgãos de Cris gelarem, ela observou seus cabelos negros, seu rosto, e não acreditava, ele lindo, com uns vinte e sete anos, simpático, estonteante.
A brisa que bateu em seu rosto, provavelmente foi o amor, ele se apresentou, seu nome Eduardo, parecia musica aos ouvidos de Cris escutar aquele nome.
Daquele dia em diante ela passou a amar a matemática e principalmente, quem a lecionava, e notou que não era a única que ficou totalmente fascinada pelo professor, a chegada dele causou um verdadeiro frenesi entre as meninas com os hormônios a flor da pele, más havia uma diferença, entre o interesse de suas colegas e o seu, ela descobriria mais tarde que o que sentia era amor, e o amor faz toda a diferença. Passou a agir como tal, sentava-se na cadeira mais próxima e puxava várias assuntos com seu professor, sempre que tinha a oportunidade se aproximava dele nos intervalos das aulas e logo tornaram-se amigos, ela lhe escutava, sempre atenciosa, sempre fiel, e ele falava sobre suas peripécias, sobre suas angústias, suas tristezas.
Certo dia ele confidenciou a Cris que estava apaixonado por uma garota e que estava pensando em namorar com ela, pois já tinha algo acontecendo entre os dois, e Cris, mesmo com o coração na mão, más sempre sensata em seu amor, aconselhou-lhe a pedir a tal menina em namoro, para Cris o que importava era a Felicidade de Eduardo. O tal namoro não chegou a acontecer e algum tempo depois o seu amado professor se afastou da escola por motivos inexplicáveis, o amor foi torturado no peito de Cris, judiado, e Cris ficou na expectativa, falava para si mesma;
— Como seria?
— Será que teria uma chance?
Cris manteve seu caminho, terminou todo seu processo estudantil, começou a trabalhar, e partiu para a faculdade, más nunca esqueceu seu amado Eduardo, já havia dois anos que que não via e nem ouvia falar de Eduardo, más o amor ainda a consumia, e a dominava, e certo dia Cris teve uma grande surpresa, encontrou o seu amado Eduardo em uma rua, na qual caminhava sem rumo, foi como um chamado do destino, eles estavam ligados, predestinados e por mais que houvesse distância, algo atraía um ao outro, trocaram um grande abraço e prometeram manter contato, ao vê-lo ali, ela teve a certeza de que nem a distância, nem o tempo apagou o que havia brotado em seu coração, pois somente o amor a realizava, um sentimento sem fronteiras e ela se orgulhava de possuir um sentimento tão nobre em seu coração.

Desde o encontro ao acaso, cumpriram o prometido e nunca mais perderam contato, falavam-se todos os dias, Cris revelou seu amor, sem desejar nada em troca e ele disse que também sentia algo especial por ela, não tão forte, más verdadeiro, ela se contentou apenas com isso, acreditando que o amor se constrói com o tempo, como o dela que foi alimentado mesmo a distância, pois para ela a maior recompensa é ama-lo, uma auto afirmação de seu dom.

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segunda-feira, março 30, 2009 - 23:53

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PolianaRodrigues

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Re: O DOM DE AMAR

"As belezas e as fealdades tornam-se mais evidentes, quando postas umas na frente das outras."
(Leonardo da Vinci)

...belo texto...o amor e o acaso! Abraços

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