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Os longos vales da morte

No silencio. Na escuridão, os seus passos era lentos, muito lentos. Não existia qualquer som, nem o arrastar da sua túnica a rasar o chão. O silencio era eterno. O seu deambulatório infinito das noites infinitas era habitado por almas, por deuses, por fechos de luz negra que não se podia ver na escuridão. O seu mundo era pás de terra a cobrir o caixão com o seu corpo lá dentro. Ela estava morta, como sempre estivera.
Numa hora indistinta das outras, na qual, se existe-se luz seria uma alvorada, ela caminhou nos seus passos lentos por entre os trilhos da sua negra solidão. As suas mãos tocavam as superfícies rugosas das árvores mortas no seu jardim obscuro. Arrastava os seus pés nos picos das rosas mortas espalhadas no chão. As sua existência não fazia qualquer sentido. A noite eterna. As sombras mais escuras que a noite. A sua sombra mais escura que todas as sombras e que todos os Invernos e noites da sua alma despedaçada como um espelho quebrado.
Ela percorria o espaço escuro para recolher a sua alma, a sua alma espalhada como um espelho quebrado, só assim encontraria uma saída da escuridão. A sua busca seria eterna. Ficaria para todo o sempre naquele espaço sem conhecer a luz novamente.
As horas, os dias, os meses e talvez os anos passaram sempre iguais e ela sabia que faltava muito pouco para reconstruir a sua alma e finalmente poder sair daquele labirinto indecifrável e escuro que tinha vivido nos últimos instantes eternos sempre iguais. Ao encontrar o ultimo pedaço de alma, mesmo antes de o segurar nas suas mãos finas e fracas, um raio de luz trespassou a escuridão, primeiro eram pequenos pontos de luz, depois um fino raio e por fim transformou-se num fecho denso de luz brilhante e suave. Ela deteve-se a olhar, não para o fecho de luz mas para o seu labirinto iluminado pela primeira vez desde a sua existência.
As árvores não estavam mortas. As rosas não estavam espalhadas no chão. Ao longe via-se os longos vales infinitos de um verde vivo, uma fonte de água escorria silenciosamente por entre as pedras. Havia edifícios em ruínas, templos eternos da existência daquele lugar. O escárnio da natureza pela luz era uma Primavera. Aquilo era um paraíso que estivera na escuridão até ela encontrar, na totalidade a sua alma. Ela era a salvação daquele paraíso. Quando deixou de vislumbrar aquele lugar, desviou o seu olhar para o fecho de luz e dele nasceu um homem com aparência de um Deus, de um herói grego. Finalmente ela descobria o amor na unificação da sua alma. Abraçaram-se e deixaram-se ficar assim durante muito tempo, até saberem que os seus corpos pertenciam-se mutuamente. Eles amaram-se nos braços um do outro. Quando ele já sabia que tinha o seu amor. Quando ela sabia que tinha o seu amor atirou a sua alma para o paraíso. Ela amava-o, queria ficar com ele eternamente naquele paraíso. Nesse momento a luz começou a enfraquecer ate se apagar e deixar o paraíso novamente na escuridão. Ela continuou agarrada ao homem. O homem continuou agarrado a ela, nos seus braços sentia o seu corpo e o seu calor escasso. Ela sentia o calor do corpo do homem a desaparecer, os seus braços a ficarem cada vez mais fracos o seu coração a deixar de bater.
Ela segurava agora um morto nos seus braços. Sentia o amor cada vez maior dentro do seu peito, a salvação. O retomar da noite eterna, da escuridão e agora, da solidão acompanhada de um cadáver. A sua alma estava novamente espalhada pelos longos vales da morte.

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sexta-feira, agosto 29, 2008 - 15:17

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Texto bem escrito, bem enquadrado no tema!

:-)

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