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O SÍTIO

Eu me sentia com uma estranha sensação, uma vontade de mim, algo pedia uma auto-análise, para saber até onde exatamente eu me conhecia.

Nesta manhã fria e chuvosa vim para este sítio, este local raramente usado, pertence a um casal amigo e quando revelei minha vontade de passar um período reclusa, ofereceram-me o lugar que caiu como uma luva.

E agora, aqui neste ambiente afastado de toda adrenalina e rotina da civilização, sinto-me inquieta, o sítio de meus estimados amigos é um lugar bastante acolhedor, e com o passar das horas observo também o seu aspecto sombrio, sua decoração rústica, seus quadros com rostos desconhecidos, figuras com olhos inquiridores que despertam um certo pavor em mim.

Isto se agravava ao anoitecer, quando a pouca iluminação das velas dominam o ambiente nebuloso, os olhos daqueles quadros me fitavam, aumentando minha vontade de tira-los da parede e esconde-los enquanto durasse minha permanência ali, más contive-me e comecei a degustar uma taça de vinho perdida em pensamentos desalinhados. De repente ouvi passos, assustei-me pois estava a quilômetros de distância da civilização, o que se sucedeu a seguir foi algo inexplicável.

Uma figura que eu nunca tinha visto antes, veio caminhando na minha direção, eu fiquei estarrecida pois havia trancado todas as portas e janelas. A minha visitante inesperada sentou-se na poltrona posicionada a minha frente e com um desdém impressionante me olhou.
Eu continuei paralisada, observando os traços irônicos que se formavam no rosto de minha visitante, ela tinha um olhar penetrante, era muita pálida e sem dúvida era uma visão assustadora.
Cogitei que fosse uma assombração, más afastei esse pensamento, temendo ser real, abaixei a cabeça e olhei para minhas mãos tremulas e de imediato veio uma reação; — Não me reconheces? Afinal há tanto tempo assim não me vês?— Disse a figura irritada. Observei minha visitante novamente, tentando lembrar se já a conhecia.
Ela iniciou uma sonora gargalhada, levantando-se da poltrona e caminhando em minha direção, sua fisionomia modificava-se a cada passo, perplexa me vi diante de meu próprio reflexo, e descobri que eu era minha algoz.

Pobre menina indefesa, sem vida, sem atitude, ou retorná a vida ou te arrasto para um poço de lamúria e dor, onde desfalecerás aos poucos.— ela dizia quase penetrando por mim, através de meus olhos encharcados de lágrimas.

Os quadros ganharam vida e repetiam tudo que a intrusa falava, como ecos sombrios, eu estava em panico, com toda aquela imagem inacreditável e surreal, caí, ouvindo somente os ecos do além.
Na manhã seguinte seguinte acordei no sofá, e preferi acreditar que tudo não passará de um pesadelo, porém não me atrevi a continuar no sítio, voltei correndo para os braços da civilização e para minha rotina ciente de que um encontro comigo mesma é algo tão assustador, o meu pior pesadelo.
A verdade neste caso é inaudível e me aterroriza, continuo aqui definhando esporadicamente, as vozes do além ainda me assombram, como se eu nunca tivesse saído do sítio e por minha vez, eu ainda me sinto lá.

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sexta-feira, setembro 4, 2009 - 00:44

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PolianaRodrigues

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